MANAUS, AM – “A leitura engrandece a alma” afirma escritor francês Voltaire. Entretanto, ler livros no século XXI é uma tarefa difícil. Além disso, a sociedade vive em uma correria eterna contra o tempo e isso faz com que o ato acabe sendo deixado de lado. Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, nos últimos anos, o país perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores e um dos fatores que vem influenciando essa diminuição são as redes sociais. Ler para obter conhecimento é extremamente importante.
As pessoas, hoje, têm passado mais tempo nas mídias e menos tempo lendo. Uma ferramenta que deveria agregar e incentivar mais leitura e conhecimento acabou se tornando um problema. Sabendo disso, o Portal AM1 decidiu dar dicas de obras que, além de incentivarem o ato da leitura, trazem conteúdos de cunho indígena.
A temática indígena em livros
A visão que as pessoas têm sobre a cultura indígena acaba sendo o que aprendem em sala de aula. O conceito de seres isolados e até mesmo selvagens ainda é a visão que muitos brasileiros possuem sobre esses povos, porque tal ótica é limitada e, por vezes, os próprio brasileiros desconhecem a própria cultura.
Livros de história mostram os povos indígenas ainda na visão do homem colonizador, entretanto, deve-se buscar saber sobre a cultura indígena e o povos indo direto na fonte: os indígenas.
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Muitos livros, inclusive, escritos por eles, mostram a verdadeira realidade. E, pensando em proporcionar um olhar diferente, que foram reunidas algumas obras para que a sociedade entenda mais sobre os povos que habitavam o Brasil muito antes da colonização e tem muito para contar.
Brilhos na Floresta
Lançado pela Editora Valer, este é considerado uma das obras mais importantes porque, além de sua versão em português, a obra foi traduzida para o japonês, inglês e nheengatu (idioma indígena).
O livro é uma ficção baseada em um registro do “diário de campo”. Ele tem como tema a emoção de um grupo de pesquisadores que pela primeira vez, veem, na escuridão da floresta amazônica, fungos bioluminescentes.
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Os personagens e escritores da obra são: Noemia Kazue Ishikawa, bióloga, pesquisadora do Instituto Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia-Inpa; Takehide Ikeda de origem japonesa, pesquisador de cores dos seres vivos, do Centro de Pesquisa de Vidas Selvagens, Universidade de Kyoto/Japão; Aldevan Baniwa, indígena, agente de combate às endemias, Fundação de Vigilância em Saúde, Manaus/Brasil, Carla Bruno, antropóloga, linguista, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia-Inpa e o Senhor Aluísio, produtor rural, conhecedor da fauna e floresta amazônica.
Brilhos da Floresta é uma obra que tem como objetivo incentivar leitores de todas as idades sobre a importância da preservação e pode despertar a busca pelo conhecimento científico em crianças e adolescentes.
Bayá, Kumu e Yaí – Os pilares da identidade indígena do Uaupés
Mais uma obra escrita por um indígena, Bayá, Kumu e Yaí – Os pilares da identidade indígena do Uaupés – é um livro de Põrõ Israel Fontes Dutra, e filho de Yuhkuro Avelino Dutra, um dos últimos líderes espirituais do Rio Negro.
Põrõ busca trazer em seu livro os campos da filosofia, antropologia, mitologia, história, história das religiões, educação e educação indígena. Em suma, ele usa uma narrativa dos povos antigos. O autor conta a história dos Tuyuka, os pilares que sustentam a cultura e a vida dos índios que habitam o Rio Negro.
Yahi Puiro ki’ti – Origem da constelação da Garça
Escrito por Jaime Diakara, indígena dos povos Dessana do grupo Wari Diputiro Porã, o Yahi Puiro ki’ti – Origem da constelação da Garça é uma obra que explica a presença Dessana no universo. Além disso, traz uma teoria para a origem do homem e uma bela compreensão da origem de um elemento do espaço sideral.
Esse livro faz parte da edição Nheengatu, que pretende trazer para as crianças e adolescentes o conhecimento dos povos indígenas da Amazônia.
Maraguápéyára
Publicado em 2014, o Maraguápéyára é um livro de Yaguare Yama, Elias Yaguakãg, Uziel Guaynê, Roní Wasiry Guará. Os autores mostram que a obra é o primeiro documento escrito sobre a vida dos povos Maraguá. Durante a leitura, eles possibilitam que o leitor conheça a a história e o território.
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Além disso, os autores abordam o cotidiano: a caça, o plantio, a pesca, a alimentação, os clãs, a religião, os ritos, os casamentos e as lendas, bem como o esporte e as brincadeiras.
Maraguápéyára é uma ótima opção de leitura para aqueles que querem conhecer mais sobre a vida dos povos indígenas da Amazônia.
Canumã – A travessia
Primeira obra romântica escrita por um indígena do povo Munduruku. “Canumã – A travessia” é um livro de Ytanajé Cardoso. O livro com linguagem envolvente e narração estruturada, retrata o momento delicado em que vive o seu povo. A narrativa enfatiza o papel dos anciãos, a ameaça do desaparecimento da Língua Munduruku, com a morte dos mais velhos, e a vida na comunidade.
Ytanajé traz para o leitor, em uma linguagem simples, tanto divertida quanto trágica, o conhecimento da cultura, o dia a dia, as relações de amor, de amizade e da infância. Os mundurukus habitam o rio Canumã, na região de Borba (AM).
Çaiçú Indé – O primeiro grande amor do mundo
Roni Wasary Guará, escritora e indígena. “Çaiçú Indé – O primeiro grande amor do mundo” é uma obra infantojuvenil com narrativas que, ainda hoje, na era das tecnologias e das comunicações, norteiam o povo Maraguá. Os que ainda vivem nas aldeias e também aqueles que, mesmo vivendo em outra cultura, ainda necessitam dos mitos para orientações. Em conclusão, é uma narrativa rica em conteúdo e com muitas lições.
Poranduba Amazonense
Apesar de não ter sido escrita ou readaptada por um autor indígena, Poranduba Amazonense é uma das obras mais importantes quando se fala de mitos e lendas amazônicos. Tendo sua primeira edição escrita pelo naturalista e botânico, João Barbosa Rodrigues, a obra reuni mitos e lendas que foram coletados pelo autor no século XIX, quando João Barbosa veio a Manaus a pedido da Princesa Isabel em 1883.
João acabou se encantando com os mitos que os indígenas contavam na língua materna, o Nheengatu e depois traduziu para a língua portuguesa. Anos mais tarde, o escritor amazonense Tenório Telles decidiu resgatar a obra e a lançou, mais uma vez, no século XXI, com linguagem atualizada.
Poranduba Amazonense traz os mitos e as lendas como elas são, da forma que os indígenas contavam e como gostariam que as pessoas soubessem.
A leitura é um hábito que nunca deve ser perdido. Ler e obter conhecimento sobre a história dos povos indígenas traz, além de conhecimento, valorização e respeito aos primeiros habitantes do Brasil.
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