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Política

CPI: Senadores dizem que e-mails da Pfizer confirmam omissão do governo federal

De 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, quando o laboratório americano mandou carta ao Brasil, foram ao menos dez emails enviados cobrando resposta formal do governo sobre a oferta

CPI: Senadores dizem que e-mails da Pfizer confirmam omissão do governo federal

(Foto: Kevin David/A7 Press/Folhapress)

BRASÍLIA, DF – Senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid, formado por independentes e oposição, consideram que os emails enviados pela Pfizer comprovam a omissão do governo Jair Bolsonaro nas tratativas para comprar vacinas contra a Covid-19.

O lado governista da comissão, por sua vez, considera que essas comunicações fazem parte de um esforço para se criar uma narrativa falsa contra o governo federal.

Leia mais: CPI articula grupo de técnicos para detectar mentiras na comissão

A Reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que emails enviados pela Pfizer ao Ministério da Saúde, entregues à CPI em caráter de sigilo, evidenciam a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo Bolsonaro, ao mesmo tempo que deixam clara a ausência de respostas conclusivas às propostas apresentadas pela empresa.

De 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, quando o presidente mundial do laboratório americano mandou carta ao Brasil, foram ao menos dez emails enviados pela farmacêutica discutindo e cobrando resposta formal do governo sobre a oferta apresentada.

A ausência de respostas para a compra de vacinas pela Pfizer se tornou um dos temas centrais da CPI, principalmente após depoimento do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngerten, na semana passada.
Wajngarten disse à comissão que iniciou tratativas com a Pfizer após constatar que as propostas para a venda de vacinas da empresa ficaram quase dois meses sem resposta do governo.

A fala foi corroborada com a oitiva seguinte, do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.
Para senadores do grupo majoritário da CPI, os emails da Pfizer deixam claro que o governo buscava combater a pandemia com métodos alternativos, que não passavam pela vacina.

O também integrante da CPI e médico de formação Otto Alencar (PSD-BA) compartilha a visão do vice-presidente da comissão. “Esses emails comprovam o que desconfiávamos, que o governo Bolsonaro postergou a compra de vacinas, porque tinha a falsa crença de que a hidroxicloroquina e a imunidade de rebanho iriam funcionar no enfrentamento à pandemia”, afirmou o senador.

Alencar afirma que as investigações certamente vão revelar novos fatos e informações nessa direção, de omissão na compra de vacinas. “Vacina nunca foi prioridade. Bolsonaro foi muito franco com isso, tanto que no fim do ano passado ele disse que o vírus ia embora e que não iria comprar vacina”, completou o senador.

Os emails enviados pela Pfizer devem abrir uma linha de investigação. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirma que as mensagens deixam claro que as negociações não foram levadas adiante de uma maneira diligente.
“Eles mostram que a negociação foi, na melhor das hipóteses, amadora e lenta”, afirmou.
O lado governista da CPI, por outro lado, desdenha das informações contidas nos emails e afirma que se trata de uma tentativa de criar uma narrativa para atingir diretamente Bolsonaro.

CRONOLOGIA DOS EMAILS ENTRE PFIZER E MINISTÉRIO DA SAÚDE

31 de julho de 2020
Pfizer pede audiência urgente com a pasta. País registrava cerca de 92,5 mil mortes

4 de agosto de 2020
Ministério confirma reunião para dia 6 de agosto

8 de agosto de 2020
País ultrapassa marca ​ de 100 mil mortos por Covid-19

14 de agosto de 2020
Empresa envia a proposta formal para fornecimento de futura vacina. Previsão era de 70 milhões de doses, acima das 30 milhões discutidas anteriormente

17 de agosto
Envia um email a técnicos da Saúde um link para acessar documentos com informações sobre a vacina e a proposta. Envia um segundo email a técnicos da Economia informando sobre a proposta que havia sido feita.

18 de agosto de 2020
​Pfizer afirma que consegue antecipar 1 milhão de doses para entrega em ainda 2020, após aval da Anvisa. Email reforça que a validade da proposta era 29 de agosto e pede urgência para resposta

19, 21, 25 e 26 de agosto de 2020
Pfizer faz contato telefônico e eletrônico e pede uma posição do ministério. Envia proposta com revisão no cronograma e entrega de doses

29 de agosto de 2020
​Data limite da primeira oferta. Não há documento entregue pela Pfizer à CPI referente a este dia. Mortes por Covid-19 passam de 120 mil

2, 12 e 15 de setembro de 2020
Pfizer faz novo contato com ministério e se coloca à disposição para reunião sobre o andamento dos estudos da vacina. No período, presidente mundial da Pfizer encaminha mensagem a Bolsonaro e Pazuello. Empresa diz que fechou acordo com os Estados Unidos e reforma que celeridade é crucial, pois há número limitado de doses em 2020. Email enviado ao presidente Bolsonaro e ministros é encaminhado a integrantes do Ministério da Saúde

14 de outubro de 2020
Número de mortes já passava de 150 mil no país. Empresa envia dados ao Programa Nacional de Imunizações

27 de outubro de 2020
Reunião entre Pfizer e governo para retomar as negociações

​10 de novembro de 2020
Pfizer tem reunião com Bolsonaro, Guedes e Wajngarten. Foi reapresentada a proposta de 70 milhões de doses, com um mínimo a ser adquirido no primeiro semestre e o restante no segundo semestre. Empresa reforça que contrato será efetivado somenta após aval da Anvisa, “sem qualquer risco/prejuízo financeiro ao país caso nossa vacina não receba o registro”

13 de novembro de 2020
Número de mortes chega a quase 165 mil. Ministério confirma reunião com a empresa para 17 de novembro

​Dia 24 de novembro de 2020
Pfizer manda termos atualizados do acordo. Validade da proposta é 7 de dezembro. Depois disso, doses serão distribuídas a outros países

​2 e 3 de dezembro de 2020
Empresa tenta contato telefônico e eletrônico, relata ter deixado inúmeras mensagens, mas não obteve a resposta

4 de dezembro de 2020
Ministério enviar uma contraproposta à empresa

6 e 9 de dezembro de 2020
Pfizer pede reunião para discutir contraproposta e mostra que memorando de entendimento depende de medida provisória do governo, ainda a ser editada

​10 de dezembro de 2020
Ministério fecha memorando de entendimento com a Pfizer. ​Brasil chega perto de 180 mil mortes.

 

 

*Com informações da Folhapress