Manaus, 3 de julho de 2024
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Cidades

Cresce número de mulheres que não querem ter filhos

Esta escolha, muitas vezes, exige coragem, pois essas mulheres podem enfrentar críticas e incompreensões por parte da sociedade.

Cresce número de mulheres que não querem ter filhos

(Fotos: Acervo Pessoal)

Manaus (AM) – Conciliar maternidade e carreira não é fácil; por isso, cada vez mais, as mulheres estão optando por não viver a maternidade ou simplesmente adiar. E essa decisão de não ter filhos está intimamente ligada à busca por autonomia e autenticidade. Esta escolha, muitas vezes, exige coragem, pois elas podem enfrentar críticas e incompreensões da sociedade.

As mulheres, atualmente, desejam viver vidas que reflitam seus verdadeiros desejos e interesses, em vez de se conformarem com as expectativas sociais ou familiares.

Decisão

A consultora de RH, Edne Ramos, tem 31 anos. Casada há seis anos, conversou com o marido e optaram por não ter filhos. Ambos preferem focar em suas carreiras e pela liberdade de poder viajar e conhecer o mundo afora.

“A minha opção por não viver a maternidade se dá pela prioridade na minha profissão. Tenho metas pessoais e acredito que um filho vai exigir uma atenção e uma responsabilidade que sinto não estar preparada”, expõe Edne.

Edne diz que gosta muito de criança, mas a ideia de ser mãe não combina com o estilo de vida que escolheu.

“Eu gosto da minha liberdade de ir e vir, viajar, coisas que se tornam mais difíceis com a maternidade. Sempre me falam que vou mudar de ideia, mas a verdade é que eu não consigo me ver sendo mãe”.

‘Cobranças’

Assim como a maioria das mulheres, Edne diz que os familiares sempre a “cobram”, para ser mãe. “Não tenho essa intenção, e a minha família me cobra filhos. Mas percebo que não é uma realidade somente minha, 80% das minhas amigas com a mesma faixa etária ainda não são mães. E isso se dá por várias razões, e não necessariamente significa que mais para frente não podem desejar”, conta.

Edne e o marido durante uma viagem em Londres.

Edne conta com a compreensão do esposo dela, que também não deseja ser pai. “Ele me apoia super, ele também acredita que as nossas energias têm que estar voltadas para nossos projetos profissionais e pessoais”, revela Edne, ao dizer que o marido dela é coordenador de compras.

‘Não queria aquela vida para mim’

“Desde os meus 20 anos, eu já tinha certeza de que não queria ser mãe. Sou de uma família grande, de muitos filhos, e vi que as mulheres na minha família tinham muita dificuldade por conta dos filhos”, conta a jornalista Maiara Batalha.

Nascida no interior do Pará, viu as dificuldades que a mãe, tias e primas eram submetidas. Por terem filhos jovens, estavam constantemente ocupadas em tarefas domésticas, e totalmente dependentes financeiramente dos maridos, pois sem ter com quem deixar os pequenos, não podiam trabalhar fora e viviam submissas àquele relacionamento, que na concepção de Maiara, não fazia muito sentido para ela.

“Para cuidar dos filhos, elas não podiam trabalhar fora e isso gerava uma dependência econômica da qual tive certeza que não era a realidade que eu queria viver. Aliás, decidi, ali, que queria viver uma nova realidade, sair daquele ciclo que eu vivia”, explica Maiara.

Já na capital do Amazonas, casada e com estabilidade tanto na vida pessoal, como na financeira e na carreira, e nos auges dos 30 anos, Maiara diz que a maior certeza que ela tem na vida é a de poder viver livre e independente. “Eu ainda tenho muitos sonhos para realizar e neles não cabem filhos. Quero empreender, viajar e alavancar minha vida profissional, sem ter que me prender a filhos. Gosto de ser quem sou”.

A profissional de Comunicação disse que não tem o menor desejo de ser mãe, e que está bem feliz com a vida que leva ao lado do marido, que também não deseja ter filhos.

Adiou e desistiu de vez

A também jornalista Vanessa Marques disse que, primeiro, queria se realizar profissionalmente e até pensava que um dia, talvez, pudesse ser mãe.

Mas o tempo foi passando e quando se percebeu já estava com 40 anos.

“Na verdade, não foi totalmente voluntário. Até os 30 anos eu dizia ‘não’. Eu não quero ter filhos. Depois, agora, com 43 anos, acredito, que é mais complicado para tê-los”, disse Vanessa, que acredita estar muito madura, e que a gravidez passa a ser um risco.

“Não tenho mais tanta saúde física para uma gestação de alto risco. Por que eu vou colocar a mim mesma e a vida de um bebê em risco?”.

Vanessa disse que o namorado tem a mesma idade dela e compartilha da mesma ideia.

“A gente já conversou sobre isso, nessa questão de ser um risco. E tá tudo certo entre a gente; apesar de o sonho dele sempre ter em mente que ele queria ser pai. Então, a gente já conversou. Talvez, existe a opção da adoção, mas é algo que tem que ser muito bem pensado e muito bem planejado”, pontua Vanessa, que disse que ama ser titia das duas sobrinhas que tem.

Sara e Helena, sobrinhas de Vanessa. (Acervo pessoal)

Vanessa conta que as sobrinhas a veem como tia, “a tia mesmo, aquela de quem elas pedem coisas e eu dou. Elas me chamam para brincar e nos divertimos muito”.

Depois dos 40

Uma pesquisa divulgada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Estatísticos (Seade) aponta que o número de gestantes com mais de 40 anos cresceu 64% entre os anos de 2010 e 2022.

 

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