Manaus, 16 de junho de 2024
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Cenário

David Almeida, um prefeito praticamente sem oposição na Câmara de Manaus

Os vereadores quase nunca se opõem a David Almeida no plenário da CMM e muitas propostas são votadas em regime de urgência pela Casa

David Almeida, um prefeito praticamente sem oposição na Câmara de Manaus

Foto divulgação

MANAUS, AM – Eleitos para legislar em favor do povo e fiscalizar atos do Poder Executivo, os vereadores de Manaus, principalmente os de oposição ao prefeito David Almeida (Avante), hoje são em sua maioria aliados.

Com decretos de calamidade pública por conta da pandemia da Covid-19 e da cheia do rio Negro, o prefeito de Manaus tem feito muitas compras com dispensa de licitação e o tema da necessidade dessas compras não chega à discussão na Câmara Municipal de Manaus (CMM), nem pelos vereadores da base aliada e nem pela oposição que se cala repetidamente.

Feira alagada no bairro do Puraquequara

Ser oposição, não significa apenas se opor a uma ideia ou pensamento, vai muito além de questionar. Uma boa oposição na política deve ser propositiva para o bem comum da sociedade, deve vir acompanhada de ações que fiscalizem os governos e se o dinheiro público está sendo bem empregado.

Em Manaus não é diferente de outras cidades do país. Em sua maioria, os parlamentares mesmo sendo de partido contrário à situação, como é chamado quem apoia quem está no poder, ainda assim apoiam o atual prefeito e até participam de eventos em que ele está presente. Enquanto a população sofre com alagação, falta de saneamento básico, asfalto e outros problemas recorrentes da cidade de Manaus.

Entre os vereadores eleitos como oposição na última eleição e que seus partidos não apoiaram Almeida, estão: Sassá da Construção do Partido dos Trabalhadores (PT), William Alemão (Cidadania), Raulzinho e Rosivaldo Cordovil do PSDB, Marcel Alexandre, Jacqueline Pinheiro e Amom Mandel do Podemos, um dos únicos a se posicionar contra David na CMM.

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Papéis invertidos

Para o analista político Carlos Santiago, os vereadores estão invertendo seus papeis como legítimos fiscalizadores dos atos do Poder Executivo a de líderes de bairros.

“Muitos vereadores foram eleitos com discurso de oposição e num partido de oposição, mas agora, depois de eleitos, agem como líderes de bairros, como feitores de obras e porta-vozes de grupos sociais que precisam do Poder Executivo, por conta disso, não cobram o prefeito, fazem só elogios. Quem perde é a cidade que deixa de ter fiscalizadores da boa aplicação do dinheiro público”, comenta o analista.

Santiago complementa sua fala afirmando que a atual legislatura é uma das piores na história do Parlamento Municipal e que os vereadores deixam de fiscalizar as ações e se rendem por completo à David Almeida e seu secretariado.

Carlos Santiago comenta sobre comportamento de vereadores em favor de David Almeida
Carlos Santiago é sociólogo e analista político

“A atual legislatura da Câmara de Manaus vai se consolidando como a pior representação política da história da cidade. Embora, com benefícios financeiros dos cargos que ocupam e atribuições Constitucionais para fiscalizar o Poder Executivo, os vereadores de Manaus preferem apoiar sem críticas o prefeito David Almeida e os secretários, deixando sem investigação o caso dos fura-filas da vacinação, as compras sem licitação, os milhões de reais repassados às empresas de ônibus e os impactos da cheia na vida população e do comércio da área central da cidade”, complementa Carlos Santiago.

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Relação prostituída

O sociólogo Luiz Antônio Nascimento comentou que há algumas implicações que corroboram para que não haja uma oposição dos vereadores, o que acaba que ocorre uma subordinação aos feitos do prefeito da cidade.

“Esses vereadores se elegem numa perspectiva de síndico de condomínio ou de bairros e eles prometem o que não podem cumprir e entram numa situação que têm que está subordinados ao gabinete do prefeito para fazer troca de favores. O prefeito atende uma reinvindicação do vereador para tapar um buraco, resolver um problema na escola ou empregar “fulano e ciclano” [SIC] , em contrapartida o vereador vota no prefeito e nas suas agendas ou na melhor das hipóteses, fica em silêncio”, explica Luiz Antônio.

Nascimento disse ainda que essa forma do “toma-lá-dá-cá” é uma relação prostituída. “Óbvio que isso prostitui a relação parlamentar, isso vulgariza a relação e mostra para sociedade que seus representantes não tem nenhum compromisso ético e moral com o eleitor. Ele tem um compromisso econômico com o prefeito de ocasião, seja ele quem for”, afirma o sociólogo.

Luiz Antônio analisou a falta de oposição dos vereadores
Luiz Antônio Nascimento é sociólogo e professor na UFAM

“O problema também tem outra face que é o perfil desse eleitor. Esse eleitor também quer também quer levar vantagem nesse processo por isso que é uma relação prostituída, porque na prostituição as duas partes devem levar vantagem, as duas devem sair ganhando. Um vereador de oposição não ganha nada”, finaliza Luiz, explicando que o eleitor também contribui nessa relação quando busca obter benefício próprio com os parlamentares.

O Portal AM1 tentou contato, por meio de mensagem de aplicativo, com três parlamentares eleitos em partidos oposicionistas ao de David Almeida para comentarem sobre essa questão dos contratos e da necessidade dos manauaras, entre eles Sassá, Amom e William Alemão, todavia, não obtivemos retorno.