Manaus, 3 de maio de 2024
×
Manaus, 3 de maio de 2024

Economia

Debate: Zona Franca turbina lucros e empregos, mas Amazonas precisa de modelo alternativo

Criada em 1967, a ZFM tem trazido desenvolvimento econômico para o Amazonas, mas os desafios para o futuro são grandes

Debate: Zona Franca turbina lucros e empregos, mas Amazonas precisa de modelo alternativo

Foto: Divulgação Suframa/Salcomp

MANAUS, AM – Quando se fala em Zona Franca de Manaus, imediatamente vem à mente desenvolvimento econômico. Afinal, o modelo foi o principal responsável por fazer o Amazonas saltar de uma economia agrícola, estancada no tempo, para uma das maiores forças industriais do Brasil, gerando emprego e renda para os amazonenses e fazendo o milagre de manter a floresta em pé.

Os números comprovam o benefício: entre janeiro e novembro de 2021, o Polo Industrial de Manaus (PIM) faturou mais de R$ 145 bilhões, gerando uma abertura de pouco mais de 100 mil postos de trabalho no ano. Surpreende mais saber que a cifra foi alcançada no segundo ano de pandemia, quando no começo do ano, o Amazonas viveu uma das mais graves crises sanitárias de sua história, com lockdowns e até mesmo a paralisação da indústria nos primeiros meses do ano. Nesse período, a Zona Franca também sofreu, com o desabastecimento de insumos e a interrupção temporária da produção.

De acordo com o superintendente da Zona Franca de Manaus, general Algacir Polsin, os bons resultados do Polo Industrial se devem à força da indústria em atender a demanda nacional aquecida. Segundo ele, atingir números recordes em um ano desafiador como foi 2021 mostra a “resiliência e capacidade de superação do modelo Zona Franca”.

PIM poderá sofrer queda com avanços de casos da covid-19
Foto: Reprodução

Leia mais: PIM registra recorde de faturamento e ultrapassa R$ 145 bilhões em lucros

O economista Francisco Mourão Júnior também credita o bom desempenho do PIM ao comportamento do consumidor, mesmo apesar dos juros e do índice inflacionário alto: 10,06% no ano inteiro. Segundo Mourão, que já foi presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), as compras pela internet ajudaram no alto faturamento do Polo durante o segundo ano da pandemia.

“De repente, enquanto esse consumidor estava em casa, em lockdown, percebeu que a sua televisão era pequena e quis trocar. Por causa disso, começou a consumir produtos que são produzidos no nosso Polo Industrial de Manaus. E assim aconteceu em todo esse período. Apesar dos dados macroeconômicos não terem sido favoráveis, o consumidor, mesmo assim, respondeu à demanda e fez sinais positivos em um momento crucial para a economia”, salientou.

Novas tecnologias

Calcada no pilar do desenvolvimento sustentável, e mesmo já tendo trazido desenvolvimento econômico para o Amazonas, a Zona Franca de Manaus tem data certa para acabar: 2073. E é neste sentido que, mesmo que a data de finalização pareça longe, se precisa buscar desesperadamente um modelo que faça a mesma coisa que a Suframa fez desde 1967: entregue desenvolvimento econômico, gere emprego e renda, e mantenha a floresta em pé.

Francisco Mourão Júnior corrobora a afirmação. Segundo ele, é preciso continuamente buscar alternativas para que o Amazonas não fique dependente da Zona Franca. “O modelo Zona Franca de Manaus já mostrou a sua eficiência para o Brasil e o mundo. Só que ele tem data para acabar”, pontua.

O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) é uma dessas alternativas. Criado em 2002 e construído em uma área de 12 mil m² no Distrito Industrial, nas proximidades do Hospital Adventista de Manaus (HAM), o Centro congrega pesquisas na área de desenvolvimento sustentável, incubando e desenvolvendo iniciativas socioeconômicas para a sua implantação, com vistas ao desenvolvimento da região. Segundo o general Algacir Polsin, o CBA, que é administrado pela Suframa, é um dos principais atores que poderão viabilizar o desenvolvimento sustentável a médio e longo prazo.

Sede do CBA, no Distrito Industrial. Foto: Reprodução/Suframa

“O CBA tem capacidade para trabalhar com ativos da biodiversidade amazônica, com potencial de fomentar a bioeconomia em larga escala na região. A principal meta para 2022 é definir a personalidade jurídica e o novo modelo de negócios do CBA. Os estudos para isso já estão na fase avançada dentro do Ministério da Economia”, pontuou.

Algacir Polsin

Futuro

A pandemia de covid-19 trouxe incertezas para a economia mundial, e mesmo com um crescimento recorde em 2021, com a Zona Franca de Manaus e o PIM não foi diferente. Sede de empresas multinacionais, Manaus também sofreu com um alto índice de demissões no Polo Industrial. As demissões caíram, novos postos de trabalho foram criados, mas ainda assim, há risco e insegurança, principalmente para o futuro.

2073 ainda está longe, mas os desafios precisam ser superados agora. A proposta de reforma tributária apresentada ainda em 2020 ao Congresso Nacional garante que a ZFM terá todos os seus benefícios de isenção tributária garantidos, mas ainda não é uma certeza de que isso deve acontecer. No entanto, estudos da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram os benefícios do modelo: com a ZFM, o Amazonas conseguiu manter 95% da floresta em pé, número superior ao do Pará, que só conseguiu manter 40%.

Zona Franca
Modelo conseguiu manter a floresta em pé nos últimos 30 anos. Foto: Reprodução

Francisco Mourão Júnior aponta que esse é um dos principais desafios do modelo hoje, mas que “há uma luz no fim do túnel”, com a mudança na lei estadual no. 2826, de 2003, que prorroga a política de incentivos fiscais da ZFM até 2032, e a resolução no. 205, de 25 de fevereiro de 2021, do Conselho de Administração da Suframa (CAS). Segundo o economista, elas vão trazer segurança jurídica e atrair novos investimentos para indústrias que queiram se firmar no Polo Industrial de Manaus.

“Ao mesmo tempo, precisamos continuar com a preocupação de buscar alternativas econômicas para impulsionar o desenvolvimento, principalmente na questão da biotecnologia, que é um dos segmentos mais importantes hoje para o estado. Além disso, temos o turismo, porque o Amazonas tem um potencial turístico muito grande. Tudo isso vai elevar o patamar do crescimento econômico no nosso estado”, salienta.

Os efeitos da pandemia também são um fantasma para se conviver. O general Polsin ressalta que é preciso, neste primeiro momento, verificar como ficará o comportamento dos mercados nacional e internacional, principalmente com uma nova variante do vírus se disseminando e o número de casos ainda se elevando. Fatores como esse afetam diretamente a economia, promovendo lockdowns e diminuindo os poderes de compra.

“Todas essas conjunturas são importantes e devem ser analisadas para que possamos nos ajustar e buscar superar os desafios. Mas nosso foco maior é manter postos de trabalho e, no que for possível, ampliar a geração de emprego e renda, o que será importante para contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população de toda a área de abrangência da Zona Franca de Manaus”, completa.