Manaus, 8 de maio de 2024
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Manchete

Renan recebeu propina por meio de contrato falso, afirma relator

Renan recebeu propina por meio de contrato falso, afirma relator

A delação do ex-executivo da empresa também aponta o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que presidiu a Câmara entre 2013 e 2015, como beneficiário dos pagamentos ao lado de Renan. (Foto: Evaristo Sá / AFP)

De acordo com a delação premiada do executivo da JBS Ricardo Saud, a empresa repassou propina ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), por meio de notas fiscais falsas emitidas pelo Ibope Inteligência em 2014. A delação do ex-executivo da empresa também aponta o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que presidiu a Câmara entre 2013 e 2015, como beneficiário dos pagamentos ao lado de Renan. Os envolvidos negam que os pagamentos eram propina.

Saud afirma que, em 2014, o instituto de pesquisa emitiu nota fiscal no valor de R$ 300 mil reais por serviços que nunca foram prestados à JBS. Segundo o delator, o Ibope fazia pesquisas para Renan e outros políticos, que eram pagas pela JBS como propina. Henrique Alves, por sua vez, teria recebido R$ 380 mil da mesma forma. Naquele ano, ele disputou o governo do Rio Grande do Norte.

“O Ibope recebia propina. Nunca fez serviço para o grupo”, disse Saud.

Segundo a delação, ao explicar o procedimento para burlar possíveis investigações, o Ibope enviava a Saud contratos e pesquisas para que ele apresentasse como legítimos em caso de questionamentos. “Nunca fez pesquisa para mim. Pegava uma pesquisa nacional lá ‘x’ e queria pôr no contrato da gente”, explicou.

O Ibope Inteligência nega que tenha emitido notas falsas ou recebido propina da JBS. Em nota (leia a íntegra abaixo), o instituto afirma que tomou conhecimento da acusação com “indignação”. “Todas as notas fiscais mencionadas são verdadeiras, foram devidamente contabilizadas e estão registradas na Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo”, diz o texto.

A reportagem do Congresso em Foco entrou em contato com o gabinete do Senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que até o fechamento da matéria ainda não havia se posicionado. O ex-ministro Henrique Eduardo Alves não foi encontrado.

Leia a íntegra da nota do Ibope Inteligência

“É com indignação que o IBOPE Inteligência tomou conhecimento da acusação de que emitiu notas fiscais falsas para a JBS como parte de pagamento de propina sem contrapartida de bens ou serviços, conforme consta no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada assinado por Joesley Mendonça Batista, Wesley Mendonça Batista e Ricardo Saud com a Procuradoria-Geral da União.

Sobre esse fato, o IBOPE Inteligência esclarece que nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina das empresas do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.

Entretanto, o IBOPE Inteligência confirma que todas as notas fiscais mencionadas no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada são verdadeiras, foram devidamente contabilizadas e estão registradas na Secretaria Municipal da Fazenda da Prefeitura de São Paulo.

Após o conhecimento da acusação, foram verificadas todas as notas fiscais de serviços constantes na delação envolvendo o IBOPE Inteligência e empresas do grupo JBS. Deste modo, após um minucioso levantamento, o IBOPE Inteligência confirma o recebimento de R$ 2.834.705,43 como pagamento de serviços de pesquisa prestados para empresas do grupo JBS.

No entanto, cabe esclarecer de forma muito transparente que do montante acima mencionado, R$ 1.440.597,49 foram pagos para a realização de pesquisas eleitorais em Campo Grande, em 2012, e também para os estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte, em 2014. Todas essas pesquisas foram devidamente executadas, entregues e pagas pela JBS S/A e J&F Investimentos S/A.

Já os R$ 1.394.107,94 restantes referem-se a pesquisas de mercado, tais como recall de comunicação da Friboi; tracking de imagem da Friboi; e perfil e hábitos de consumidores nas lojas da Swift, entre outros, contratados pelos profissionais de pesquisa e de marketing da JBS S/A. Inclusive, uma das notas fiscais mencionada no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada foi emitida para a Flora Distribuidora de Produtos de Higiene e Limpeza, uma das empresas do grupo. Pesquisa essa sobre consumo de fixador para cabelos, também executada e entregue.

O IBOPE Inteligência repudia veementemente a negligência dos delatores que, além de faltarem com a verdade ao afirmarem que as notas fiscais são falsas, misturaram em seus depoimentos pesquisas eleitorais realizadas para políticos, com pesquisas sobre assuntos estratégicos das empresas do grupo, encomendadas por suas equipes de marketing e pesquisa.

Diante disso, para seguir com a transparência que faz parte de nosso trabalho nestes mais de 75 anos, disponibilizamos abaixo, para a consulta de todos os brasileiros, o relatório com todas as notas fiscais mencionadas no Termo de Pré-Acordo de Colaboração Premiada, com a descrição dos serviços encomendados, realizados e entregues desde 2011 para a JBS S/A, J&F Investimentos S/A e Flora Distribuidora de Produtos de Higiene e Limpeza.

Por fim, o IBOPE Inteligência reitera que não é verdadeira a informação de que emitiu notas fiscais falsas e tampouco recebeu qualquer tipo de propina das empresas JBS S/A, J&F Investimentos S/A ou quaisquer outras empresas.

Estamos à inteira disposição para esclarecer dúvidas sobre esse lamentável ato de negligência e para colaborar com o Ministério Público com o fornecimento de documentos que comprovam a lisura de nossa atuação.

Atenciosamente,

IBOPE Inteligência”

Fonte: Congresso em Foco