Manaus (AM) – Pesquisas de intenções de voto apontam candidatos “definindo” um cenário de possível segundo turno na capital amazonense, no qual o atual prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), aparece ao lado de Roberto Cidade (União Brasil) ou Amom Mandel (Cidadania). No entanto, essas pesquisas também revelam um dado interessante com relação ao perfil do eleitorado amazonense: a indecisão dos eleitores.
Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Perspectiva, divulgado nessa quarta-feira (25), 30% dos entrevistados, em uma amostragem de 920, afirmaram não saber ou não gostariam de responder sobre suas escolhas para prefeito de Manaus.
Vale ressaltar que os dados são referentes à pesquisa espontânea, quando não são dadas as opções dos nomes dos candidatos à Prefeitura de Manaus. A pesquisa foi realizada por meio de uma coleta de dados domiciliar presencial, via entrevistas pessoais assistidas por dispositivo móvel, realizada nos dias 23 e 24 de setembro.
Ao longo das pesquisas realizadas pelo instituto, observou-se uma queda significativa no percentual de eleitores que não souberam ou não quiseram responder sobre sua escolha para a Prefeitura de Manaus.
Na primeira pesquisa, divulgada em 16 de agosto, esse grupo correspondia a 61% dos entrevistados. Já na segunda, em 30 de agosto, o número caiu para 57,05%. O mais recente levantamento, divulgado na quarta-feira (25), mostra que o índice de indecisos recuou para cerca de 30%, indicando uma tendência de definição crescente entre os eleitores, considerando que o levantamento anterior ainda apontava 44,1% de indecisão.
O Portal AM1 consultou cientistas políticos para entender como eles analisam o cenário eleitoral no Amazonas. O antropólogo e cientista político Raimundo Nonato, ao ser questionado pelo AM1 sobre se a propaganda eleitoral gratuita ainda influencia o voto dos eleitores, afirmou que a indecisão pode estar ligada a fatores como a falta de confiança nas propostas dos candidatos.
“A indecisão pode estar atrelada a alguns fatores, dentre eles, a falta de clareza e confiança na proposta dos candidatos; a rejeição dos mesmos e a indiferença em relação às candidaturas. Com o tempo, eleitores atentos entram na arena eleitoral juntamente com os candidatos de sua preferência e começam a promover seu candidato no mercado eleitoral. Isso tudo tem a ver com o clima político, alimentado pelo horário eleitoral e pelos acessos que o eleitor passa a ter por meio de mídias sociais, televisão e jornais, o que eleva seu interesse em ir depositar o voto na urna”, explicou Raimundo Nonato.
Nesse sentido, o cientista político Helso Ribeiro também corrobora com a visão defendida por Raimundo Nonato sobre a influência das pesquisas eleitorais nas eleições. Para exemplificar, Ribeiro cita o fenômeno do “voto útil”.
“Veja bem, a gente sabe que pesquisas eleitorais podem, sim, influenciar o voto de alguns indecisos. Tem pessoas que falam: ‘Ah, não vou perder meu voto votando no fulano ou no sicrano, eles não têm chances’. Então, elas se baseiam em pesquisas. Eu costumo dizer que cada um deveria votar de acordo com a sua consciência. Vamos a um exemplo prático: o Gilberto Vasconcelos, do PSTU [Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado]. Eu vejo o voto nele como um voto ideológico. As pessoas de extrema-esquerda compartilham de uma visão trotskista lá do PSTU. O voto no Wilker Barreto? Ah, eu acho… custa a crer que o Wilker tenha 5% das intenções de voto. Eu acho que ele não tem nem 3%. Mas é um voto de propostas que ele tenta passar. Então, acredito que essas pessoas, às vezes, são ‘prejudicadas’ ou não são tão votadas quanto poderiam, justamente por essa ideia do voto útil, que é muito influenciado pelas pesquisas de opinião”, declarou Ribeiro.
Questionado pelo Portal AM1 sobre o impacto da falta de confiança política, Helso Ribeiro apontou para um enfraquecimento da democracia representativa, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
“Agora, você coloca que essa indecisão… você vislumbra que essa indecisão seja um pouco de falta de confiança na política? Desinteresse? Acredito que isso seja um somatório também, né? Existem estudos, no mundo afora, a respeito do abstencionismo: pessoas que não vão votar em países onde o voto não é obrigatório. Há países que já tiveram eleição com 60% de abstenção. A democracia representativa está em xeque no mundo todo. E isso, às vezes, gera uma desconfiança, um desinteresse, e as pessoas acabam votando nulo, branco, não indo votar ou, no dia, escolhendo assim, na base do ‘Ah, vai esse aqui que tá bom’. Isso é o que ocorre.”
Candidaturas
O Instituto Perspectiva também aponta um possível cenário para o segundo turno da capital amazonense. Nessa pesquisa, divulgada na última quarta-feira (25), o candidato à reeleição é o que lidera as intenções de votos entre os entrevistados, com 28.4%, e chega ao segundo turno com o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), Roberto Cidade, com 15,5%.
Entretanto, é possível extrair outras informações a partir dessa linha evolutiva de pesquisa das intenções de votos na capital amazonense. Na primeira pesquisa, divulgada no dia 16 de agosto, as cadeiras no segundo turno das eleições em Manaus eram ocupadas por David Almeida e Amom Mandel. Porém, o deputado federal do Cidadania perdeu suas forças nas pesquisas e agora se coloca atrás até mesmo do terceiro lugar, que é ocupado, conforme a pesquisa, pelo Capitão Alberto Neto (PL).
Em termos evolutivos, Roberto Cidade obteve o segundo maior crescimento, conforme levantamento do Perspectiva, com 8,9%, o deputado estadual fica atrás somente de David Almeida, que obteve um crescimento de 12,1% pontos percentuais. Lembrando que a análise foi realiza com base nos dados das pesquisas espontâneas.
Estimulada
Na pesquisa estimulada, na qual os nomes dos candidatos são apresentados como opções aos entrevistados, são construídos cenários semelhantes, mas com percentuais diferentes. Um exemplo é o candidato Amom Mandel, que na primeira pesquisa realizada pelo instituto obteve 23,1% das intenções de voto, enquanto na pesquisa mais recente, esse número caiu para 13,7% entre os eleitores manauaras, representando uma queda de 9,4%.
Em contrapartida, Roberto Cidade, que anteriormente apresentava uma candidatura pouco expressiva com apenas 13,5% das intenções de voto, agora, cresceu 7,5 pontos percentuais e, segundo a Perspectiva, está posicionado para o segundo turno das Eleições Municipais em Manaus, ao lado de David Almeida.
Outro ponto interessante a se destacar é que o período de maior crescimento da candidatura de Cidade ocorreu após o início da propaganda eleitoral gratuita. Com um número significativo de partidos coligados, ele dispõe da maior cota de tempo entre os candidatos ao cargo de chefe do Executivo municipal, totalizando 3 minutos e 25 segundos.
O cientista político e antropólogo Raimundo Nonato interpreta a Eleição Municipal de 2024 como uma competição acirrada. Mesmo parecer evidenciado pelas pesquisas eleitorais, desenvolvidas pelos institutos, especialmente entre o atual prefeito de Manaus, David Almeida, o presidente da Aleam, Roberto Cidade, e os deputados federais Amom Mandel e Capitão Alberto Neto.
“Os candidatos buscam ganhar a confiança dos indecisos a partir de estratégias eleitorais. A estratégia comumente usada pelos candidatos que se colocam na faixa da oposição é desqualificar o oponente, bem como indicar o que farão caso vençam. Já a situação busca referendar seus feitos e passa a mensagem de que tem cumprido o que prometeu. Portanto, o eleitor indeciso, ao votar em candidatos da oposição, enviará a mensagem de que reprova a administração do Executivo. Por outro lado, ao votar no candidato à reeleição, indicará que aprova total ou parcialmente a administração municipal”, explicou Nonato.
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