Manaus, 2 de julho de 2024
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Cenário

Eleitores manauaras avaliam de forma negativa troca de acusações entre pré-candidatos na internet

Para os eleitores manauaras, sobram acusações e faltam propostas entre os pré-candidatos à Prefeitura de Manaus.

Eleitores manauaras avaliam de forma negativa troca de acusações entre pré-candidatos na internet

(Fotos: Divulgação/Aleam e Câmara dos Deputados)

Manaus (AM) – A três meses das eleições municipais de 2024, os eleitores manauaras observam de perto as trocas de acusações entre os pré-candidatos nas redes sociais. Em um cenário onde a internet se tornou um campo de batalha política, muitos eleitores percebem que, enquanto as provocações aumentam, as propostas concretas ficam em segundo plano.

Uma enquete realizada pelo Portal AM1 revelou que 45% dos participantes acreditam que a política de verdade está ausente. Enquanto isso, 29% afirmam que as discussões desanimam o eleitor a votar, e outros 29% dizem que não afeta sua decisão no momento do voto.

Um internauta comentou: “Ridículo. Eles deveriam apresentar o plano de governo e não ficar mostrando sua imaturidade e ego ferido”. Outro acrescentou: “Não que seja necessário, mas o povo quer ver projetos que sejam de fato realizados”.

A eleição para a Prefeitura de Manaus já conta com pelo menos nove pré-candidatos. Nos últimos meses, tem sido comum testemunhar uma série de ataques nas redes sociais, especialmente por parte de Marcelo Ramos (PT), Amom Mandel (Cidadania), Roberto Cidade (União Brasil) e Wilker Barreto (Mobiliza). Além de trocarem críticas entre si, um dos principais alvos é a gestão do atual prefeito, David Almeida, que busca a reeleição.

 

Enquete mostra a opinião dos eleitores – (Foto: Divulgação)

 

O antropólogo e coordenador do Laboratório de Economia e Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Raimundo Nonato, analisa que as trocas de acusações nas redes sociais, muitas vezes, têm o objetivo de desqualificar o oponente e desviar a atenção da falta de projetos reais. Nonato observa que isso transforma o espaço político em uma arena de disputas, afastando ainda mais o interesse do eleitor em acompanhar a política.

Com o aumento do acesso à informação, muitos eleitores se tornaram mais exigentes, buscando debates políticos mais profundos e propostas concretas. No entanto, segundo Nonato, a percepção negativa sobre a política abre espaço para o personalismo e o populismo, afastando o eleitor das verdadeiras propostas políticas.

“Isso desgasta ainda mais o interesse do eleitorado em acompanhar a movimentação política. Muitas vezes, o uso do espaço político como espaço de acusações visa encobrir a falta de projetos e programas que poderão impactar a vida dos cidadãos e cidadãs”, pontua o antropólogo, acrescentando que a percepção do eleitorado sobre política e as instituições políticas é negativa.

“Isso abre espaço para o personalismo, o populismo e para o clientelismo. Esses fatores, que permeiam há muito tempo o universo da política eleitoral, distanciam e criam o eleitorado instrumental. Vota-se em função disso e daquilo, e não em função de uma proposta ou de uma ideia política. O instrumental indica também a ausência de campanhas e ações políticas que deem subsídios informativos para o eleitor entender como funciona o campo político partidário. Em geral, são poucos os eleitores que estão fora dessa malha perniciosa montada pelos candidatos e pelos partidos políticos”, explica.

Eleitores conservadores

De acordo com o antropólogo, o comportamento do eleitor amazonense vem mudando de forma lenta e gradual nas últimas duas décadas, mas a estrutura política permanece conservadora. Apesar de apoiarem propostas progressistas em eleições presidenciais, os eleitores mostram uma postura conservadora ao eleger seus representantes locais.

Carlos Santiago, advogado e cientista político, reforça que o eleitor amazonense é conservador e continua a eleger políticos que refletem suas escolhas tradicionais. Ele destaca que, se os eleitores desejam políticos comprometidos com o bem comum, é necessário que eles melhorem suas próprias avaliações e escolhas.

“Ocorreu uma mudança lenta e gradual no eleitorado nas últimas duas décadas, porém, isso não alterou a estrutura política. Todavia, no tocante às eleições para governador, o eleitorado optou por uma postura mais conservadora. Essa tendência se replicou nas eleições municipais”, pontua Carlos Santiago.

Segundo Santiago, a ascensão de novos nomes na política estadual e municipal não representou uma mudança significativa em relação ao conservadorismo. Assim, não se pode afirmar que surgiu uma nova direita ou nova política, mas sim a manutenção de ações políticas conservadoras.

“No campo da política estadual e municipal, a ascensão de novos nomes no cenário político não significou alteração em relação ao conservadorismo. Portanto, não é prudente dizer que se trata de uma nova direita, nova política; trata-se da manutenção de ações políticas conservadoras”, pontua.

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