Manaus, 17 de maio de 2024
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Brasil

Estudante de medicina diz sofrer bullying por ser bolsista em faculdade particular

Jovem registrou boletim de ocorrência e se diz perseguida há 2 anos por colegas. Entenda caso:

Estudante de medicina diz sofrer bullying por ser bolsista em faculdade particular

Uma estudante de Guaíra, São Paulo, registrou um boletim de ocorrência em que alega ser vítima de bullying na faculdade onde cursa medicina, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Larissa Vicente Tristão, de 22 anos, diz que é perseguida por outros estudantes por ser bolsista do Prouni, programa do governo federal que concede bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior.

De acordo com a jovem, as provocações começaram há dois anos e meio, mas a instituição nunca tomou providências para resolver a situação, apesar das reclamações.

“Desde agosto de 2016 eu sofro perseguição. Começou com apelidos e depois foi piorando e nenhuma medida foi tomada pela coordenação da faculdade. Tudo pelo fato de eu ser bolsista. Acham que só pessoas de outra raça ou cor podem ter esse mérito”, afirma.

Em nota, a Polícia Civil informou que o boletim de ocorrência foi registrado como injúria na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Guaíra. O caso foi encaminhado à unidade de Polícia Judiciária de Juiz de Fora, responsável pela área dos fatos, para investigação.

Também em nota, a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (Suprema) informou que não tolera e não compactua com atos racistas, preconceituosos e com a prática do bullying, e que todas as denúncias “formalmente oficializadas” são investigadas.

Larissa diz que as agressões verbais acontecem na própria faculdade e também em redes sociais. Segundo a jovem, há outros alunos bolsistas na mesma turma, porém o bullying acontece com ela por ser branca e cotista.

“Eles ficam mais pegando no meu pé por conta disso. Eles fizeram um post em uma rede social falando que eu sou loira e de olhos azuis, que estou na cota de negro. Por conta disso acham que eu não tenho direito de ter bolsa”, afirma a Larissa.

A estudante afirma que já recebeu uma ameaça de morte. “Escreveram no meu carro: ‘Você vai morrer’. Colaram adesivos no meu carro, fizeram várias piadas. Cada vez eles me isolam ainda mais”, diz.

A jovem, que sofre de depressão por causa do bullying, diz que o rendimento escolar caiu e que já foi até reprovada em uma matéria.

“Sempre fui uma pessoa alegre, mas depois que eu entrei na faculdade, a minha vida mudou totalmente. Eu pensei que seria mais feliz realizando o meu sonho, mas depois disso é só tristeza. Fui reprovada porque quase não fui às aulas. Procurei a coordenação e a única coisa que eles sabem fazer é me mandar para a psicóloga da instituição”, afirma.

A estudante diz que tem medo de ir às aulas e que procura se esconder na sala para evitar comentários maldosos. “Todos os dias eu tenho medo, tanto que na sala de aula eu procuro sentar na última fileira, para ninguém me ver na sala”, diz.

A mãe da estudante, Joana D’Arc Vicente Tristão, demonstra preocupação e teme pela vida da filha. Ela afirma que é possível que a jovem não volte a frequentar a faculdade por causa da segurança.

“Eu não sei do que eles são capazes. Ela está correndo risco. Faculdades, pelo amor de Deus, tomem uma medida para acabar com o bullying, que acabem com esse mal que acaba com os jovens, que acaba com o psicológico das mães, dos pais, de toda a família”, diz.

Joana diz ainda que a filha estudou muito para conseguir a bolsa e que não quer deixar a universidade.

“Ela conseguiu pelos méritos dela, estudava dia e noite para conseguir passar e quando consegue, está toda feliz de fazer essa faculdade, já no primeiro semestre começaram com o bullying. Ela ama muito a medicina, ama salvar vidas. Eu vejo que ela ainda não abandonou porque ela gosta da profissão”, diz.

Em nota, a Suprema informou que está sendo alvo de “calúnia e informações distorcidas”, que não tolera ou compactua com atos racistas, preconceituosos e com a prática de bullying. A faculdade alegou que jamais se omitiu e que as denúncias formalizadas são investigadas.

“Além de promover ações de prevenção, a instituição desenvolve programas de apoio psicopedagógicos, de modo a promover a saúde integral de seus estudantes e, se necessário, aplica o que dispõe o seu Regimento Disciplinar”, diz o comunicado.

A Suprema também informou que “tem compromisso com a formação ética e humanística de seus estudantes” e defendeu que o “ambiente da internet não é próprio para debate de questões individuais e pessoais, as quais serão tratadas pelos meios e no ambiente adequados”.

*Informações retiradas do G1