A fábrica de colchões ‘Eurosono’ está sendo investigada pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) por prática de ilícitos ambientais, especificamente pela prática de ‘supressão vegetal não autorizada’. A informação foi publicada no Diário Oficial do órgão, do último dia 20.
O Inquérito Civil é o 06.2022.00000433-4, que foi instaurado por meio de uma notícia de fato que denunciou a prática irregular. A Portaria é a 003/2022 e foi assinada pelo promotor de Justiça, Carlos Sérgio Edwards de Freitas, da promotoria de proteção e defesa do meio ambiente.
De acordo com a publicação, o inquérito foi instaurado a partir de uma ‘notícia de fato’ (tipo de denúncia), de que a fábrica de colchões, localizada na Avenida do Turismo, n° 10072, bairro Tarumã, zona Oeste da capital, estaria praticando crimes ambientais.
Ainda segundo o texto, a investigação será apurada ‘detidamente’, ou seja, minuciosamente, com detalhes.
Segundo informações obtidas no site da Receita Federal, a Eurosono, é a ‘Esplanada e Indústria e Comércio de Colchões Ltda.’, inscrita sob o CNPJ 34.599.837/0001-10, com matriz localizada no município de Ananindeua, no estado do Pará e tem como atividade principal a fabricação de colchões.
Detalhes
A reportagem do Portal AM1, pesquisou no site do MP-AM, os detalhes sobre o processo e descobriu que o objeto da investigação trata especificamente da ‘devastação de fragmento de floresta desabrigando grande quantidade de animais silvestres (cutia, paca, bicho preguiça, tucanos, macacos e etc)’ e que o crime é praticado ‘nos fundos do imóvel’ da fábrica de colchões.
Além disso, consta na pesquisa que o inquérito foi instaurado de fato no dia 15 de junho de 2022, às 13h07. Porém, a denúncia foi reportada no dia 1° de fevereiro, às 9h41.
Segundo os documentos que constam no portal do MP, foi solicitado que os órgãos competentes informem ao promotor se a empresa tem a devida licença ambiental para atuar na região. Além disso, foi feito um pedido para a realização de uma vistoria técnica no local para averiguação dos fatos narrados na notícia de fato.
O AM1 enviou solicitação para três endereços de e-mails encontrados nas redes sociais e adquiridos em contatos oficiais da Eurosono.
Questionamos se a empresa já tinha conhecimento da abertura do inquérito e se já haviam sido notificados; se a mesma está desmatando a área sem autorização; o que a Eurosono tem feito em contrapartida em relação a compensações ambientais, uma vez que tem uma fábrica instalada na área do Tarumã e qual era o posicionamento oficial da empresa sobre a denúncia .
Um dos endereços de e-mail, que é ligado a empresa por nome ‘Rodrigues Colchões’, que foi repassado à reportagem, que seria do mesmo grupo, respondeu que até o momento não foram notificados sobre a suposta denúncia.
Foi informado ainda, que hoje a operação não é mais gerenciada pela Eurosono e que toda e qualquer atividade anterior não é responsabilidade da ‘Rodrigues Colchões’ e que a fábrica deles hoje está instalada no município de Rio Preto da Eva.
Com base nas respostas enviadas e informações levantadas pela reportagem, perguntamos se podiam nos informar a data específica que a ‘Rodrigues Colchões’ passou a não ser mais gerenciada pela Eurosono; até quando as atividades realizadas anteriormente são de responsabilidade da Rodrigues e se existe atualmente uma instalação (galpão) da ‘Rodrigues Colchões’, na parte de trás da loja de fábrica da Eurosono no bairro Tarumã.
Contradição
Mesmo afirmando não pertencer mais à Eurosono, a chamada ‘URA’ (Unidade de Resposta Audível – tecnologia para interagir com o sistema de atendimento de empresas) do número disponível no Instagram oficial da ‘Rodrigues Colchões’, o ‘(92) 2123-7373’, se identifica com a seguinte frase no início da ligação: “Seja bem-vindo a Eurosono e ao Rodrigues Eletro”.
Anteriormente, ligamos para o número (92) 99500-9452 (Loja da Eurosono na Guilherme Moreira, Centro) e nos foi informado que para conseguirmos contatos da comunicação da empresa, deveríamos entrar no Instagram da ‘Rodrigues Colchões’.
Além disso, nossa equipe entrou em contato com o número: (92) 98474-2176, por meio de aplicativo de mensagem. A pessoa respondeu, que o contato era da fábrica da Eurosono do bairro Tarumã e disse que a reportagem deveria se direcionar ao Supermercado Rodrigues, da Avenida Autaz Mirim, zona Leste, para conseguir as informações, uma vez que o escritório da empresa fica no local.
O AM1 respondeu que queria apenas um contato ou endereço de email da área da comunicação e após isso foi enviado um áudio, com uma voz masculina afirmando, que não podia dar ‘os dados solicitados’ e que ‘nos fundos da fábrica da Eurosono funciona apenas um galpão da ‘Rodrigues Colchões’, e por esse motivo, a Eurosono não seria a envolvida na questão. Logo em seguida, o áudio foi apagado para todos antes da equipe conseguir transcrever o áudio ou salvar no dispositivo. Confira nos prints:
A reportagem também entrou em contato com um número da matriz da empresa, no estado do Pará, que consta na inscrição junto à Receita Federal, ligamos, mas não fomos atendidos; enviamos mensagens, mas também não foram respondidas.
Punição
O Portal AM1 ouviu o antropólogo, professor do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador do movimento SOS Encontro das Águas Ademir Ramos, sobre a denúncia.
Para o professor, qualquer intervenção no meio ambiente precisa ter todos os procedimentos exigidos pelos órgãos ambientais. “Se a empresa realmente provocou algum dano ao meio ambiente, alguma intervenção indevida, ela deverá ser punida. Agora resta saber se uma possível multa corresponderá à realidade quanto aos possíveis desastres que a referida fábrica tenha feito, principalmente pela questão de vida dos animais da região”, pontuou.
Veja os documentos:
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