Manaus, 23 de maio de 2024
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Manaus, 23 de maio de 2024

Cidades

‘Mães de UTI’ contam os momentos de dor e superação ao lado dos filhos prematuros

As mães compartilharam relatos emocionantes sobre os dias vividos ao lado dos filhos prematuros, destacando a força, fé e superação durante essa jornada desafiadora na UTI Neonatal da Maternidade Balbina Mestrinho.

‘Mães de UTI’ contam os momentos de dor e superação ao lado dos filhos prematuros

Essas mães viveram dias de angústias, mas também de muita fé - (Foto: Arquivo Pessoal)

Manaus (AM) – Para cada mãe, a maternidade é um universo de surpresas e dúvidas, mas para aquelas que caminharam pelos corredores de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, a sensação é de angústia, medo e uma coragem que desafia até mesmo os limites do infinito. Ali, onde as máquinas sussurram vida e a esperança se renova a cada batimento cardíaco, não houve a primeira troca de fraldas, o primeiro banho ou até mesmo a amamentação com o colostro. A primeira vez que viram os filhos foi dentro de uma incubadora.

Neste Dia das Mães, o Portal AM1 conta a história de três mães amazonenses, unidas não apenas pelo destino, mas pela coragem de enfrentar o desconhecido com determinação e amor incondicional. As histórias se cruzaram na Maternidade Balbina Mestrinho, localizada na zona Sul de Manaus.

Natural do município de Borba, no interior do Amazonas, Rosinete Colares, aos 29 anos, viu-se diante de uma jornada marcada por desafios ao trazer ao mundo sua pequena Lauane Vitória no dia 14 de março de 2023. Prematura extrema, com apenas 900 gramas e nascida aos seis meses de gestação, Vitória enfrentou uma batalha pela vida que se estendeu por sete meses na maternidade.

Para Rosinete, cada dia foi uma luta incansável, uma prova de fé e determinação diante das adversidades. A incerteza pairava sobre seu coração de mãe, mas sua força e sua crença inabaláveis a sustentaram durante os momentos mais sombrios.

 

Rosinete passou sete meses com a filha internada na maternidade — (Foto: Arquivo Pessoal)

Hoje, com gratidão nos olhos e um sorriso de alívio no rosto, Rosinete agradece a Deus pela dádiva de ter sua filha ao seu lado. Embora o caminho não seja fácil e os desafios ainda se apresentem, ela encontra forças para seguir adiante, dia após dia, ao lado de sua pequena guerreira.

“Só Deus sabe o que passei dentro daquela UTI, chorava praticamente todos os dias, ficava triste, tinha medo, mas também tinha muita fé. Depois de muita luta, minha filha venceu e, hoje, eu olho para ela e vejo o milagre de Deus. Eu sei que ainda temos muitos desafios, pois ela precisa fazer alguns acompanhamentos médicos, mas estou com ela em casa e isso não tem preço. Graças a Deus, hoje, ela está bem”, conta Rosinete.

‘Deram 48h de vida para o meu filho’

Thayana Silva, 35 anos, também é mãe de prematuro extremo e, assim como Rosinete, viveu dias de angústia e fé com o filho na UTI Neonatal. Pesando 650 gramas, Luiz Enrico veio ao mundo com 26 semanas no dia 1 de julho de 2023 e desafiou todas as probabilidades desde o momento de seu nascimento.

“Luiz é um guerreiro, me ensinou a ter força e fé. A médica deu 48 horas de vida para ele e, nesse tempo, orei bastante para que essas 48 horas passassem rápido e ela pudesse me dar uma boa notícia de que ele iria sobreviver. Então, passaram as horas, eu levantei cedo e fui lá na UTI e a médica me deu ótimas notícias. Disse que ele tinha passado bem a noite e que estava evoluindo, reagindo aos medicamentos. Isso me deu esperanças”, relembra.

A jornada de Luiz na UTI neonatal foi marcada por momentos de angústia e desespero. Ele enfrentou complicações graves, como episódios de apneias, onde esquecia de respirar e teve que ser reanimado duas vezes.

 

Thayana e Luiz Enrico passaram quatro meses de internação — (Foto: Divulgação: Arquivo Pessoal)

“Eu o vi sendo reanimado e foi um baque muito grande. Fazia vários questionamentos em minhas conversas com Deus. Por que aquilo estava acontecendo comigo? Por que eu estava passando por essa provação e falava que não queria perder o meu filho. Eu me sentia, às vezes, fraca, às vezes sem fé, me sentia muitas das vezes só, não podia ter parentes perto, a única pessoa que poderia entrar e sair era o pai dele, era o único também que no começo me deu muita força. Foram dias muito difíceis, mas eu orei a Deus e fiz um propósito pela vida do meu filho”, relata Thayana.

Foram 21 dias entubado. Nesses momentos, Thayana permaneceu ao lado de Luiz a cada momento, conversando com ele e encontrando conforto nos sinais de sua resposta. Mesmo quando não podia segurá-lo nos braços, sua presença constante era uma fonte de força para ambos.

A descoberta do citomegalovírus trouxe mais um desafio para Thayana e Luiz. Este vírus potencialmente debilitante poderia deixar sequelas graves, mas Thayana lutou ao lado do filho, enfrentando o tratamento agressivo com coragem e determinação. Ela se sentiu vulnerável em alguns momentos, mas o amor por seu filho sempre a sustentou.

Após meses de luta e incerteza, Luiz finalmente teve alta da UTI. A jornada continuou com tratamentos em outra ala da maternidade, mas Thayana nunca perdeu a esperança. E, quando por fim pôde levar Luiz para casa, foi uma vitória para ambos. Agora, Luiz está crescendo e se desenvolvendo, superando todas as expectativas. Ele não tem sequelas do citomegalovírus e vive como qualquer outra criança.

O retorno à maternidade para as consultas foi um momento de profunda emoção para Thayana. Ela levou o filho à UTI Neonatal para mostrá-lo à equipe médica. Mas desta vez, Thayana não estava ali para lutar. Ela estava ali para celebrar a vitória de seu filho, para mostrar a todos que a esperança e a fé podem mover montanhas.

“Foi muito gratificante para mim. Porque durante esses quatro meses eu mantive fé. Quando você coloca seus joelhos no chão e conversa com Deus, Deus irá te abençoar. Eu fui muito forte e sou forte até hoje. Porque Luiz me fez forte e provou que para Deus nada é impossível. Meu filho não tem limitações e, graças a Deus, está indo tudo bem até agora”, comemora Thayana.

‘Não ouvi o choro do meu filho’

A jornalista Mara Magalhães, de 32 anos, travou uma batalha incansável ao lado do filho, Davi Lucca, durante quase três meses na maternidade, dos quais 45 dias foram passados na UTI neonatal. Davi veio ao mundo prematuramente, às 33 semanas de gestação, em um parto de emergência, pois estava em sofrimento fetal. Ao nascer, ele precisou ser reanimado e imediatamente entubado.

“Não ouvi o choro do meu filho ao nascer, não o segurei nos braços, não o amamentei. A primeira vez que o vi foi dentro de uma incubadora, cercado por fios. Meu coração se despedaçou naquele momento, mas mal sabia eu que era apenas o começo de dias angustiantes. Devido a uma medicação para o coração, seu rim acabou sobrecarregado e, com apenas cinco dias de vida, ele precisou ser transferido da maternidade onde nasceu para uma de maior porte, a Balbina Mestrinho. Foi lá que vivi os momentos mais angustiantes da minha vida”, conta.

Como mãe de primeira viagem, Mara percebeu que não havia preparação possível para o que estava por vir, mas que manter a fé nos momentos mais difíceis foi fundamental para seguir adiante. A pior parte, conforme ela descreve, era dormir e acordar sem saber o estado de saúde do filho.

“Alguns dias, as notícias eram encorajadoras, enquanto em outros eram devastadoras. É uma das sensações mais terríveis, eu me sentia impotente, tinha medo, ficava desesperada toda vez que recebia um boletim médico com más notícias. Mas encontrei uma fé que, mesmo abalada, me concedia uma força inexplicável. Sabia que precisava ser forte diante de todas as adversidades, porque ele precisava de mim. Segurei meu filho nos braços praticamente 20 dias após seu nascimento, e foi a melhor sensação do mundo”, descreve.

 

Mara passou aproximadamente três meses com o filho na maternidade — (Foto: Arquivo Pessoal)

A jornada de Davi foi marcada por vários desafios. Ele enfrentou quatro infecções, convulsões, foi submetido a medicações fortes e precisou até mesmo de transfusões de sangue. Após a longa jornada, Davi finalmente recebeu alta e pôde voltar para casa com seus pais. “Eu sonhava tanto com o dia da alta. Senti uma felicidade indescritível, sair com meu filho nos braços, era tudo que eu pedia a Deus. Cada passo rumo à saída da maternidade era uma vitória, uma confirmação de que nossa jornada havia sido recompensada”, contou.

No entanto, após nove dias em casa, Davi voltou a apresentar complicações e precisou ser hospitalizado novamente, sendo novamente entubado. Mara teve que reviver todo o sofrimento por mais 12 dias, mas dessa vez ela descreve que foi ainda mais angustiante ao testemunhar o filho sendo reanimado.

“Vi meu filho todo roxo em cima de uma maca e clamei a Deus por misericórdia. Pensei que o havia perdido, chorei tanto, gritava dentro do hospital de desespero. Mas após mais alguns dias de luta, Davi venceu novamente. Meu filho é guerreiro, é forte, ele faz jus ao seu nome”, declara.

Agora, Davi está em casa simbolizando a vitória sobre as adversidades e o início de uma nova fase cheia de esperança e gratidão.

“Hoje, Davi está em casa e, mesmo precisando de acompanhamentos médicos devido a algumas sequelas, ele está bem. Posso, finalmente, desfrutar de cada momento ao lado do meu filho, acompanhando o crescimento e celebrando cada conquista dele. Sei que ainda temos muitos desafios pela frente, mas estou com ele nos braços e isso é o que importa. Juntos, enfrentaremos cada obstáculo. Davi trouxe paz e esperança para nossas vidas”, declara Mara.

Dados

As histórias relatadas na reportagem, infelizmente, se repetem quase que diariamente. No Brasil, todos os anos, cerca de 12% dos bebês nascem prematuros, ou seja, antes de completarem 37 semanas gestacionais, e vão precisar de algum suporte de UTI até que estejam prontos para ir para casa. Desse número, estima-se, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que uma em cada 10 crianças nascidas necessitará de ventilação mecânica; uma em cada 100, de intubação; e até duas em cada mil, de massagem e uso de medicamentos.

 

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