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Ex-policial Derek Chauvin é condenado pela morte de George Floyd

Chauvin foi considerado culpado pela morte de Floyd e em mais três categorias de homicídio. Pena deve chegar a 40 anos de prisão

Ex-policial Derek Chauvin é condenado pela morte de George Floyd

George Floyd morreu em 2020. Acusado da morte, Derek Chauvin será julgado nesta semana. Foto: Reprodução/Globo

MINNEAPOLIS, EUA – A morte de George Floyd, que gerou forte comoção nos Estados Unidos e deu impulso à uma onda global de combate ao racismo, teve a sua primeira sentença judicial nesta terça (20). O ex-policial Derek Chauvin foi considerado culpado pela morte de Floyd. Ele também é considerado culpado em três categorias de homicídio.

A duração da pena ainda será definida nas próximas semanas. Ele pode pegar até 40 anos de prisão. Chauvin, 44, foi preso no ano passado, mas deixou a cadeia após pagar fiança de US$ 1 milhão e aguarda a conclusão do processo em liberdade.

Chauvin foi acusado em três diferentes categorias de homicídio, pelo mesmo crime: homicídio em segundo grau (quando o homicídio inicialmente não é intencional, mas o réu mata alguém enquanto comete intencionalmente outro crime), homicídio em terceiro grau (quando o réu mata alguém ao tomar uma atitude perigosa sem levar em consideração o risco à vida humana em sua ação) e homicídio culposo em segundo grau (quando o réu assume o risco de matar alguém ao tomar uma atitude imprudente). Ele foi considerado culpado nos três casos.

Um grupo de 12 jurados deu a sentença. O julgamento durou três semanas. O grupo estava reunido para elaborar o veredicto desde segunda-feira (19). Sete mulheres e cinco homens ficaram isolados e debateram a portas fechadas, sob um rígido esquema de segurança.

Leia mais: Julgamento de oficial que matou Floyd pode ser ponto de virada para polícias nos EUA

Os jurados não foram identificados publicamente, e a Justiça deve proteger suas identidades por tempo indeterminado após a divulgação do veredicto. O corpo de jurados é composto por quatro mulheres brancas, dois homens brancos, três homens negros, uma mulher negra e duas mulheres multirraciais.

As audiências começaram em 29 de março. Ao longo de três semanas, foram ouvidas 45 testemunhas, entre policiais, especialistas médicos e transeuntes que presenciaram a abordagem que provocou a morte de Floyd.

Ao apresentar seu caso ao longo de mais de duas semanas, os promotores reuniram testemunhas emocionadas, policiais que afirmaram que as ações de Chauvin violaram as políticas do departamento e especialistas médicos que disseram ao tribunal que Floyd, 46, morreu de asfixia.

Protesto nos EUA após a morte de George Floyd (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)

Chauvin disse ser inocente de todas as acusações e renunciou ao seu direito de testemunhar perante os jurados. O principal advogado de defesa, Eric Nelson, reiterou na segunda que ele havia se comportado como qualquer “policial razoável”, argumentando que ele seguiu seu treinamento de 19 anos na força.

Um dos principais pontos levantados pela defesa foi de que Floyd teria usado drogas antes da ação e que isso teria levado à sua morte. Foram encontrados traços de metanfetamina e de fentanil (um tipo de opióide) no corpo de Floyd, e a namorada dele confirmou que o casal era usuário de drogas.

No entanto, médicos convocados pela acusação disseram que não há indícios de que Floyd tenha tido uma overdose. Segundo um deles, o homem não seria capaz de falar com os policiais e provavelmente estaria inconsciente se estivesse nessa situação.

Durante os dias de deliberação, os jurados foram mantidos em uma espécie de “fortaleza”, uma torre cercada por barricadas e por arame farpado e vigiada o tempo todo por homens da Guarda Nacional.

Histórico da morte de Floyd

A decisão foi anunciada menos de 11 meses após a morte de Floyd. Em 25 de maio de 2020, a polícia foi acionada depois que ele usou uma nota falsa de 20 dólares em uma loja de conveniência em Minneapolis. No julgamento, o atendente da loja diria que Floyd parecia não saber que a cédula não era verdadeira.

O vendedor pediu o produto de volta, “mas ele não queria e estava sentado sobre o carro porque estava terrivelmente bêbado e não se controlava”, disse o lojista, segundo transcrição do telefonema à polícia.

Os documentos de acusação dizem que os policiais encontraram Floyd em um carro azul estacionado, com dois passageiros. Logo chegaram unidades da polícia, e os policiais tentaram colocar Floyd em uma viatura, mas ele resistiu.

Durante a abordagem policial, ele teve o pescoço prensado no chão por Chauvin, por 8 minutos e 46 segundos. O vídeo que registrou o momento viralizou nas redes sociais. O policial ignorou tanto os avisos de Floyd como os apelos das testemunhas. Floyd, a todo tempo, dizia que não conseguia respirar.

Floyd foi socorrido e morreu uma hora depois da abordagem, segundo os dados oficiais. Os quatro policiais foram demitidos assim que o caso veio à tona. Os outros três policiais envolvidos na abordagem, Thomas Lane, J. Alexander Kueng e Tou Thao, foram indiciados como cúmplices de homicídio e aguardam julgamento.

Segundo a agência de notícias Associated Press, ao longo de 19 anos de carreira, Chauvin foi alvo de quase 20 queixas formais e duas cartas de reprimenda. Entretanto, a maioria foi arquivada.

Protestos pela morte de Floyd

A morte do ex-segurança gerou uma onda de protestos nos EUA e outras partes do mundo. Com isso, Floyd foi lembrado em atos na África, na Ásia, na Europa e também no Brasil. O caso virou um símbolo do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

Durante a primeira semana de manifestações, foram registrados incêndios em carros e prédios, saques e conflitos com policiais em todo o país. O mesmo ocorreu em cidades europeias. Como resultado, nos últimos dias, empresas de Minneapolis suspenderam atividades e usaram tábuas para fechar as janelas. Já as escolas optaram por aulas remotas.

Foto: DivulgaçãoApesar do julgamento de Chauvin avaliar a culpa de apenas um homem, ele é simbólico para os EUA. O país têm um histórico de assassinatos de jovens negros por policiais. A condenação traz alívio e uma sensação de acerto de contas após a onda de protestos liderados pelo movimento Black Lives Matter que circularam o mundo todo. Nos protestos, a imagem de Floyd tornou-se símbolo da luta antirracista e contra a violência policial no EUA.

No entanto, só em abril, houve mais duas vítimas. Adam Toledo, 13, foi morto em Chicago, baleado por um policial mesmo após levantar as mãos. Daunte Wright, 20, foi morto a tiros em Minnesota (a menos de 20 km da cena da morte de Floyd), em uma abordagem de trânsito.

(*) Com informações da Folhapress.