Manaus, 10 de maio de 2024
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“Fake news”, um fenômeno que só cresce

“Fake news”, um fenômeno que só cresce

A internet facilita a vida das pessoas, não resta a menor dúvida. Hoje, o cidadão está conectado com o mundo inteiro e tem acesso a todo tipo de informação, com exceção apenas naqueles poucos lugares onde o sinal da web ainda não alcançou. As notícias chegam pelas mais variadas plataformas e nem sempre é muito fácil distinguir as que são “fake news”, na avalanche de informações que recebemos todo dia pelas redes sociais.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que a fabricação de notícias mentirosas tem um propósito – em geral, atingir a reputação de uma pessoa, empresa ou produto. E possui uma motivação – seja ela uma disputa pessoal ou de mercado, inveja ou até mesmo uma forma de ganhar a vida. Sim, tem gente que recebe para planejar e executar as mais sórdidas estratégias de manipulação da opinião pública. Tem gente especializada em influenciar resultados de pesquisas online, criar grupos de manifestantes organizados no facebook, sem falar na compra de seguidores robôs para dar “credibilidade” a perfis. Tem de tudo e toda uma engenharia para direcionar as informações para o tipo de perfil que se quer atingir. Nada é por acaso no mundo digital.

A novidade é que o volume crescente de boatos circulando nas redes sociais, sempre mascarados de notícias oficiais, e as artimanhas que estão por trás da indústria das “fake news”, têm incomodado tanto, a ponto de as pessoas buscarem mecanismos de proteção.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters, para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostra, por exemplo, que, no Brasil, 60% dos entrevistados confiam mais nos meios de comunicação do que nas redes sociais, para buscar informação. Esse índice só é ultrapassado pela Finlândia, com 62%. Um dos principais fatores que impulsionam esse resultado, segundo a pesquisa, é que as pessoas sentem que a imprensa se preocupa em separar o que é fato do que é boato. O estudo também aponta que 40% dos entrevistados avaliam que as notícias de empresas de mídia têm maior cuidado ao difundir as informações, contra 24% que percebem essa preocupação no que é divulgado pelas redes sociais.

Os entrevistados consideram que a falta de regras e o uso de algoritmos para aumentar a audiência estimula a proliferação de “fake news”. E reconhecem que as empresas de comunicação têm se esforçado em combater as notícias falsas, o que não acontece nas redes sociais.

Por conta dessa percepção, as redes sociais vêm perdendo espaço como fonte de informação e isso já aparece em vários estudos sobre o tema. Não é por nada que gigantes como Facebook e Google foram a público anunciar medidas para combater a proliferação de “fake news”, embora ainda sem resultados efetivos. Prometeram asfixiar economicamente os sites mentirosos, impedindo que obtenham anúncios através de serviços online de publicidade, mas, até agora, não conseguiram impedir que notícias enganosas continuem aparecendo nas buscas e nas timelines dos usuários.

A tarefa não é nada fácil e o usuário também pode fazer a sua parte, gastando um pouquinho de tempo para refletir sobre as informações que recebe e só passar adiante depois de checar a veracidade. Vale também a dica para buscar informações em sites, blogs e portais que identifiquem os profissionais que estão à frente do corpo editorial e que, comprovadamente, já mostraram que se preocupam com a veracidade dos fatos.

Antigamente, dizia-se que o bom jornalista era aquele que desconfiava sempre. Hoje, essa também deve ser a postura do consumidor de notícias. E é preciso lembrar que, além de leitores, somos também cúmplices, ao compartilharmos mentiras na internet.

Quando a mentira vira tragédia

Há três anos, uma mulher foi linchada no Brasil, por ser parecida com um retrato falado falso de uma pessoa adepta de magia negra. A história mirabolante, que circulou no Facebook, pela página Guarujá Alerta, falava de uma mulher que raptava crianças, cujos corações eram arrancados em rituais de magia negra. Junto com o texto estava o retrato falado. Apesar de a própria página ter admitido depois tratar-se de uma história mentirosa, repassada sem que houvesse sido checada, o estrago já estava feito. Fabiane Maria de Jesus foi confundida com o retrato falado e foi linchada por moradores da periferia do Guarujá, município do litoral paulista. Fabiane tinha 33 anos, era mãe de duas crianças e morava no bairro em que foi espancada e assassinada.

 

*Margareth Queiroz é sócia-proprietária da Três Comunicação e Marketing, empresa com 20 anos de atuação na região. É jornalista, formada pela Universidade Federal do Amazonas – Ufam, com mestrado em Comunicação Social pela Universidade de Brasília – UnB.

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