Manaus, 17 de maio de 2024
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Manaus, 17 de maio de 2024

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ISMAEL BENIGNO – Estatuto do homem brasileiro

ISMAEL BENIGNO – Estatuto do homem brasileiro

Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade, mas também a mentira.

E a meia-verdade, mas também a suposição e a dúvida.

Quem sabe a maledicência, de mãos dadas com a virtude,

E também a calúnia, tomando o chá da tarde com a esperança.

Artigo II

Fica decretado que vale o boato, mas também a prova.

Que o homem confiará no homem, mas que a desconfiança também será ok.

Que a palavra de apoio será colorida, mas que a indireta será banhada em ouro.

Fica decretado o aroma do orvalho aos que atravessam na faixa,

Mas institui-se também uma salva de palmas aos que passam pelo acostamento.

Artigo III

Fica decretado que, no país dos girassóis nas janelas,

A gravidade dos crimes seja inversamente proporcional à quantidade de criminosos.

Se todo mundo estiver fazendo, então está tudo certo.

Se ninguém está fazendo, crime continuará sendo.

Artigo IV

Fica decretada anistia aos crimes que todos cometeram.

Que o ICMS seja perdoado e também o PIS e a COFINS, junto com uma bala de menta.

Que todo homem fique livre do IPTU e do IPVA

Que a Prefeitura e a Receita enviem cartas de parabéns no lugar de cobranças.

E enviem também uísque escocês sonegado.

Fica decretado, aliás, que todo uísque sonegado seja perdoado.

Que o imposto de renda não seja retido na fonte.

Que os governos confiem nos homens, e que os homens nunca se esqueçam de pagar o imposto de renda.

Artigo V

Na medida em que ninguém sequestra mais ninguém, o sequestro mantém-se crime hediondo.

E que se todos sequestram todos, o sequestro passa a ser apenas contravenção.

Fica decretado que, se a Constituição manda, então ela não manda.

E vamos combinar que, se todos burlaram o sistema político,

O problema é o sistema político.

Que é preciso “primeiro cortar o pra trás”, para que todo homem ande com uma imensa begônia na lapela.

Fica, aliás, decretado que quem tem coragem de se reunir no porão do Palácio do Jaburu, à meia noite, com o anticristo em pessoa, tem direito a não usar tornozeleira.

Artigo VI

Fica decretado que “temos que trocar os juízes” vira “papapá”

E que “Essa merda das 10 medidas” vira “nananã”

A República passa a ser terra de homens ingênuos.

E as concordâncias passam a ser etiqueta social.

Concordou, é porque não queria ser indelicado.

Artigo VII

Furar fila vira ingenuidade,

Aquela ligaçãozinha pro Gilmar vira parceria institucional.

Indignação agora chamar-se-á chatice.

Será permitido roubar a nação e, com o produto do roubo,

Será permitido comprar a liberdade.

Juízes serão punidos com aposentadoria remunerada.

Corruptos serão condenados à Quinta Avenida de Nova Iorque.

Artigo VIII

Fica decretado que merda, caralho e bosta sejam inscritos na Bandeira Nacional.

Que a Andréa Sadi seja presidente da Câmara,

Que a Camila Bonfim seja a presidente do Senado,

E que o programa de rádio “A Hora do Brasil” passe a se chamar,

Daqui em diante, “Meia Horinha De Conversa Com o Presidente no Porão do Palácio”.

Artigo IX

Institui-se, também, que João Santana e Mônica Moura

Encomendem, de suas contas na Suíça,

Um jingle que rime “Lula Lá” com “Diretas Já”,

E que o judiciário brasileiro se divida em 1ª instância, 2ª instância, Trânsito em Julgado e

Gabinete da Presidência da República.

Artigo X

Decreta-se que nada será obrigado,

Nem proibido,

Tudo será permitido,

Inclusive brincar com os rinocerontes.

Fica decretado, portanto, que agora vale tudo.