
À esquerda, o propositor da homenagem, deputado estadual João Luiz e à direita, Muni Lourenço Silva Júnior, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA). (Fotos: Mauro Smith & Divulgação/Faea)
Manaus (AM) – O deputado estadual João Luiz (Republicanos) quer conceder a Medalha Ruy Araújo, maior comenda da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), ao presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA), Muni Lourenço Silva Júnior, envolvido e multado em mais de R$ 112 mil por diversos episódios de degradação ambiental.
O Projeto de Resolução Legislativa (PRL) n.º 54/2024 entrou na pauta de tramitação ordinária nesta quinta-feira (17) e tem prazo de análise de três dias. Na justificativa da comenda, João Luiz afirma que Muni Lourenço deve ser reconhecido pela “participação meritória na vida da sociedade amazonense”.

(Foto: Reprodução/Aleam)
A propositura vai de encontro à própria atuação do deputado estadual, que, em agosto deste ano, enviou um indicativo à Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Amazonas, solicitando apresentação de registro de informações como incêndios florestais e queimadas controladas.
À época, João Luiz afirmou que “nos últimos anos, os incêndios florestais têm se tornado motivo de preocupação da Casa Legislativa, face aos impactos que causam sobre a qualidade de vida, o meio ambiente e o clima global. Na saúde pública, a fumaça das queimadas está provocando problemas respiratórios na população local, principalmente em crianças e idosos. Além disso, a poluição do ar pode se espalhar para áreas urbanas, agravando ainda mais os problemas para a nossa sociedade”.

(Foto: Reprodução/Site da Aleam)
Controverso, agora o republicano, que participou do anúncio de medidas para combater as queimadas no Amazonas em 14 de agosto deste ano, quer homenagear um degradador ambiental do estado.
Quem é Muni Lourenço
Muni Lourenço Silva Júnior, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (FAEA), é uma das figuras públicas envolvidas em denúncias de desmatamento em Autazes. Ele foi multado pelo Ibama em 2016 em mais de R$ 112 mil por degradação ambiental.
A revelação foi feita pelo site Intercept em novembro de 2023, durante a cobertura do caso “Capivara Filó”, onde o avô do influenciador Agenor Tupinambá, Elmar Cavalcante Tupinambá, foi exposto por desmatar terras em Autazes. Em fevereiro de 2022, ele foi multado pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) por destruir ou danificar mais de 240 hectares de floresta nativa.
Na época da denúncia, Muni afirmou ao Intercept que contestou a multa e que o processo ainda tramita administrativamente. Em 2019, ele assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o IPAAM para recuperar 8,5 hectares degradados, recebendo um desconto de 90% na multa aplicada, embora o cumprimento integral do acordo ainda seja questionado.

Muni Lourenço é presidente do Sistema Faea, Senar, Fundepec – (Foto: Divulgação /Faea)
Além das multas ambientais, Muni também se posicionou contra a demarcação de terras indígenas e a criação de unidades de conservação ambiental, alegando que essas medidas prejudicariam produtores agropecuários, especialmente em Autazes. Ele chegou a pedir, em 2016, que a então presidente Dilma Rousseff anulasse decretos que delimitavam essas áreas em sete municípios do Amazonas.
O caso de Muni é parte de um contexto mais amplo de desmatamento em Autazes, onde, nos últimos 10 anos, as multas por crimes ambientais somaram R$ 5,2 milhões. Especialistas apontam que a subnotificação e a falta de fiscalização aumentaram durante o governo Bolsonaro, o que agravou a situação ambiental na região.
O deputado João Luiz e Muni Lourenço Silva Júnior foram questionados sobre o assunto.
O presidente da Faea, Muni Lourenço, afirmou:
“Em relação às suas indagações, informo-lhe que a multa foi contestada e tramita administrativamente. O TAC firmado foi integralmente cumprido, ressaltando que a propriedade rural, em questão, é licenciada ambientalmente e não tem qualquer pendência com o órgão ambiental estadual.”
O deputado João Luiz, por sua vez, até o fechamento deste material não deu retorno. O espaço segue aberto.
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