Manaus (AM) – A cidade de Manaus faz parte de um levantamento realizado pela Agência Pública que incluiu 1.641 municípios com risco de chuvas alto ou muito alto. Desse número, 907 cidades têm ameaça de impacto elevado para delizamento de terra e alagamentos.
O dado considera o impacto que cidades podem ter devido à exposição e vulnerabilidade, pontos que os próximos gestores podem mudar.
“No dia 1º de janeiro de 2025, pelo menos 1.641 prefeitos no Brasil vão tomar posse em cidades que têm risco de impacto alto ou muito alto para desastres relacionados a chuvas, como deslizamentos de terra e/ou inundações, enxurradas e alagamentos. Elas representam quase 1 a cada 3 municípios do país e 50% da população. Entre essas cidades, 907 têm risco de impacto elevado para os dois tipos de desastres. É o caso de capitais como Rio de Janeiro, Salvador, São Luís, Natal, Maceió, Macapá e Manaus”, diz trecho da publicação.
Conforme o estudo, o agravamento das mudanças climáticas impõe aos novos mandatários um desafio extra de gestão. Em Manaus, sete chapas disputam o comando da Prefeitura de Manaus, entretanto, o Portal AM1 questionou apenas os cinco primeiros colocados na disputa eleitoral, segundo as pesquisas de intenções de voto, sobre como eles recebiam a informação. David Almeida (AVante), Amom Mandel (Cidadania), Roberto Cidade (União Brasil), Alberto Neto (PL) e Marcelo Ramos (PT) têm em seus planos de governo registrados junto a Justiça Eleitoral sugestões voltadas à área ambiental, mas sobre o alerta revelado pela Pública no último dia 15 de agosto, apenas Ramos respondeu.
Segundo o candidato, caso eleito, a recomendação é agilizar, entre outros pontos, programas de moradias em Manaus.
“Nós não temos como evitar a chuva, mas temos o dever de ter uma ação preventiva em relação às chuvas, excessos de chuvas anunciados e risco de desabamento de moradias, com a vida das pessoas sendo colocada em risco consequentemente. Então, o que nós vamos fazer é remover essas pessoas com a agilidade necessária. Tanto em aluguel social, como também priorizando essas pessoas nos programas de moradias populares da Prefeitura Municipal de Manaus”, declarou.
Pauta ambiental
O pesquisador e biólogo, Dr Lucas Ferrante, em entrevista ao Portal AM1, explica que é fundamental que candidatos tenham em seus planos de governo indicações de contingenciamento de riscos ambientais. Porém, além disso, o especialista acredita que o eleitor tem papel fundamental em ações que minimizem os impactos negativos causados ao meio ambiente. Isso porque, segundo Ferrante, cabe aos manauaras escolherem como seus representantes políticos que estejam comprometidos com a questão ambiental.
“Os prefeitos que vão assumir em 2025 precisam ter planos, tanto de contingenciamento de riscos por conta do aumento de tempestades na Amazônia, como também por conta dos alertas de seca que devem se prolongar nos próximos anos. É fundamental que as pessoas escolham, dentre os seus representantes, políticos que têm pautado pela questão ambiental, principalmente o controle do desmatamento e das queimadas. Isso é fundamental para a manutenção do clima e para evitar que a Amazônia chegue ao ponto denominado como turning point, ponto de não retorno, onde todos esses eventos climáticos extremos tendem a se exacerbar”, informa.
Para o especialista, é essencial que os prefeitos do Amazonas tenham um plano climático e ambiental para os municípios.
Dos sete candidatos que disputam a Prefeitura de Manaus, Ferrante destaca a ausência de propostas voltadas para a preservação ambiental da região. Ele cita que o candidato do PT, Marcelo Ramos, é o único que montou um comitê para elaboração de políticas ambientais, caso seja eleito prefeito. Entretanto, pelo seu histórico parlamentar, Ramos “não representa um aliado da causa”, segundo a visão de Lucas Ferrante.
“Especificamente para Manaus, um único candidato tem um comitê para elaboração de políticas ambientais, que é o candidato Marcelo Ramos, do PT. Entretanto, precisamos lembrar que esse é um político não alinhado ao seu histórico com as causas ambientais. Ou seja, Manaus hoje não tem candidatos com histórico de alinhamento às causas ambientais”, diz.
O biólogo acrescenta ainda que, dada a situação, há uma necessidade de tomada de decisão ao nível da Câmara Municipal de Manaus, onde, além da escolha de prefeitos, os eleitores devem analisar candidatos ao cargo de vereador que apresentem disposição às causas ambientais. Dessa forma, para que, na condição de eleitos, esses parlamentares fiscalizem as ações da prefeitura.
“Procurar se o seu vereador ou vereadora está defendendo causas ambientais, está ligado a causas ambientais, é fundamental como um reforço e um poder fiscalizatório, independente do candidato a prefeito que ganhe nessas eleições”, finaliza Ferrante.
Não é só a chuva forte que faz um desastre
“Não estamos aqui falando se há ou não o risco de existir um desastre, mas do risco do impacto que esse desastre pode causar, o que é muito diferente”, explica Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Estamos falando que, se acontecer um deslizamento ou uma inundação, o impacto é maior ou menor dependendo da vulnerabilidade e da exposição daquela população”, diz.
O fator vulnerabilidade considera quão sensível é um determinado lugar a ser alterado diante do desastre (deslizar, inundar, por exemplo) e se ele tem a chamada capacidade adaptativa – que é quanto as cidades estão preparadas para responder ao desastre.
Esse é um dos fatores de maior fragilidade no país. As cidades simplesmente não estão preparadas: de acordo com o AdaptaBrasil, 66% do total de municípios do Brasil (3.679) possuem capacidade adaptativa baixa ou muito baixa para deslizamentos de terra. Quando se observa a situação para inundações, enxurradas e alagamentos, o número é ligeiramente maior, com 3.739 cidades com capacidade adaptativa baixa ou muito baixa para enfrentar esse tipo de desastre.
Desastres ambientais Manaus
Um estudo de 2023 da MapBiomas coloca Manaus como a cidade com maior expansão das áreas urbanizadas em assentamentos precários no país. A ocupação desordenada em áreas de risco ocasionou problemas ambientais graves, como a ocorrência de desastres naturais e outros processos de degradação ambiental.
Vale destacar que, também em 2023, Manaus liderou um ranking de cidades com o maior número (23) de desastres naturais registrados, como fortes chuvas e deslizamentos de terra.
No ano passado, a cidade foi considerada a capital brasileira com a pior qualidade do ar devido à seca histórica e ao grande número de queimadas na região.
Já em julho de 2024, o Amazonas registrou um recorde de mais de 4.200 focos de incêndio, o maior número desde 1998, como consequência, neste mês de agosto, Manaus voltou a ser inundada por fumaça, principalmente provenientes de queimadas no sul do Amazonas, o que deixou a qualidade do ar “ruim” novamente.
Com informações da Agência Pública
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