Manaus, 28 de abril de 2024
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Cidades

Massacre do Rio Abacaxis foi operação de extermínio, afirma coletivo

Durante coletiva, na Cúria Metropolitana, as organizações repudiaram as manobras para esvaziar a continuidade da investigação e privilegiar a impunidade.

Massacre do Rio Abacaxis foi operação de extermínio, afirma coletivo

Comunidade indígena do Rio Abacaxis (Foto: Cimi Regional Norte 1)

Manaus (AM) – O Coletivo Pelos Povos do Abacaxis afirmou, em carta de repúdio, que os assassinatos de dois indígenas e quatro ribeirinhos em agosto de 2020, no Baixo Madeira, entre os municípios de Nova Olinda do Norte e Borba, foram uma “operação de extermínio”.

Durante coletiva, nesta quarta-feira (17), na Cúria Metropolitana de Manaus, o coletivo, composto por 17 organizações civis e religiosas, se manifestou sobre a notícia de que dois ex-integrantes da alta cúpula de Segurança do Estado do Amazonas: o ex-secretário de Segurança Pública do estado, Coronel Louismar Bonates, e o ex-comandante da Polícia Militar, Coronel Ayrton Norte, foram indiciados como supostos mandantes dos crimes.

“As duas ações da Polícia Militar do Estado do Amazonas nos rios Abacaxis e MariMari, em 2020, comandadas pelos indiciados, foram verdadeiras operações de extermínio. A primeira destas operações foi motivada pela tentativa de invasão da região do rio Abacaxis, área tradicional de indígenas e ribeirinhos, pelo então secretário do Fundo de Promoção Social (FPS), do Governo do Estado do Amazonas, Saulo Moysés Rezende Costa. A projetada retaliação resultou em uma desastrada ação armada, executada por uma milícia formada por policiais sem farda, dentre os quais dois foram mortos e outros dois feridos”, diz a carta.

Coletiva contou a presença do cardeal Leonardo Steiner (Foto: Arquidiocese de Manaus)

O ataque ocorreu após uma tentativa de invasão de pescadores esportivos, dentre eles, o ex-secretário executivo do FPS-AM, Saulo Moyses Resende Costa, durante a pandemia de Covid-19, seguida da primeira operação ilegal da Polícia Militar.

Coletivo quer informar para diminuir a violência

Para o padre Sandoval Rocha, a carta de repúdio quer sensibilizar e informar a sociedade sobre as situações de violências cometidas pelo Estado. “A gente quer sensibilizar e informar a sociedade para que todos possam acompanhar. Vai ser enviada para o Estado, para o Ministério Público, para a Secretaria de Segurança e para as devidas instâncias oficiais. Mas a gente já sabe que estão acontecendo as investigações, e temos que comemorar”, afirmou o religioso.

Conforme Sandoval, é necessário divulgar sobre o massacre para ajudar na diminuição desse tipo de crime.

“Para que a sociedade saiba que a impunidade tem que ser diminuída e cada vez mais combatida no nosso país, porque se a impunidade continua; se a sociedade não sabe o que é; se esses casos não visibilizados, é difícil que haja uma cobrança e que a lei possa ser implementada”, disse Sandoval.

Investigações

Após o massacre, a Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar estas violações, que resultou no indiciamento dos supostos autores. Porém, segundo o coletivo, ainda é necessária a identificação e responsabilização dos demais envolvidos nos crimes.

Ainda segundo o coletivo, durante a investigação – que já dura quase três anos – houve rotatividade de seis delegados, diversos juízes e, na semana seguinte, após a reportagem que anunciou o indiciamento do ex-secretário de Segurança e do ex-comandante da Polícia Militar, houve rumores da existência de uma manobra maliciosa para retirar o atual delegado da condução do inquérito, delegado este, que também preside o inquérito do duplo homicídio de Bruno Pereira e Dom Phillips.

“Repudiamos e denunciamos as manobras que objetivam esvaziar a continuidade da investigação e privilegiar a impunidade e a injustiça. Como Coletivo que acompanha o caso desde o início, clamamos ao Ministério da Justiça e à Polícia Federal que mantenham a equipe atual nas investigações, forneçam todas as condições para que sigam com seus trabalhos, para que as investigações sejam finalizadas com o indiciamento de todos os envolvidos, sem novas interferências e com imparcialidade, até a sua conclusão.”

A coletiva contou com a presença do Cardeal Leonardo Steiner e representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares); Comissão Pastoral da Terra (CPT); Laboratório de Pesquisa Dabukuri; Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (FAMDDI).

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