Manaus, 11 de maio de 2024
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Manchete

Melo recebia dinheiro de propina em espécie e comprou imóvel de R$ 7 milhões

Melo recebia dinheiro de propina em espécie e comprou imóvel de R$ 7 milhões

Melo teve crescimento de patrimônio incompatível com os ganhos (Foto: Divulgação)

O ex-governador José Melo (PROS), preso nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal no âmbito da Operação Estado de Emergência, teve um aumento do patrimônio considerado incompatível com o salário de governador, de R$ 30 mil. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), há fortes indícios de que Melo recebeu recursos em espécie de Mouhamad Moustafa, médico e empresário preso em 2016. Uma nota técnica da Controladoria Geral da União (CGU) aponta para enriquecimento ilícito do ‘velhinho’ (termo usado por Moustafa), que comprou um imóvel de alto valor, avaliado em cerca de R$ 7 milhões, além de ter feito reformas vultuosas em sítio tambaém de sua propriedade.

Melo teve crescimento de patrimônio incompatível com os ganhos (Foto: Divulgação)

A Polícia Federal interceptou diálogo entre Mouhamad Moustafa e a advogada Priscila Marcolino, também denunciada no esquema de desvios na saúde, em que ele pedia a ela que sacasse R$ 200 mil, para que Mouhamad ficasse com R$ 500 mil em casa, pois havia recebido um pedido direto de José Melo.

Em outra ocasião, utilizando aplicativo de mensagens, Mouhamad pede novamente à Priscila que realize um saque, pois o “Gov e o irmão” estavam implorando pelo recebimento de uma quantia de R$ 80 mil.

Terceira fase da Maus Caminhos

Na manhã desta quinta-feira, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em sete imóveis residenciais e comerciais localizados na Região Metropolitana de Manaus, além do mandado de prisão de Melo.

Conforme Relatório de Inteligência Financeira do Ministério da Fazenda, a movimentação financeira do ex-governador foi considerada incompatível com a renda dele, tendo sido detectados indícios de ilicitudes, como realização de saques e depósitos em valor atípico em relação à atividade econômica ou capacidade financeira de José Melo, realização de saques em espécie em contas receptoras de transferências eletrônicas de várias origens em curto espaço de tempo, além de movimentação reiterada de recursos de alto valor em benefício de terceiros.

Grupo criminoso

Em 2016, a Operação Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuía contratos firmados com o governo do estado para a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales, em Manaus; da Maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de Reabilitação em Dependência Química (CRDQ) do Estado do Amazonas, em Rio Preto da Eva. A gestão dessas unidades de saúde era feita pelo Instituto Novos Caminhos (INC), instituição qualificada como organização social.

Moustafa chamava Melo de “velhinho” (Foto: Divulgação)

As investigações que deram origem à operação demonstraram que dos quase R$ 900 milhões repassados, entre 2014 e 2015, pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Estadual de Saúde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados ao INC. A apuração indica o desvio de R$ 50 milhões em recursos públicos, além de pagamentos a fornecedores sem contraprestação ou por serviços e produtos superfaturados, movimentação de grande volume de recursos via saques em espécie e lavagem de dinheiro pelos líderes da organização criminosa.
No dia 13 deste mês, foi deflagrada a Operação Custo Político, que prendeu 12 pessoas, entre elas ex-secretários estaduais de pastas como Saúde, Fazenda, Administração e Casa Civil, além de um coronel da Polícia Militar. Conforme as investigações, o grupo recebeu, pelo menos, R$ 20 milhões em propina. Um dos secretários de saúde, à época de seu mandato, chegou a receber pelo menos 14 pagamentos de R$ 133 mil para favorecer o INC, desde a qualificação do instituto como organização social. Outro pagamento identificado, também envolvendo um ex-secretário, totaliza R$ 5,6 milhões, pagos durante 18 meses em repasses de R$ 300 mil.