Manaus, 23 de maio de 2024
×
Manaus, 23 de maio de 2024

Economia

Mineração e petróleo puxam recuperação da indústria brasileira

Mineração e petróleo puxam recuperação da indústria brasileira

O emprego industrial no Paraná expandiu 2% em março, em comparação ao mesmo mês do ano passado, enquanto a média nacional registrou queda de 0,6%. Foto: Gilson Abreu/FIEP

Apesar de crescimento de 0,6%, setor industrial não recupera perdas passadas. (Foto: Gilson Abreu/FIEP)

Em um ano marcado por incerteza — principalmente após o agravamento da crise política —, o segmento de extração de petróleo e minério deve ser o ponto forte da tímida recuperação da indústria brasileira. Essa é a avaliação de analistas, após os dados divulgados ontem pelo IBGE, que mostram que o setor apresenta o mesmo comportamento do restante da economia: cresceu, mas não convenceu. Em abril, a produção industrial teve alta de 0,6% frente a março, o primeiro resultado positivo do ano e a maior alta para o mês desde 2013, mas insuficiente para recuperar as perdas dos meses anteriores. Em março, a indústria havia recuado 1,3%.

O setor extrativo até registrou perda na passagem de março para abril, de 1,4%, mas, no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, registra alta de 7,2%. Situação bem melhor que a da indústria geral, que está no negativo em 0,7%.

Segundo projeção da Tendências Consultoria, a indústria extrativa deve encerrar o ano com alta de 7%, respondendo por 1 ponto percentual da esperada alta de 2,4% da indústria geral — projeção mais otimista que a mediana do mercado.

“Nossa avaliação é que isso (as perdas nos últimos meses) não vai ser a tônica do ano. Estamos com cenário de expressivo crescimento em 2017. Vai ser um dos vetores de crescimento da indústria. Temos projetos que já começaram no ano passado, como o S11D (projeto de minério de ferro da Vale), e vemos a Petrobras entrando com algumas plataformas em funcionamento este ano”, destaca Thiago Xavier, economista da Tendências.

Paulo Val, economista-chefe do Brasil Plural Asset Management, também vê potencial no segmento, principalmente considerando a possibilidade de exportação, em um momento de demanda interna fraca, que tem derrubado setores essencialmente dependentes do mercado consumidor doméstico.

“Provavelmente, se tivermos uma notícia boa, há grande chance que seja desse setor”, avalia o economista.

Rodrigo Nishida, economista da LCA, destacou que a indústria extrativa é um dos exemplos de segmentos que podem sentir menos os efeitos da incerteza política, por já terem projetos contratados. Mas calcula que o impacto positivo se esgotará nos próximos meses.

“Considerando a comparação interanual, a indústria extrativa deverá continuar registrando altas relevantes ao longo do ano. No entanto, na relação marginal, a contribuição deverá ser menor nos próximos meses”, afirma Nishida.

Já Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, calcula que os números positivos da indústria extrativa refletem mais o desempenho de 2016:

“Apesar de ter recuado na margem nos últimos três meses, deve continuar positiva na comparação anual por mais alguns meses. A alta em 2016 reflete a recuperação na produção de petróleo, entre outros produtos”.

À exceção do setor extrativo, os dados de abril da indústria indicaram recuperação frágil, segundo analistas. A alta de 0,6% de abril foi sustentada praticamente pelo avanço de 19,8% da indústria farmacêutica, que recuperou parte da perda de 23,4% registrada no mês anterior. Sozinho, respondeu por 0,5 ponto percentual do resultado do mês, segundo estimativa da Tendências. Não fosse o segmento, que é muito volátil, a alta seria de 0,1%.

Na avaliação de André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, o dado mostra uma tendência de estabilização, o que significa que a indústria parou de piorar. Mas é cedo para falar em recuperação.

“Dos quatro principais impactos que tiveram influência positiva importante, todos tiveram comportamento negativo no mês anterior, o que reforça o caráter errático da produção industrial. Não fica clara uma retomada”.

As expectativas para o restante do trimestre não são animadoras. O Itaú Unibanco já projeta queda de 1% em maio, enquanto outros analistas não descartam taxas negativas nos próximos dois meses, refletindo eventuais impactos da turbulência política causada pela delação da JBS, no mês passado.

“Se essa incerteza realmente tiver um impacto muito forte, o que está diretamente relacionado ao tempo, pode fazer com que as expectativas de demanda, que melhoraram na sondagem, sejam frustradas. E isso pode causar aumento de estoques, como se a indústria estivesse dando um passo atrás”, afirma Tabi Thuler Santos, coordenadora de Sondagem de Indústria do Ibre/FGV.

Fonte: O Globo