Manaus (AM) – Cinco anos após o assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos, ocorrido em setembro de 2019, um novo crime trouxe o caso de volta aos holofotes. O sargento da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), Elizeu da Paz de Souza, morreu na terça-feira (5), após ser baleado na cabeça dentro de um carro de aplicativo, próximo ao bairro da Paz, na zona Centro- Oeste de Manaus, na noite de segunda-feira (4).
Um detalhe chama a atenção: Elizeu é a terceira pessoa ligada ao “Caso Flávio” que foi assassinada. As outras foram o delegado da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), Aldeney Góes, morto em uma farmácia no dia 28 de outubro de 2022, em Belém do Pará, onde passava férias com a família, e Mateus de Moura Martins, uma das testemunhas do crime do engenheiro. Ele foi executado a tiros em novembro de 2022, em uma barbearia na rua Belo Horizonte, no bairro Aleixo, zona Sul de Manaus, enquanto o filho de 8 anos cortava o cabelo.
No caso mais recente, o autor do disparo que matou Elizeu é Mayc Vinicius Teixeira Parede, ex-policial militar e também envolvido na morte do engenheiro Flávio. Inclusive, ele foi o único réu que confessou o assassinato. Os dois aguardavam julgamento em liberdade.
“A principal testemunha deste caso é o motorista do aplicativo. Ele contou que a vítima sentou no banco do passageiro e Mayc sentou no banco de trás, na direção de Elizeu. Pouco depois que a corrida começou, ele pegou um estampido e descobriu que o pneu havia estourado. Quando o motorista virou para falar com o sargento, ele notou que a cabeça dele estava sangrando”, explicou a delegada Marília Campello, adjunta da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).
Segundo a delegada, outra testemunha relata que Elizeu da Paz e Mayc ficaram brigados recentemente e estavam sem se falar. No entanto, a amizade foi retomada recentemente.
“Apesar dessa informação, dentro do veículo onde a vítima foi morta, não houve discussão entre o suspeito e o sargento, tampouco antes de entrarem no carro. Quanto à arma utilizada no crime, ela alcançou Elizeu da Paz e esteve em posse de Mayc, pois a vítima confiou no armamento ao amigo em momentos em que estava sob efeito de álcool”, comentou a delegada.
Delegado morto
O delegado Aldeney Góes Alves foi assassinado na noite de 28 de outubro de 2022, em Belém, no Pará, onde passava férias com a família. O crime aconteceu em uma farmácia e foi registrado pelas câmeras de segurança do estabelecimento. As imagens mostram o delegado na caixa, sendo atendido, quando é abordado por dois homens armados. Logo em seguida, ele cai no chão e consegue sacar sua arma, mas é atingido com vários tiros. O delegado ainda chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Aldeney Góes foi um dos primeiros a iniciar as investigações no “Caso Flávio” e foi quem prendeu Alejandro Valeiko, filho da ex-primeira-dama de Manaus, Elisabeth Valeiko, investigado pela morte do engenheiro.
O delegado também foi responsável por pedir a prisão de Elizeu da Paz Souza e dos demais envolvidos no caso.
Testemunha assassinada
Quase um mês depois da morte do delegado, uma testemunha do caso do engenheiro foi assassinada. Mateus de Moura Martins foi executado no dia 15 de novembro de 2022, em uma barbearia na rua Belo Horizonte, no bairro Aleixo, zona Sul. Ele aguardava o filho de 8 anos cortar o cabelo.
De acordo com informações da polícia, Mateus foi o traficante que foi à casa de Alejandro Valeiko, no condomínio Passaredo, no bairro Tarumã, zona Oeste, para fornecer droga para quem estava na festa realizada no local.
Conforme a polícia, Mateus foi morto com dois tiros na cabeça por um homem que entrou no estabelecimento. O suspeito fugiu logo em seguida.
‘Caso Flávio’
O homicídio do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos ocorreu no dia 29 de setembro de 2019, durante uma festa na casa de Alejandro Molina Valeiko, filho da ex-primeira-dama, Elisabeth Valeiko, esposa do ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Segundo a polícia, um grupo de pessoas estava na casa de Alejandro Valeiko bebendo e usando drogas. De repente, começou uma discussão, seguida de agressões com facas. Flávio dos Santos foi esfaqueado e morreu.
O corpo dele foi encontrado no bairro Tarumã, na tarde de segunda-feira (30), próximo à casa de Alejandro. Após a identificação da vítima, o caso ganhou grande repercussão por conta do suposto envolvimento do enteado de Arthur, além de outro detalhe: o carro usado para retirar o corpo do condomínio seria da Prefeitura de Manaus.
Segundo as investigações, Elizeu da Paz de Souza, que estava lotado na Casa Militar da Prefeitura de Manaus e seria segurança de Alejandro, estava dirigindo o veículo. A polícia diz que o PM Elizeu de Souza foi até o condomínio, colocou o corpo no carro e saiu do local da festa.
Lutador de MMA e ex-policial militar, Mayc Parede aparece em vídeos de câmeras de segurança entrando com Elizeu no condomínio. Minutos depois, ambos deixam o local, e Mayc – desta vez – aparece sentado no banco de trás do veículo.
Mayc confessou a participação no crime ao ser preso em 2019, alegando ser o culpado pelas facadas desferidas na vítima.
Além de Flávio, outra pessoa ficou ferida durante uma briga. Elielton Magno de Menezes Gomes Júnior, que chegou a ser preso também, mas depois ficou como testemunha do caso. Ele esteve presente na festa na casa de Alejandro e, em imagens do dia do fato, aparece jogado no chão após ter sofrido um ferimento com arma branca nas costas.
Após a conclusão das investigações, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) denunciou à Justiça cinco pessoas: Alejandro Molina Valeiko, sua irmã Paola Molina Valeiko, Elizeu da Paz Souza, Mayc Vinícius Teixeira e José Edvandro Martins de Souza Júnior.
Paola foi denunciada por fraude processual e José Edvandro por denúncia caluniosa.
Audiência e absolvição
Em dezembro de 2021, a Justiça do Amazonas absolveu Paola Valeiko Molina e impronunciou Alejandro Molina Valeiko. Na decisão, o juiz Celso Souza de Paula, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Manaus, determinou que Elizeu da Paz de Souza e Mayc Vinicius Teixeira Parede fossem levados a júri popular. José Edvandro Martins de Souza também foi absolvido.
Para o magistrado, não há provas suficientes da participação de Alejandro Valeiko no homicídio do engenheiro. No entanto, como foi impronunciado, o processo poderá ser reaberto caso surjam novas provas.
“O conjunto probatório amealhado durante a fase de investigação e demonstrações durante a ação penal, não comprovam, em momento algum, os necessários indícios suficientes de autoria delitiva do acusado Alejandro, sem qualquer imputação precisa e da relevância de sua omissão para a criação do risco e do resultado posterior, tal qual exige o art. 13, § 2º, do Código Penal. Dessa forma, resta evidente ser o caso de impronúncia do corréu Alejandro Molina Valeiko, em razão da falta de demonstração das declarações suficientes de autoria delitiva”, disse o magistrado na decisão na época.
Em relação à Paola Valeiko, que segundo a denúncia do MPAM teria limpado manchas de sangue no local do homicídio com a intenção de alterar o estado do imóvel antes da realização da perícia, o magistrado entendeu que não houve dolo em sua conduta.
“Necessário verificar a ausência de qualquer conduta tipificada como crime; portanto, o fato é totalmente atípico, especialmente porque ausente de dolo em sua conduta, legitimando o comando de sua absolvição sumária, nos termos do art. 397, III, do Código de Processo Penal”, decidiu.
Sobre o júri popular a que Elizeu e Mayc seriam levados, então até, segue sem dados divulgados pelo TJAM.
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