Manaus, 24 de abril de 2024
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Manaus, 24 de abril de 2024

Brasil

Morte de Thiago de Mello repercute no país; velório será nesta sexta

Ícone da literatura latino-americana, Thiago de Mello está sendo velado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no Centro de Manaus

Morte de Thiago de Mello repercute no país; velório será nesta sexta

Foto: Divulgação

MANAUS, AM – A morte do poeta e escritor amazonense Thiago de Mello repercutiu nos meios de comunicação do Brasil e do mundo inteiro. Nesta sexta-feira (14), veículos de comunicação do país olharam para Manaus, lembrando da estatura moral e da contribuição do poeta para a literatura brasileira.

O jornal Folha de S.Paulo disse que Thiago “cantou em prosa e verso sua luta pela preservação da maior floresta do mundo”. Já o jornal Correio Braziliense classificou o poeta como “grande defensor da floresta e dos direitos humanos”.

Leia mais: Políticos e órgãos do Amazonas lamentam morte de Thiago de Mello

Amadeu Thiago de Mello nasceu na vila de Porantim do Bom Socorro, no município de Barreirinha, em 1926. Foi adido cultural do Brasil na Bolívia e no Chile, e durante o regime militar (1964-1965), exilou-se em Santiago, capital chilena.

O poeta, radicado em Manaus, também é o autor de um dos mais célebres poemas da literatura mundial: Os Estatutos do Homem, dedicado a Carlos Heitor Cony, seu amigo. A obra foi traduzida para mais de 30 idiomas. Thiago de Mello faleceu de causas naturais durante a madrugada desta sexta-feira, aos 95 anos de idade.

Veículos de comunicação de grande relevância nacional, como Veja, O Globo, G1, UOL, Metrópoles, O Liberal, Brasil247, Revista Fórum, Gazeta, O Povo, O Antagonista e Gaúcha ZH, também deram espaço para a morte do ‘Poeta da Floresta’, em seus canais da web.

Velório

O corpo de Thiago de Mello vai ser velado, no Centro Cultural Palácio Rio Negro, na avenida Sete de Setembro, Centro de Manaus, nesta sexta-feira (14).

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV.
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII.
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX.
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

Artigo X.
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI.
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII.
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII.
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Santiago do Chile, abril de 1964

(*) Com informações da assessoria.

fato