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Eleições 2020

Mulheres vão ocupar uma cadeira a mais na CMM, mas representatividade ainda é pouca

Na legislatura passada, a Casa Legislativa contava com apenas três vereadoras; redução de mulheres na Câmara Municipal vem ocorrendo desde os últimos quatro pleitos

Mulheres vão ocupar uma cadeira a mais na CMM, mas representatividade ainda é pouca

Foto: Reprodução

Embora a bancada feminina da Câmara Municipal de Manaus (CMM) tenha conquistado mais uma cadeira nas eleições deste ano, totalizando quatro, a quantidade ainda é pouca e longe do ideal para as mulheres, que são a maioria da população brasileira.

As vereadoras eleitas e estreantes foram Thaysa Lippy (PP) e Yomara Lins (PRTB), com 6.736 e 4.278 votos, respectivamente. Já as reeleitas foram Professora Jacqueline (Podemos), com 9.208 votos e Glória Carratte (PL), com 4.299 votos.

Todas  formam a bancada feminina na CMM e representam 9,75% de todo o Parlamento Municipal.

Redução

Na legislatura passada, a Casa Legislativa contava com apenas três vereadoras: Professora Jacqueline, Glória Carrate e Mirtes Salles. Essa redução de mulheres na Câmara Municipal vem ocorrendo desde os últimos quatro pleitos.

Nas eleições de 2004, oito mulheres ocupavam cadeiras e formavam a bancada feminina na CMM. No pleito seguinte, em 2008, esse número reduziu para seis. Em 2012, apenas cinco foram eleitas.

Já em 2016, houve mais uma redução, visto que apenas três vereadoras foram eleitas. As quatro vereadoras eleitas neste ano podem representar um leve avanço para a classe.

‘Sinto que diminuiu’

Para a vereadora reeleita mais votada, Professora Jacqueline, no seu primeiro mandato, em 2013, a quantidade de parlamentares mulheres na Casa Legislativa era dobrada. Por isso, mesmo que neste ano pareça ter aumentado, ela sente que houve redução.

“Mesmo com uma mulher a mais este ano, eu sinto que diminuiu, no meu primeiro mandato, eram oito mulheres. A sociedade precisa reconhecer que as mulheres têm competência técnica, são menos delitivas, mais horas de estudo, entre outras habilidades que podem estimular outras mulheres a buscar ocupar espaços de decisão como o parlamento”, disse a vereadora ao Portal AM1.

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Ela afirma que, mesmo sendo maioria, as mulheres têm pouca representatividade na política. “Nós, mulheres, somos a maioria, sendo 52% de eleitoras, nosso voto pode ser decisivo nas urnas, mas, ainda assim, a representatividade é menos de 10%, por isso que perdemos políticas públicas e direitos conquistados”.

‘Aquém do ideal’

Estreante no Parlamento Municipal, Thaysa Lippy considera o aumento significativo, mas ainda longe do ideal.

“Qualquer tipo de aumento é significativo, porém, ainda estamos muito aquém do ideal. Apesar de sermos a maioria na população e, inclusive, a maioria do eleitorado brasileiro, ainda temos poucas mulheres ocupando cargos eletivos, o que é uma pena, precisamos mudar esse cenário com urgência”, disse.

Ela garante, ainda, que seu mandato adotará medidas para inserir mais mulheres no contexto da política.

“Meu mandato vai ser participativo e a atuação das mulheres nele será evidente. Quero fomentar políticas públicas que insiram as mulheres cada vez mais no universo da política e incentivá-las a concorrem a vagas em disputas eleitorais de todos os níveis”, concluiu.

‘Retrocesso lamentável’

Para a ativista feminista Erika Carmo, que também se candidatou a vereadora, no pleito deste ano, a quantidade de eleitas é pouca.

“Para mim, é um retrocesso lamentável, é muito pouco mesmo essa quantidade de mulheres e não basta ser mulher, tem que ser mulher que demande pela população, que fale, que questione essa estrutura machista que a gente tem”, disse Erika.

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“A gente está tendo um aumento, um avanço. Em vários lugares do Brasil, a gente teve aí bancadas eleitas, mulheres trabalhadoras eleitas, mulheres que são a representatividade da diversidade de gênero. Contudo, em Manaus, a gente tem essa estrutura muito viciada. Com práticas, por exemplo, de compra de votos”, continuou.

Feminismo e política

De acordo com Erika Carmo, o feminismo atua justamente neste momento, para questionar comportamentos machistas e não normatiza-los.

“O movimento feminista deve estar presente justamente porque questiona as bases, questiona os sistemas, essa estrutura machista. Mulheres que têm coragem, com força para enfrentar tudo isso, mulheres que não vão conchavar com esses velhos caciques. Então, essa é a nossa diferença, a nossa vontade de transformar essa política numa política para o bem comum”, explica.

Embora este ano tenham sido eleitas menos mulheres, a sensação é de persistência, de que o cenário político para a classe feminina ainda pode mudar. Segundo a ativista feminista, o trabalho começa conscientizando as bases.

“Daqui a quatro anos tem de novo, a gente vai lutar, novamente, para querer nosso espaço. Essa estrutura movida por dinheiro é muito forte, né, então a gente tem que fazer um trabalho educativo, que é um trabalho a longo prazo. Voltar para a base, conversar com a população, dizer para que não venda seu voto, é algo que vai demandar mulher. Temos que romper muitas ideias do senso comum, de que política não presta, que não tem ninguém bom, que política não é coisa de mulher”, concluiu.