Manaus, 20 de abril de 2024
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Manaus, 20 de abril de 2024

Cidades

Mulheres se destacam na Ciência e na Educação no Amazonas

Embora as mulheres sejam minoria na Ciência, dra. Priscila Aquino se destaca no AM; Na educação, Reni Formiga é 'apaixonada' pela causa da inclusão

Mulheres se destacam na Ciência e na Educação no Amazonas

Foto Érico Xavier -Dra. Priscila / Arquivo Pessoal Reni Formiga

Manaus – A busca pela igualdade de gênero tem levado muitas mulheres a carreiras de destaques em todo o mundo. Mesmo sendo uma conquista, as mulheres ainda ocupam cargos de chefia recebendo salários inferiores aos homens. Em algumas das áreas, elas ainda têm sido minoria, como nas Ciências em geral.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atualmente, as mulheres representam 54% dos estudantes de doutorado do Brasil. Mas tanto aqui, como no resto do mundo, essa participação varia de acordo com a área do conhecimento.

Segundo dados coletados na pesquisa, nas ciências da saúde, por exemplo, as mulheres são maioria (mais de 60%), mas nas ciências da computação, engenharia, tecnologia e matemática, elas representam menos de 25%, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Ainda de acordo com a ONU, menos de 30% dos pesquisadores e cientistas são mulheres em todo o mundo. Na área da pesquisa no Amazonas, um nome feminino vem se destacando, principalmente no desenvolvimento de estudos voltados ao combate da covid-19. A doutora Priscila Ferreira de Aquino contou que o interesse pela pesquisa iniciou ainda na graduação, mas foi aperfeiçoada no Mestrado e depois no Doutorado. Priscila se diz uma “apaixonada” pela pesquisa.

“Quando iniciei a graduação em Química, comecei a ter interesse por essa parte mais da pesquisa e mais laboratorial, apesar de que meu curso tem uma vertente para a área industrial. Tive a oportunidade de fazer a iniciação cientifica, trabalhando com fungos endofíticos lá na Universidade, com estudo químico e da Microbiologia, além de ser monitora de algumas disciplinas experimentais. Isso tudo foi me aproximando mais da pesquisa e quando eu decidi fazer meu Mestrado, mudei um pouco a minha área e resolvi aplicar a química mais voltada à área da saúde. Foi nesse momento que começou a se concretizar a minha vontade de viver da pesquisa, que é o amor da minha vida”, disse ela.

Ela também falou dos contratempos durante os estudos e que houve momentos em que pensou em trocar de curso, mas foi através da iniciação à pesquisa que ela conseguiu evoluir e ver a importância da sua área para o desenvolvimento da sociedade.

Dra. Priscila Aquino em laboratório - Foto Érico Xavier

Dra. Priscila Aquino em laboratório – Foto Érico Xavier

“Eu acredito que todos que tenham vivenciado um pouco essa área da pesquisa, desde a sua graduação até a formação, passe por esses contratempos, limitações e superação. Eu acho que faz parte do crescimento e do amadurecimento da pessoa na pesquisa, enquanto pesquisadora. Houve momentos que eu quis trocar de faculdade e fazer outra, e foi a pesquisa que fez com que eu me apaixonasse cada vez mais no meu curso”, disse.

Outra dificuldade apontada pela doutora Priscila é quanto os valores pagos pelas bolsas de Mestrado e Doutorado, que não são suficientes para custear os gastos com os estudos, ainda mais para que se desloca para outras cidades e até mesmo outros países.

“A bolsa que a gente recebe é um valor abaixo do que a gente necessita para manter os custos. Eu que fiz meu doutorado em outra cidade, tinha um custo mais elevado. Eu necessitei da ajuda e do apoio dos meus pais para que eu conseguisse finalizar meus estudos. Tive que abdicar de uma maior interação com amigos e familiares para me dedicar e estudar cada vez mais a minha pesquisa. São coisas que, em geral, a grande maioria de estudantes passa ao longo de suas carreiras”, relembrou Priscila.

A especialista revelou que não imaginava ser pesquisadora. Seu sonho era ser cardiologista e cirurgiã. Ela bem que chegou a prestar vestibular para o curso de Medicina, mas isso mudou no momento que ela adentrou os laboratórios da Universidade.

“Eu almejava ser médica, apesar de estar cursando Química, e vinha prestando vestibular para essa outra graduação, mas a partir do momento que eu tive o acesso ao laboratório, que eu conheci um pouco mais das técnicas, das ferramentas e do meu curso, eu vi a possibilidade de eu realizar a pesquisa. Isso se concretizou mais ainda no momento que eu decidi fazer o Doutorado”, adiantou Priscila.

Dra. Priscila Aquino no dia a dia na Fiocruz-AM - Foto Érico Xavier

Dra. Priscila Aquino no dia a dia na Fiocruz-AM – Foto Érico Xavier

Atualmente, ela está envolvida em uma pesquisa com pacientes com a covid-19 podem evoluir para um caso mais grave da infecção. Priscila tem analisado diferentes aspectos da relação entre o vírus e o hospedeiro humano, como: verificar um painel de proteínas, diferenciar os pacientes que podem agravar a doença e montar um prognóstico para distinguir esses pacientes e auxiliar o Sistema Único de Saúde (SUS).

Um sonho que Priscila Aquino espera contemplar futuramente é a formação de mais estudantes na área da pesquisa e a valorização deles nos programas de bolsas da iniciação científica.

“Ainda faltam muitas coisas. Eu sou uma pesquisadora jovem e eu almejo vários objetivos ainda. Mas eu quero ver meus alunos e orientados formados, com bolsas por produtividade do CNPq, maior quantidade de publicação de estudos e projetos aprovados, entre outras realizações”, disse ela.

Provid-19

O projeto “Provid-19: caracterização de um painel proteico para classificação de pacientes infectados porque evolui ao óbito” é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e conta com o apoio da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM), Instituto Carlos Chagas (Fiocruz-PR) e pesquisadores de instituições internacionais.

Perfil

Doutora Priscila Aquino é graduada em Química (bacharel) e possui mestrado em Química, com ênfase em Química Orgânica, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Doutora em Bioquímica pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desde 2014, vem atuando como pesquisadora em saúde pública pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-AM).

Dra Priscila Aquino é formada em Química pela Ufam – Foto Érico Xavier

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Educação

Se por um lado a Ciência ainda carece de mais profissionais femininas, a área da Educação é mestra em ter mulheres no comando. Uma delas é a diretora do Complexo Municipal de Educação Especial da Secretaria de Educação (Semed), Reni Formiga, que está há mais de 20 anos trabalhado com a educação inclusiva em Manaus.

Ela contou ao Portal Amazonas1 que começou na luta por uma educação melhor quando ainda trabalhava no ensino privado. Depois passou em concurso público para atuar na rede municipal e que essa paixão pela causa só aumenta todos os dias.

Para quem conhece pessoalmente a professora e pedagoga Reni Formiga, sabe que ela só é pequena na estatura, mas grande na vontade de ajudar mães e alunos da educação especial.

“Sou ‘apaixonada’ por essa causa. Entrei na educação especial em uma escola privada. Fui para Brasília e Rio de Janeiro para fazer especializações para cada vez mais, aprender e entender esse público. Essas crianças com deficiência necessitam de muita ajuda. Alguns anos depois prestei concurso para a Semed, onde estava nascendo o núcleo, em 1993”, comentou ela.

Ela disse que no começo, tudo era muito difícil, mas hoje já consegue atender mais alunos com algum tipo de deficiência. Ela trabalha em ação conjunta com uma equipe especializada no tratamento dessas crianças.

“Naquela época, a educação especial não tinha muitas pessoas o com conhecimento na área. Comecei uma longa caminhada e hoje conseguimos ter um Centro de Educação Especial, onde fazemos avaliações biopsicossocial, com uma equipe multiprofissional (psicólogos, nutricionistas, pedagogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas). Só nos falta um terapeuta ocupacional. Esse é o nosso sonho, pois a presença desse profissional vai ajudar muito no trabalho com as nossas crianças”, disse a professora Reni.

A pedagoga falou um pouco do trabalho do Centro no fortalecimento dessas crianças para encaminhá-las a educação inclusiva nas escolas “convencionais” e na Escola de Educação Especial André Vidal de Araújo, que fica dentro do Complexo de Educação Especial.

“Nós fortalecemos o processo de inclusão das crianças da rede municipal de ensino com programas que avaliam desde os seis meses de idade, com estimulações, para que eles possam ir para às creches sem nenhuma segregação”, contou.

Reni Formiga em evento de educação especial - Foto: Arquivo Pessoal

Reni Formiga em evento de educação especial – Foto: Arquivo Pessoal

Já o trabalho com os pais são realizados por meio de palestras e, quando recebem  o resultado das avaliações, os psicólogos fazem uma orientação sobre a criança. Reni adiantou que logo a pandemia passe, um novo projeto deverá ser implantado no atendimento dos pais.

Para Reni Formiga ainda há muito o que se percorrer para chegar a um atendimento de excelência na educação especial.

“Nós vamos ter sucesso total quando toda Manaus for contemplada com um Centro de Educação Especial. Além da conquista do mediador escolar, pois isso vai diminuir a quantidade de alunos por professores e nós vamos poder atender muitos outros”, revela Reni.

Segundo a pedagoga, o centro atende mais de 1,2 mil alunos da rede municipal, estadual e privada, e de outras cidades metropolitanas, com avaliações e programas. Já a rede de ensino municipal atende um total de 3,6 mil alunos com deficiência, nas demais escolas de Manaus.

Perfil

Reni Formiga é formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), especialista em Educação Especial, no Rio de janeiro, e possui diversos cursos na área, feitos em Brasília, Vitória, Manaus.

Reni Formiga na abertura dos jogos da inclusão JAAVAS - Foto: Arquivo / Semed

Reni Formiga na abertura dos jogos da inclusão JAAVAS – Foto: Arquivo / Semed