Manaus, 28 de abril de 2024
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Cenário

Na semana da mulher, masculinidade frágil vira pauta na Aleam: ‘sou macho’

'Wilker Barreto, eu sou macho. Eu sou homem. Não gosto de pessoas do mesmo sexo'

Na semana da mulher, masculinidade frágil vira pauta na Aleam: ‘sou macho’

Fotos: divulgação/Aleam

Manaus – Na semana que se comemorou o Dia Internacional da Mulher, celebrado no último dia 8, deputados da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) discutem masculinidade no Plenário, enquanto outras pautas da causa feminina são esquecidas, como a melhoria para a saúde da mulher, pandemia, desemprego e outros.

O primeiro embate aconteceu entre os “machões” parlamentares, Josué Neto (Patriota) com Wilker Barreto (Podemos), durante votação do projeto da Lei do Gás.

Na ocasião, Josué disse a Wilker que era “macho” e pediu para ser esquecido pelo parlamentar. A discussão ocorreu durante a sessão da última quarta-feira, dia 10.

“Wilker Barreto, eu sou macho. Eu sou homem. Não gosto de pessoas do mesmo sexo. Dá pro (sic) senhor me esquecer um pouco?!”, esbravejou Josué, na tribuna da Aleam.

Veja vídeo:

No dia seguinte (11), as discussões sobre masculinidades prosseguiram, só que, desta vez, o combate foi entre o deputado Sinésio Campos (PT) e Wilker, novamente envolvido em polarização de cunho machista.

Enquanto Sinésio falava do apoio às vacinas e incentivava os idosos a participarem cada vez mais da imunização e fazia cobranças ao governo federal, Barreto “pegou corda” e disse que Campos é um “leão” ao cobrar o presidente Jair Messias Bolsonaro, mas se torna um “gatinho”, para cobrar medidas ao governo estadual.

“Deputado Sinésio, vossa excelência, contra o governo federal, é um leão. Contra o governo estadual é um gatinho!”, disse Wilker Barreto.

Leia mais: Sinésio é chamado de ‘gatinho’ por Wilker e dispara: ‘não o chamo de leoa’

Na sequência, o deputado Sinésio interrompeu Wilker, demonstrando não ter gostado da comparação e aumentou o tom de voz dizendo que é “macho” e que com ele o “buraco é mais embaixo”.

“Gatinho, não. Eu sou muito macho! Se vossa excelência gosta de chamar de gatinho, chame de gatinho as suas ‘negas’, as suas panterinhas. Me [sic] trate aqui como deputado, não venha… aqui comigo o buraco é mais embaixo! Eu não chamo vossa excelência de uma leoa. Dizer que um leão e o outro é gatinho!”, disse.

Para a ativista da causa feminina e assistente social, Regina De Benguela, é um absurdo que os parlamentares não respeitem nem ao menos a data de conscientização pela luta das mulheres e considerou os episódios uma falta de respeito.

“Não Queremos Flores!! Um absurdo o que aconteceu na Casa da Democracia, uma mulher não ter voz justamente no Dia Internacional da Mulher, acontece uma ‘palhaçada’ dessa, por isso que precisa existir este dia, porque nem no dia que é destinado a pensar sobre as questões que em envolve a mulher, principalmente no mundo do trabalho, somos respeitadas. Precisamos lutar pelo direito para extinguir a opressão feminina”, disse a ativista.

De Benguela diz, ainda, que é justamente o machismo,  que silencia as mulheres em situações diversas e que, muitas das vezes, terminam em casos de feminicídios pelo Brasil afora.

“O machismo que nos silencia no dia a dia vão de pequenos incidentes sociais à morte violenta com os feminicidios. Grande parte das mulheres, infelizmente, precisa lidar com interrupções, com conversas paralelas e risadas (como aconteceu na Aleam) me parece que são indicações de que não seria interlocutores à altura. São ideias preconceituosas que tantas vezes dificultam as coisas para qualquer mulher em todas as áreas e que também as impedem de falar, e de serem ouvidas quando ousam falar”, afirma Regina.

Veja o vídeo:

 

Mais constrangimento

Outra situação constrangedora foi registrada na terça-feira (9), durante pronunciamento da comandante do programa Ronda Maria da Penha, capitã Clésia Franciane. Enquanto ela anunciava os resultados dos trabalhos da equipe, um grupo de deputados gargalhava no Plenário.

Na ocasião, foi possível perceber que a convidada ficou constrangida em ter sua fala interrompida, e só voltou a falar quando eles pararam de rir. Além das risadas, conversas paralelas também ocorriam no momento.

No vídeo, não é possível identificar quais eram os parlamentares que riam durante a fala da capitã Franciane.

Neste caso da capitã Franciane, Regina pede que seja feita uma nota de repúdio pelo ato dos deputados, que riam, sem ao menos prestar atenção ao teor do pronunciamento que estava sendo proferido.

“Eu sinceramente acho que a Capitã da Ronda Cândido Mariano, deveria soltar uma nota de repúdio, fazer uma carta aberta para a população, com o apoio de entidades que têm envolvimentos com nossas questões, e dar visibilidade ao caso, e sim, citar nomes para que na hora de votar, saber o deputado no qual você está votando e saber o que ele pensa”, ressalta Regina, que também é atriz e produtora cultural.

Veja Vídeo: