Manaus, 21 de junho de 2024
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Cidades

No Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão, especialistas alertam para a importância da denúncia

A especialista destaca que o maior número de violência praticada contra crianças e adolescentes sucede na própria casa ou onde as crianças precisam ficar para a mãe sair para trabalhar.

No Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão, especialistas alertam para a importância da denúncia

(Arte AM1)

Manaus (AM) –  O pequeno Isaac Emanuel da Silva, de 4 aninhos, faleceu no dia 25 de abril em consequência das agressões e maus-tratos que sofreu. Segundo a polícia, a mãe dele e a madrasta praticaram a tortura e o estupro constatado pela equipe médica que o atendeu.

Conforme os médicos relataram, Isaac chegou ao hospital já sem vida, em estado avançado de desnutrição, além das diversas marcas de agressão, e os sinais de violência sexual. A profundidade dos machucados era tamanha que a equipe da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) José Rodrigues encontrou grampos inseridos no couro cabeludo da criança.

Em janeiro deste ano, um homem identificado como Moabe também espancou a filha dele, uma criança de dois anos. A mãe da garotinha denunciou o ex-companheiro à Delegacia Especializada em Proteção à Criança e Adolescente (Depca).

Segundo a mulher contou à polícia, Moabe não aceitava o fim do relacionamento, raptou o bebê e seguiu para o bairro Tarumã, na zona Oeste de Manaus. Na casa de um parente dele, para se vingar da ex-mulher, espancou e atirou a menina indefesa ao chão. Depois fugiu, deixando a criança ferida no local.

No dia 10 de outubro do ano passado, o menino Everton Gabriel da Silva, também de 2 aninhos, morreu no Pronto-Socorro da Criança, o Joãozinho, situado no bairro São José, zona leste de Manaus, mesmo após ter sido internado e passado por uma neurocirurgia.

Everton Gabriel pereceu após ter sido espancado pelo tio dele, um homem de 23 anos, identificado como Patrick Macedo Bastos. O agressor disse à polícia que estava “dando uma correção” no menino por fazer cocô no chão da sala.

Na delegacia, Patrick revelou que a mulher dele, a responsável por cuidar da criança, também agredia o pequeno. No depoimento, Patrick Macedo alegou que quando ele chegou do trabalho, o menino já estava desmaiado e foram os familiares dele que ajudaram a levar o menino ao hospital.

Tipos de agressões 

A psicóloga clínica, especialista em psicoterapia com adolescentes, Adriana Areque, explica que são várias as formas de violência que a criança pode sofrer. Violência psicológica, física, sexual, e negligência são os principais tipos de violência contra crianças. A especialista lembra que conforme as estatísticas, o maior número de violência praticada contra crianças e adolescentes é na própria casa, ou nas casas onde as crianças precisam ficar, porque a mãe e o pai saem para trabalhar. Mas que acontece na escola também e em outros lugares, mas geralmente é no seio familiar onde mais ocorre.

Adriana destaca que além dos sintomas físicos, que são evidentes, pois deixam aparentes marcas no corpo, é preciso observar os outros sintomas também muito comuns, que podem denunciar que aquela criança é vítima de agressão.

Alterações no comportamento de uma forma geral. Ou a criança fica mais triste, ou mais agitada, ansiosa, irritada, ou se isola. O excesso ou falta de sono, assim como um sono agitado, demonstram que a criança pode estar sofrendo algum tipo de violência.

Dentre os comportamentos, a criança pode apresentar tremores noturnos, insônia, e o apetite pode ficar afetado. Ou não tem fome, ou a criança passa a ter muita vontade de comer. A agressividade também é uma reprodução da alteração de comportamento. A agressão contra pessoas da família ou da escola podem ser reflexo de algum abuso que a criança esteja passando no ambiente que ela vive. A psicóloga frisa, ainda, que irritabilidade ou desmotivação são muito evidentes nessas crianças.

“Aparente apatia, a criança não tem vontade de fazer o que comumente ela faz todo dia. Perde o interesse por coisas que antes ela gostava de fazer. Muitas vezes, ela não fala. Se era uma criança que já se comunica bastante, para de se comunicar. Ela fica mais retraída. Geralmente, se afasta de determinada pessoa, da pessoa que pratica violência. Essa criança se mantém afastada. Não se sente à vontade. Às vezes, se recusa a ficar próximo da pessoa. Há queda no rendimento escolar, fatalmente. Também tem queda tanto na sociabilidade. No caso da violência sexual, é importante que se fique atento, por exemplo, à tristeza da criança, a um medo muito grande, uma ansiedade fora do normal e também comportamentos sexualizados, que não são próprios da idade. Uma estimulação nos órgãos genitais”, explica Adriana, que alerta sobre a importância de observar os sintomas das crianças, que conforme as mudanças, podem demonstrar que uma criança está sendo vítima de algum tipo de violência.

Traumas

Atuando há 30 anos em atividade de terapia cognitiva comportamental, a psicóloga Nazaré Mussa pontua que as agressões deixam sinais desde os mais simples aos mais profundos e traumáticos.

A terapeuta destaca que a violência também pode vir por meio de depreciação, discriminação, o próprio bullying, desrespeito, ameaças, humilhações, constrangimentos, bem como as agressões verbais ou físicas, intimidações, abuso sexual ou físico e muitos outros.

“Todos os comportamentos abusivos são agressões contra a criança e precisam ser denunciados, pois a criança necessita de proteção”, orienta.

Nazaré Mussa afirma que é possível identificar que uma criança é vítima de agressões, sem que ela revele isso com palavras. A criança muda seu comportamento, em alguns casos, a criança que era alegre e gostava de brincar com os colegas, passa a ficar triste, não quer mais brincar e costuma se isolar com mais frequência, confirmando o que disse Adriana Areque.

Para a psicanalista Nazaré Mussa, não existe um lugar específico onde possa se afirmar que a criança está sendo vítima de algum tipo de agressão. Segundo ela, pode ocorrer na escola e também na casa de parentes, casa de outros coleguinhas, ou até na própria casa com alguém muito próximo da família.

Ela também alerta para a importância de prestar bastante atenção ao comportamento da criança e observar as mudanças, bem como, observar marcas de agressões, machucados no corpo da criança. E se caso perceber que a criança precisa de ajuda, é “muito importante denunciar” para os meios próprios e, depois, procurar ajuda psicológica ou médica para a criança ou adolescente. “O apoio da família é sempre importante”, reforça.

Crianças devem ter proteção

Para reforçar a reflexão e o compromisso em proteger as crianças do mundo inteiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o dia 4 de junho como o Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão.

A data é marcada para chamar atenção global para a dor sofrida pelos menores vítimas de abusos físicos, mentais e emocionais como parte dos esforços da organização para cumprir os princípios da Convenção sobre os Direitos da Criança.

Na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a meta 16.2 se propõe a acabar com todas as formas de violência infantil, tendo o abuso, a negligência e a exploração de crianças integrados em alvos relacionados ao fim da violência.

 

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