Manaus, 17 de maio de 2024
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Manchete

“No momento de crise, o romantismo na política deve dar lugar ao pragmatismo”, diz Marcelo Ramos

“No momento de crise, o romantismo na política deve dar lugar ao pragmatismo”, diz Marcelo Ramos

Por Paula Litaiff / Fotos: Arlesson Sicsu

Da Redação

O site Amazonas1 deu início nesta terça-feira, 21, a uma série de entrevistas com os candidatos a vice-governador do Amazonas, na eleição suplementar. Alvo de polêmica por ter aceitado compor com um dos políticos que ele mais criticou, o ex-deputado Marcelo Ramos (PR), vice na chapa do senador Eduardo Braga (PMDB), é o primeiro entrevistado e revela o que o levou a tomar essa decisão e quais são suas perspectivas caso vença o pleito. Leia a entrevista completa:   

AMAZONAS1 –  A função de vice-governador ainda é desconhecida pela maioria da população. Muitos acreditam que ela exista apenas para substituir o governador na ausência dele. O senhor chegou a pesquisar as atribuições do cargo, quando aceitou essa condição?

MARCELO RAMOS: Na verdade, eu em momento nenhum, até a véspera das convenções, cogitei a hipótese de ser vice. Todo mundo é testemunha que eu fiz todos os esforços para conseguir viabilizar uma candidatura, constituir uma coligação em que a minha candidatura não fosse para marcar posição, mas verdadeiramente com chance de vitória. Pesquisas indiciavam isso, mas infelizmente houve um grande cerco no sentido de inviabilizar a minha candidatura, então não fiz pesquisa, porque não cogitei essa hipótese até a véspera. No entanto, tenho muita convicção de que um governo do Eduardo (Braga) comigo será de quatro mãos até porque esse é o combinado é que eu tenha uma função executiva no governo, que divida responsabilidades. O Amazonas é um estado muito grande. É preciso ter dois governadores para conseguir circular o estado inteiro e acima de tudo, precisa ter capacidade de circular o Brasil e o mundo.  

AM1 – Havendo essa possibilidade de ter uma atribuição executiva no Governo do Estado, com qual secretaria o senhor se identifica, caso sua chapa vença a eleição?

MR: É cedo para fazer especulação sobre isso. O fato é que nós temos um compromisso de governar a quatro mãos e eu confio nisso, até porque o desafio de tirar o Amazonas da mais profunda crise da sua história, dos últimos anos. E esse é um desafio que um homem só não é capaz de superar.

AM1 – Em poucos anos, o senhor passou por três partidos: PCdoB, PSB e PR, partidos inclusive com correntes ideológicas antagônicas. Hoje, qual é a ideologia do Marcelo Ramos?

MR: Direita e esquerda são conceitos que já não cabem mais no mundo de hoje. A complexidade do mundo moderno já não cabe uma divisão política de direita ou esquerda. Você tem, hoje, causas que não existiam no passado. A causa da proteção animal é de direita ou esquerda? E causa do meio ambiente? Eu sinceramente acho que o Brasil não tem partidos. O nosso país não tem a solidez ideológica no conjunto dos seus partidos, tanto que tem mais de 30 partidos. O partido é uma obrigação legal para disputar eleição. Eu posso dizer que a minha transição para partidária é coerente com o meu amadurecimento pessoal. Eu iniciei num partido de esquerda bem radicalizado que era o PCdoB, porque era a minha forma de ver o mundo naquela etapa da minha vida. Eu fui para um partido mais moderado que era o PSB e hoje sou do PR, que se do ponto de vista da sua construção ideológica não simboliza muito isso, mas no ponto de vista do nome simboliza o que talvez eu seja hoje, que é um republicano, um homem que valoriza e entende que um caminho de retomada de desenvolvimento do nosso país depende do resgate dos valores republicanos, da independência e da cooperação entre os poderes, da garantia de transparência e da valorização da atividade privada. Então eu me definiria, hoje, como um republicano, não por ser do PR, mas por entender que a saída para a superação de toda essa crise política, econômica e social que vivemos é um resgate dos valores da república.

AM1 – O senhor vê muito romantismo de algumas pessoas em relação à política?

MARCELO RAMOS: Eu acho que pode ser romantismo, mas não digo isso em tom de crítica. Que bom que a gente não perca nenhum  eleitor e nenhum político com uma pitada de romantismo. Eu só acho que no momento de grave crise como essa, o romantismo na política  deve dá lugar ao pragmatismo, porque o romantismo não dá emprego para quem não dá desempregado; não dá cirurgia para quem está na fila há muito tempo; não dá segurança para quem não consegue sair na rua; não dá escola para quem tem um filho que não tem perspectiva de um futuro melhor; que dá isso é a chance de governar. Se o destino está me dando uma chance de governar, ainda, que não seja de uma forma que eu imaginei, eu vou abrir mão disso? Tem político que nasceu para marcar posição. Eu, sinceramente, acho que posso ser um instrumento de mudança, então, eu preciso fazer as flexões necessárias para ter os instrumentos para fazer as mudanças que nós precisamos.   

AM1 – Na sua decisão de compor com o senador Eduardo Braga, o senhor justificou que isso ocorreu para viabilizar o seu nome na eleição e, eventualmente, assumir uma função dentro do governo para poder atuar de forma direta em questões como Saúde, Segurança Pública, entre outras. Essa decisão realmente ocorreu a poucas horas da convenção? Houve uma imposição do deputado Alfredo Nascimento? Ou era isso ou não era nada?

MR: Não houve imposição. Eu vou dizer com muita franqueza o que aconteceu. O deputado Alfredo durante toda essa caminhada, desde que a eleição foi anunciada, fez todos os esforços junto comigo para que nós constituíssemos uma coligação, uma aliança mínima. Eu não tenho mais direito de ser candidato como em 2014, só para marcar posição. Eu acabei de sair de uma eleição em que eu fui para o segundo turno. E mais do que isso, o momento de grave crise que a gente vive não permite que a eleição seja utilizada para marcar posição, para projetar imagem para 2018 ou para qualquer coisa desse tipo. O momento exige união para enfrentar uma crise. O momento exige que os políticos pensem menos em disputas, menos nas suas vaidades e em como preservar suas imagens, e pensem mais em como unir esforços para retirar o Amazonas dessa crise. Então, o Alfredo me ajudou o tempo inteiro. Na antevéspera das convenções (14 de junho) nós confirmamos uma aliança para que eu fosse candidato. Quando nós ficamos sem alternativas, aí a decisão deixou de ser só do Marcelo Ramos e passou a ser uma decisão da direção do PR, porque a todo o momento foi dito que nós não iríamos numa candidatura suicida para marcar posição e que pudesse sair menos do que tinha entrado. Foi nesse momento, que a direção do partido decidiu caminhar com o senador Eduardo Braga e sobrou para mim  ser candidato a vice ou não ser candidato. Eu não sou homem de omissões. Quem olhar minha vida pública vai ver que eu sempre fui passível a duras críticas pelas minhas decisões, mas nunca passou um momento político importante que eu não tivesse opinião.

AM1 – No primeiro encontro com o senador Eduardo Braga para a definição da aliança, como foi a conversa?

MR: O primeiro assunto que nós conversamos foi o desafio e a necessidade de união da experiência e capacidade de trabalho dele, que é inegável, com o meu vigor, entusiasmo e o meu desejo de servir a esse estado. União essa, necessária para esse momento político histórico, para que o Amazonas possa superar uma das crises mais profundas que ele está vivendo. Não dá para os políticos, nesse momento, se preocuparem com vaidades ou com seus desejos partidários e esquecerem que, hoje, tem 22% da população amazonense sem emprego, que o Distrito Industrial que já teve 140 mil trabalhadores tem, hoje, apenas 70 mil. Assim como que, o Amazonas que em 2005 tinha 500 homicídios por ano teve 1,5 mil assassinatos, em 2015, que o momento é de grave crise e que nesses momentos os políticos têm que ter grandeza , humildade coragem para ser firme nas suas decisões.

 

AM1 – Hoje, viralizou na internet um  print da ação que o senhor ingressou contra o senador Eduardo Braga, na qual o senhor o denuncia  de superfaturar a obra do monumento de homenagem à Ponte Rio Negro, na época em que ele era governador do Estado e o senhor, deputado estadual.  O senhor vai manter essa ação?

MR: Eu pretendo continuar com essa ação, ela está em tramitação e se o critério for eu não poder me aliar com quem eu entrei com ação, não sobra quase ninguém. Eu tenho ação contra o Amazonino (Mendes), contra o Omar (Aziz) e contra o Eduardo (Braga). E, isso é a confirmação de que independente de quem quer que seja o governante, eu nunca abri mão do meu dever parlamentar de fiscalizar os atos do executivo. Eu não posso retirar, porque é uma ação que não pertence mais a mim. E, claro, o senador está buscando se defender e fazer suas explicações, como o Omar e o Amazonino se explicam até hoje em ações promovidas por mim. Eu acredito que houve primeiro um desvio de finalidade naquela obra, pois ela não deveria existir. Esse é o maior questionamento dentro da ação, porque pelo estudo de impacto de vizinhança da obra da ponte, ali tinha que ser uma passagem de nível, então não tinha como construir um monumento lá. O governador sucessor dele tinha que ter quebrado para fazer a passagem de nível, acabou não fazendo e construiu um retorno para preservar o monumento.

AM1 – Durante as convenções partidárias, o ex-governador Amazonino Mendes afirmou que o senhor  se habilitou a ser vice na chapa dele, mas ele não o quis. Como isso ocorreu?

MR: Eu não vou discutir com o Amazonino. Tenho respeito, ele é um homem de muita idade. Acho que ele não é a pessoa adequada, não tem energia, vigor e a modernidade necessária para superar a greve crise econômica que o nosso estado vive. Ele sabe o quanto e o que ele fez para tentar que eu fosse vice dele, mas isso é matéria ultrapassada. Eu quero falar é de futuro não é de passado.

AM1 – Diante das críticas que o senhor recebeu de  correligionários sobre sua decisão de ser vice do senador Eduardo Braga, qual estratégia o senhor pretende usar para reconquistar esses votos?

MR: Quando eu me filiei ao PR talvez eu tenha apanhado tanto ou mais do que nesse momento. Quando eu declarei apoio ao (ex-governador) José Melo no segundo turno, algo que eu me arrependo bastante, eu apanhei também. Eu não escondo as minhas decisões. Sou um cara transparente e firme. As pessoas que me conhecem sabem o que tem no meu coração e o que tem na minha trajetória de vida. O que vai fazer as pessoas voltarem ou não, não são as minhas palavras, mas a minha conduta. E porque as pessoas sempre num primeiro momento passional se incomodaram, depois voltaram e eu fiquei cada vez maior do ponto de, vista político? Porque as pessoas perceberam que eu fui para o PR e não mudei de conduta, que eu cumpri os compromissos que eu firmei quando disse que declararia apoio, mas não participaria de governo. As pessoas vão perceber que, neste momento, existe algo muito maior do que a minha intransigência, a minha forma unilateral de ver o mundo, que é a necessidade de união para o Amazonas superar essa crise. Se eu posso contribuir com o futuro do meu estado, ainda que não na função de protagonista, eu vou me preocupar com a minha imagem? Eu sei que a maioria dos políticos diria que isso desgastaria a imagem deles, mas está na hora do político se preocupar com o futuro do nosso estado e das pessoas que estão passando muitas necessidades por conta dessa grave crise. Eu tinha absoluta consciência de tudo que aconteceria quando eu declarasse a minha posição. As mensagens que eu recebi no primeiro dia e as que eu recebo, hoje, são completamente diferentes. No primeiro dia era indignação absoluta, hoje, as pessoas dizem que observaram não existir outro caminho, que confiam em mim e que vão comigo.

AM1 – Na segunda-feira,  19, o site Justiça em Foco publicou uma matéria dizendo que o vice-procurador eleitoral, Francisco de Assis Vieira, interpôs embargos de declaração contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de convocar eleições diretas. Ele entende que o pleito para governador “tampão” – faltando menos de dois anos de mandato – é inconstitucional. O senhor teme uma disputa na Assembleia Legislativa do Estado?

MR: Eu não temo do ponto de vista jurídico, mas temo como cidadão. Eu quero inclusive começar essa resposta fazendo um apelo ao candidato à vice da ex-deputada Rebecca Garcia (PP), o deputado Abdala Fraxe (PTN), que ele desista dessa ação. Ele é candidato à vice na eleição direta e é o partido dele, provocado por ele que entra com uma ação para que a eleição seja indireta. Eu faço um apelo para que ele deixe o povo do Amazonas ter a liberdade para legitimar o próximo governador. Tratando essa situação sob a lógica jurídica, o Ministério Público Federal já entende, desde que a reforma eleitoral foi publicada, que esse artigo é inconstitucional. Ele já tem uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), desde que a lei foi publicada. Essa ação foi negada a liminar, então é natural que o Ministério Público tenha esse entendimento. No entanto, se imaginarmos um julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que tem 11 ministros, dos 11, três já se manifestaram em relação a essa matéria. Já está três a zero. Seria muito inusitado reverter isso.

 

AM1 – No ano passado, o senhor entrou em uma disputa acirrada pela Prefeitura de Manaus indo para o segundo turno com o atual prefeito Arthur Neto (PSDB). Qual a sua opinião sobre a gestão dele?

MR: Eu acho que esse julgamento cabe muito mais ao povo do que a mim. Eu acabei de disputar uma eleição com o prefeito Arthur Neto e obviamente que a minha opinião está contaminada por ter convicção de que ele não era o melhor para governar Manaus. Agora, essa avaliação está expressa em algumas pesquisas que foram publicadas colocando eu e o prefeito Arthur Neto, na qual simulando um segundo turno entre ele e eu, hoje, eu estou disparado na frente dele. Isso é porque eu sou melhor do que ele? Não, isso expressa um sentimento de frustração da população com o que ele fez num período de três meses que antecedeu a eleição, com o que ele prometeu e com o que efetivamente é a gestão dele. Então, não sou eu quem vai fazer um julgamento da gestão dele. O povo já fez e no julgamento do povo ele foi reprovado.

AM1 – O senhor considera que Arthur Neto traiu o senador Eduardo Braga (uma vez que ele recebeu apoio na disputa do ano passado) ou houve apenas divergências nas conversas?

MR: Eu não posso dizer o que eu acho de uma conversa em que eu não participei, não ouvi e não sei em que termos aconteceram. Eu acredito que todo esse debate político de quem traiu quem, estava do lado de quem ou ficou de mal com quem é muito menos importante do que a necessidade de unir as pessoas para enfrentar o momento de grava crise que a gente está vivendo. Isso não vai mudar a vida das pessoas.  A vida das pessoas muda se os políticos tiverem grandeza, humildade e coragem de deixar as divergências de lado, de olhar para o futuro e se unirem para apontar caminhos seguros de retomada de desenvolvimento.  

AM1 –  E qual a sua participação no Plano de Governo do candidato Eduardo Braga?

MR: Consegui incluir no Plano de Governo protocolado, ontem, 19, pelo  Eduardo (Braga) e por mim, o compromisso de revogação imediata do aumento de 2% do ICMS nos combustíveis, concentrados e outros vários produtos. Isso é importante porque em momento de crise não se aumenta imposto. Se você faz isso, retrai o consumo e consequentemente retrai a produção e a geração de emprego. O momento agora é de um pacto com o setor produtivo. Nós incluímos também o compromisso de redução do ICMS na cesta básica e no gás de cozinha, porque quando o Eduardo era governador, ele baixou o ICMS da cesta básica, de 17% para 1%. No governo do Omar quando eu era deputado, ele aumentou de 1% para 16%. Depois o Melo aumentou para 17% e depois baixou para 14%. Eu consegui incluir também no plano de governo a revogação do artigo 6º da Lei 3088/2005, garantindo a autonomia para a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para que todo dinheiro arrecadado pelo fundo da instituição seja gasto na UEA, porque desde o governo passado, estão usando esse dinheiro para pagar custeio. Gastam mais do que arrecadam, então precisam pegar dinheiro da UEA para pagar folha de pagamento, conta de energia e conta de água. Isso não é justo com um dos principais instrumentos de desenvolvimento da nossa região. A quarta coisa está relacionada a uma maldade que fizeram com uma categoria específica que é a dos vigilantes, assim como com os estudantes que tiveram os vigilantes retirados das portas das suas escolas. Nós vamos gradativamente, iniciando pelas áreas de maior ocorrência, devolver os vigilantes para as portas das escolas. Isso tem a ver com a geração e perspectiva de 4 mil postos de trabalho para a categoria. São ações como essas que mudam a vida das pessoas.