Manaus, 20 de maio de 2024
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Brasil

Professores não se sentem preparados para ensino à distância

Segundo pesquisa do Instituto Península, oito em cada 10 professores não se sentem preparados para a modalidade de ensino à distância

Professores não se sentem preparados para ensino à distância

Foto: Cleudilon Passarinho

Quase dois meses depois do fechamento das escolas no Brasil todo, por conta da pandemia do coronavírus, 83% dos professores não estão preparados para ensinar online. E são eles que dizem isso, em pesquisa realizada pelo Instituto Península, à qual o Estadão teve acesso com exclusividade. Os docentes de redes públicas e particulares ainda se declaram ansiosos e nada realizados com o trabalho no momento atual.

Quase 90% dos docentes informaram na pesquisa que nunca tinham tido qualquer experiência com um ensino a distância e 55% que não receberam, até agora, suporte ou treinamento para atuar de maneira não presencial. Sem orientação clara, os profissionais têm criado as próprias atividades. Não é à toa que 83% afirmaram se comunicar pelo WhatsApp com as famílias, em vez de usar ferramentas pedagógicas das escolas ou redes.

“Enquanto uma série de profissionais no meio de uma pandemia está fazendo seu trabalho de casa e já é difícil, o professor ainda está tendo de se reinventar completamente”, diz a diretora executiva do Instituto Península, Heloisa Morel. “Imagine a sobrecarga e o estresse.”

Gravações

A professora Márcia Cristina Amorim Chagas, de 50 anos, decidiu gravar vídeos com o celular no sítio onde mora em Itapecerica da Serra. É a filha de 17 anos que faz as filmagens, “quando está de bom humor”, brinca. Em um deles, Márcia teve a ideia de mostrar aos alunos como as cinzas das queimadas podem ajudar a adubar a terra para plantar cebolinha. Depois, o material vai sempre por WhatsApp para os pais das crianças.

Márcia ainda pede que os alunos escrevam ou gravem em áudio o que aprenderam. “Uso o meu celular, com a minha internet, que às vezes não funciona, e meu computador que paguei durante dois anos”, diz ela, que dá aulas para 4º e 5º ano em uma escola estadual na Vila Madalena, zona oeste. “Eu trabalho numa escola integral e tive alguma formação em tecnologia, mas para o que estamos precisando agora, o que aprendi foi mínimo.”

“Mesmo eu que trabalho numa escola integral e tive alguma formação em tecnologia, para o que estamos precisando agora, o que aprendi foi mínimo.” A professora diz que ainda não conseguiu usar o Centro de Mídias com suas turmas, plataforma criada pelo governo do Estado para o ensino remoto durante a pandemia.

Plataformas

Na rede particular, o WhatsApp é menos comum e 56% disseram usar o aplicativo de mensagens para se comunicar com o aluno. Mais frequente é a comunicação por meio de plataformas da escola. Mesmo assim, o sentimento de despreparo diante do desafio de ensinar online é o mesmo.

Ela dá aulas para a fase de alfabetização e passou a criar jogos em aplicativos, com quebra-cabeça e localização de palavras, para seus alunos. “Estamos fazendo o melhor possível, mas não é nem de longe o que a gente entende por educação. Isso é bastante angustiante.”

A presidente executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz que poucas secretarias de Educação ou mesmo escolas particulares no País deram formação ou infraestrutura para professores em aulas não presenciais. A maioria dos profissionais tem usado seus próprios computadores, Wi-Fi ou celulares.

Saúde mental prejudicada

A pesquisa ainda mostra que o cenário inclui uma saúde mental já prejudicada do professor. Quase 70% deles se disseram ansiosos e só 3%, realizados. E a maioria (75,2%) relatou que não recebeu até agora nenhum apoio emocional da escola em que trabalha.

Mesmo em redes particulares, as equipes costumam se reunir online para discutir as abordagens pedagógicas durante a pandemia, mas raramente há grupos com psicólogos para que os professores possam expor o que sentem.

 

(*) Com informações do Estadão