
Projeto monotrilho de Manaus (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Manaus (AM) – Com um orçamento de R$ 1,3 bilhão, o projeto de mobilidade urbana conhecido como Monotrilho de Manaus, apresentado em 2009 pelo então governador do Amazonas, Eduardo Braga (MDB), segue inviável.
A ideia, destinada a desenvolver um transporte viável e modernizado que conectaria o Centro da cidade a bairros distantes, facilitando a vida dos habitantes, deveria ter sido utilizada a partir de 2014, durante a Copa do Mundo realizada no Brasil, onde Manaus foi uma das 12 sedes. No entanto, até hoje, o projeto não saiu do papel.
O Portal AM1 investigou a origem dessa promessa não cumprida e explorou os obstáculos jurídicos em relação ao projeto. Além disso, entrevistou especialistas em engenharia de tráfego e os pré-candidatos à Prefeitura de Manaus neste ano eleitoral. Dessa forma, todos analisam a retomada da discussão a respeito do monotrilho para melhorar a mobilidade urbana na cidade.
A pré-candidata à Prefeitura de Manaus, Maria do Carmo Seffair (Novo), por exemplo, defende a construção do Monotrilho de Manaus, estimado em mais de R$ 5 bilhões de custo para os cofres públicos. Recentemente, durante uma transmissão ao vivo, ela apresentou propostas abrangentes de mobilidade urbana que incluem todas as zonas da cidade.
A empresária sugere a instalação de um monotrilho que ligaria os terminais de integração 4 e 5 ao Centro da cidade. Em entrevista ao Portal AM1, Seffair foi enfática ao explicar como a mobilidade urbana seria gerenciada durante a construção do monotrilho.
“Naturalmente, o impacto no tráfego será estudado e, posteriormente, devidamente sinalizado em colaboração com os órgãos de trânsito para garantir que as vias continuem funcionando durante as obras. Isso é prática comum em qualquer lugar do mundo onde ocorrem obras em vias públicas”, afirmou.
Já o pré-candidato Gilberto Vasconcelos (PSTU) propõe a implementação de um metrô de superfície na cidade. “A proposta do PSTU, que é a minha proposta, é a instalação de um metrô de superfície, um sistema de transporte robusto. Além disso, é fundamental uma auditoria no sistema de transporte público de Manaus, dada a má gestão dos recursos públicos e a baixa qualidade dos serviços prestados à população”, argumentou.
Na avaliação de Wilker Barreto (Mobiliza), a cidade de Manaus enfrenta muitos desafios relacionados ao transporte coletivo para a próxima gestão. Ele criticou duramente o prefeito David Almeida (Avante) e destacou que a gestão nos últimos quatro anos foi desastrosa para o transporte de massa.
“Atualmente, vemos outros pré-candidatos falando sobre a possibilidade de novos modais, mas isso só pode ser considerado viável após estudos de viabilidade econômica. Manaus não possui saúde financeira para grandes investimentos em novos modais. Nossa proposta é simples: primeiro melhorar o sistema atual, rever contratos e aumentar o controle sobre a frota, em colaboração com o Sinetran. Não é aceitável que a prefeitura, que concede as licenças, não tenha acesso aos dados das pessoas transportadas, deixando isso sob responsabilidade da empresa executora. Precisamos de uma abordagem prática, melhorando o sistema atual e explorando junto aos financiadores, como o BNDES, a viabilidade de novos modais para Manaus”, enfatizou.
Engenheiro de tráfego
Segundo o engenheiro de tráfego Manuel Paiva, os grandes congestionamentos em Manaus são causados pela falta de prioridade ao transporte coletivo, que deveria ser incentivado para reduzir a dependência do transporte individual.
“Atualmente, todas as obras em Manaus são voltadas para o automóvel. Os viadutos não resolvem os problemas de circulação, apenas os adiam. Solucionar um congestionamento em uma interseção por seis a doze meses, no máximo, apenas ameniza o problema. Após esse período, o problema retorna ou se desloca para outro ponto. Isso é evidente na Rodrigo Otávio, Constantino Nery e Djalma Batista. A solução para nosso tráfego está em mudar a filosofia para priorizar o transporte coletivo como a principal opção de deslocamento para o trabalho. Enquanto continuarmos investindo em obras que beneficiam apenas o transporte individual, continuaremos convivendo com uma cidade engarrafada, como em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde essa escolha já foi feita. Não existe solução mágica para o trânsito”, afirmou.
Paiva também destacou que Manaus possui quase 1 milhão de veículos circulando, sendo mais de 900 mil automóveis e motocicletas. Ele defende que a cidade siga o exemplo de Bogotá e Curitiba, investindo em transporte público de passageiros para garantir fluidez e segurança aos deslocamentos, proporcionando qualidade e conforto aos usuários.
Em relação ao projeto do Monotrilho de Manaus, ele explicou como o sistema deveria funcionar, conectando a Zona Leste ao Centro Histórico da cidade via nove paradas em aproximadamente 25 minutos. No entanto, embargos jurídicos e outros problemas impediram a construção do monotrilho até hoje.
Justiça Federal
Em 2013, a Justiça Federal suspendeu os trâmites para a celebração do contrato e repasse de verbas destinadas à implantação do monotrilho em Manaus. A decisão, em caráter liminar, foi assinada pelo juiz da 3ª Vara da Seção Judiciária do Amazonas, Rafael Leite Paulo. O projeto do monotrilho, inicialmente orçado em R$ 1,3 bilhão, seria financiado pelo Programa Federal de Infraestrutura de Transporte e Mobilidade Urbana – Pró-Transporte, com gestão pelo Ministério das Cidades e operação pela Caixa Econômica Federal.
Na decisão, o juiz apontou diversas irregularidades no projeto, incluindo falhas na licitação e questões de viabilidade, além de riscos ao patrimônio histórico de Manaus. Segundo a decisão, a implantação do monotrilho teria impactos significativos na cidade, sem o devido parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e em desacordo com a Lei de Mobilidade Urbana.
O Portal AM1 tentou contato com os pré-candidatos à Prefeitura de Manaus, incluindo Roberto Cidade (UB); Marcelo Ramos (PT); Wilker Barreto (Mobiliza); o prefeito David Almeida (Avante) e o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL), por meio de aplicativo de mensagens, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.
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