Manaus, 24 de junho de 2024
×
Manaus, 24 de junho de 2024

Cenário

PT consegue manter ou ampliar cadeiras na CMM nestas eleições?

Especialistas consideram a chegada de Marcelo Ramos importante para a sigla de esquerda.

PT consegue manter ou ampliar cadeiras na CMM nestas eleições?

(Arte: AM1)

Manaus (AM) – O Partido dos Trabalhadores (PT) possui, atualmente, apenas um representante na Câmara Municipal de Manaus (CMM) e, nas eleições deste ano, assume o desafio de manter essa vaga ou até ampliar o seu número de vereadores no Parlamento, numa cidade que, segundo institutos de pesquisas, ainda é majoritariamente bolsonarista.

Sassá da Construção Civil é o político petista que ocupa uma das 41 cadeiras na Casa Legislativa na atual legislatura e deve disputar a reeleição. Se o político obtiver êxito no pleito de outubro, irá exercer o seu terceiro mandato consecutivo na Câmara.

Além de Sassá, existem outros nomes do partido que disputarão o cargo de vereador. Entre eles, o ex-deputado federal José Ricardo; a ex-candidata ao governo do Amazonas Anne Moura; o advogado e ex-vice-prefeito da capital amazonense Félix Valois e o Delegado João Tayah.

Com a chegada do ex-deputado federal Marcelo Ramos, a legenda busca não só manter a cadeira na CMM, mas também almeja ampliar sua representatividade para dois ou até três petistas.

Os nomes colocados, até o momento, como pré-candidatos à vereança possuem a importância ou o ‘peso’ necessários que a sigla necessita para sair vitoriosa na disputa proporcional, já que no embate majoritário, o PT tem um histórico de derrotas em Manaus.

De olho nesse cenário, o Portal AM1 conversou sobre o assunto com especialistas em eleições, que com suas experiências e vivências, fizeram uma análise da situação do partido na disputa que se aproxima.

Depende da estratégia

(Foto: Arquivo Pessoal)

À nossa reportagem, o professor e cientista político Breno Rodrigo Leite disse que é possível, sim, o PT ampliar o número de vagas na Câmara Municipal de Manaus, mas isso dependerá da estratégia do partido.

Ele explicou que se o jogo se concentrar nas preocupações estritamente municipalistas, o PT sai em desvantagem, mas que se a concentração focar na polarização, no confronto ao bolsonarismo e à direita, é possível que o PT se sobressaia nos debates e amplie a sua base de representação parlamentar.

Breno frisou que a sigla partidária enfrenta, no momento, um profundo cenário de polarização e que, mesmo exercendo o controle da presidência da República, não significa, necessariamente, o controle das outras instâncias da situação política nacional.

O professor lembrou, por exemplo, que hoje, os três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro estão nas mãos de governadores de oposição. Outro fator, segundo Breno, é que o PT tampouco possui uma maioria partidária consistente na Câmara dos Deputados e Senado Federal, o que, para ele, é a demonstração de que o partido precisa responder diariamente aos desafios (nas ruas e nas redes sociais) impostos pela oposição bolsonarista.

“O presidente Lula é um habilidoso estrategista e sabe que precisa recuperar as bases. Logo, precisa revitalizar o partido nas arenas municipais, a fim de torná-lo competitivo nas eleições de 2026. A orientação realista de Lula e do PT obedecem certamente a tais objetivos”, explicou.

Nunca foi eleitoralmente competitivo    

O professor afirmou, ainda, que historicamente a legenda é pequena, quase mediana e que nunca foi eleitoralmente competitiva.

Em sua visão, aqueles que conseguiram se projetar, citando nesse caso: José Ricardo, Francisco Praciano, Sinésio Campos, devem credenciar as suas vitórias não ao partido, em si, mas às suas trajetórias pessoais.

“O vereador Sassá da Construção Civil, o único vereador do PT na Câmara, parece, até o momento, seguir tal orientação. A estratégia do seu mandato não está presa numa camisa de força ideológica. O municipalismo tem os seus imperativos e o governismo é um deles. Ser oposição e negociar com o prefeito é um paradoxo inerente à pragmática do mandato do parlamentar”.

Ao comentar sobre os pré-candidatos ao cargo de vereador pelo PT, o professor disse que “são nomes importantes, mas são apenas nomes, por enquanto”.

O cientista político disse, ainda, que José Ricardo tem ‘estrela própria’, mas nunca se consolidou como uma liderança do partido. Já João Tayah, segundo ele, é querido pela esquerda de classe média de Manaus, mas nunca exerceu um mandato parlamentar e, até outro dia, era militante do Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Por sua vez, Félix Valois militou a vida inteira no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e só recentemente se filiou ao PT.

“Em resumo: são quadros importantes que chegaram, agora, no partido (não podemos nos esquecer de Marcelo Ramos, outro neófito). Resta saber se as bases — a militância do partido — absolverá e apoiará tais candidaturas que nunca experienciaram a militância no partido. O PT tem suas regras e seus códigos internos”, comentou.

Breno também lembrou das disputas acaloradas dentro do partido, como a que aconteceu entre Anne Moura e Marcelo Ramos, em que a militante manifestou publicamente a sua insatisfação com as ingerências de Brasília nas instâncias estaduais do partido.

“A balcanização do partido é uma possibilidade que não pode ser descartada. Cabe às lideranças partidárias minimizar os impasses criados nos últimos meses”, pontuou.

Puxador de votos

(Foto: Arquivo Pessoal)

Na opinião do sociólogo, cientista político, especialista em eleições e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil, a entrada de Marcelo Ramos no pleito deve auxiliar os proporcionais, o que não aconteceria se a vaga fosse de Anne Moura ou Sassá por exemplo.

“Se o majoritário fosse Anne ou Sassá, o PT dificilmente faria algum vereador, pois não teria um ‘puxador’ forte. Com Marcelo, mesmo que ele tenha menos de 100 mil votos, provavelmente algo em torno de 70 mil, caso ele fique com 8%, já pensando na abstenção e nos votos nulos, o partido tem chance de fazer um ou dois parlamentares”, afirmou.

O especialista enfatizou que o “crucial” (importante) é Ramos ter um bom desempenho e consiga transferir isso para os proporcionais.

Para Gilson, o vereador Sassá é um nome forte por já possuir estrutura e bases firmadas.

Sobre Anne Moura, ele disse que ela será um nome forte na representatividade do PT na capital, por já ter conseguido certa visibilidade, assim como já acontece com Zé Ricardo, que possui um histórico de votações expressivas em Manaus.

Já sobre Felix Valois e João Tayah, o professor afirmou à reportagem que os dois devem ajudar na formação do coeficiente eleitoral, assim como outros pré-candidatos ao mesmo cargo. “Penso que esses três (Anne, Sassá e Zé Ricardo) vão disputar uma, talvez duas vagas”, pontuou Gil.

 

LEIA MAIS: