Manaus, 25 de junho de 2024
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Manaus, 25 de junho de 2024

Cenário

Qual motivo levou Wilson Lima a apoiar Roberto Cidade; apoio deve permanecer?

O político ainda não alavancou como o esperado. Pesquisas mostram ele 'brigando' com o bolsonarista Capitão Alberto Neto pelo terceiro lugar na corrida eleitoral.

Qual motivo levou Wilson Lima a apoiar Roberto Cidade; apoio deve permanecer?

(Foto: Divulgação/UB)

Manaus (AM) – As eleições municipais serão realizadas em exatamente quatro meses e, desde o último pleito realizado no ano de 2022, diversas mudanças ocorreram no cenário político local, uma delas foi o distanciamento entre o governador Wilson Lima (União Brasil) e o prefeito de Manaus David Almeida (Avante).

Na última disputa, David Almeida apoiou a reeleição de Wilson Lima, e o esperado era que na eleição deste ano, Almeida fosse retribuído com a ajuda do governador, o que não aconteceu, já que o candidato de Wilson é o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado Roberto Cidade, que pertence ao mesmo partido do chefe do Executivo Estadual.

O político que tem o apoio da máquina do Estado, ainda não alavancou como o esperado, uma vez que em todas as pesquisas eleitorais divulgadas até o momento, incluindo a mais recente da ‘Eficaz’, divulgada no último dia 11, Roberto Cidade ainda aparece ‘brigando’ com o pré-candidato, indicado pelo ex-presidente Bolsonaro, deputado federal Capitão Alberto (PL) pelo terceiro lugar na corrida eleitoral.

Faltando pouco tempo para a realização do primeiro turno, outro aspecto a ser considerado é o fato do pré-candidato do governador não contar nesta eleição com a mesma quantidade de votos que o reelegeram ao cargo de deputado estadual há dois anos, inclusive, como o deputado estadual mais votado na história do Amazonas, com exatamente 105.510 votos, uma vez que a atual disputa se limita a Manaus e, portanto, ele não contará com os votos dos eleitores do interior.

O apoio de Wilson Lima a Roberto Cidade reflete um projeto de poder que mira as eleições de 2026, em que o atual governador deverá concorrer a vaga no Senado Federal.

A aliança entre o governador e o presidente da Aleam não é algo específico do Amazonas, uma vez, que há um histórico de outras alianças na disputa pela Prefeitura e nem todos conseguem êxito, mesmo com o apoio da máquina estatal.

Inclusive, essas alianças são construídas para que o governador do Estado tenha uma base sólida na Assembleia Legislativa, possuindo assim a maioria em sua base e afastando a possibilidade de possíveis problemas como aconteceu com o próprio governador Wilson Lima no seu primeiro mandato, quando teve diversos pedidos de impeachment protocolados na Aleam. Para os planos do governador de chegar ao senado em 2026 o melhor cenário é não ter nenhum desgaste com os deputados e apoiar Cidade neste momento garante tranquilidade, mesmo que isso custe faltar com o apoio ao atual prefeito de Manaus no primeiro turno das eleições.

Cidade, foi eleito em dezembro de 2020 por 16 votos. Na época a base de Lima estava estremecida na Casa Legislativa e Roberto  conquistou a presidência sem o apoio do governador, que sofria rejeição devido a atuação de seu governo na pandemia da COVID 19.

O candidato de Wilson era o ex-deputado estadual Belarminio Lins.

Mudanças

Recentemente, a pré-candidatura de Cidade perdeu o apoio do Partido Democrático Trabalhista (PDT), que abandonou o barco do presidente da Aleam, e agora está apoiando o pré-candidato que tem o apoio do Governo Federal, Marcelo Ramos (PT).

Lima apoia Roberto Cidade por eles serem do mesmo partido, com a finalidade de continuar garantindo uma base forte na Assembleia Legislativa e não ter nenhum tipo de problema no Legislativo? Ou o plano do governador é mais ambicioso e com um olhar mais a frente?

O Portal AM1 foi buscar as respostas para essas perguntas e para isso ouviu a opinião de dois especialistas em eleições.

O escolhido pelo governador ‘não cresce’

(Foto: Arquivo Pessoal)

Para Gilson Gil, que é sociólogo, cientista político, especialista em eleições e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o rompimento de Wilson e David foi uma surpresa. Além disso, ele destacou que o nome de Cidade não cresce como o esperado.

“Realmente foi uma surpresa o governador não apoiar o David. Wilson buscou na Aleam seu candidato, preferiu ‘inventar’ alguém, porém esse nome não cresceu até agora mesmo Wilson transferindo a sua força para Roberto Cidade” pontuou.

O cientista político destacou que a falta de crescimento de Roberto Cidade “pressiona Wilson no caminho do Capitão Alberto”. Para ele, existe uma pressão enorme para que os dois nomes se unam.

Gilson afirma que se o segundo turno for disputado por David e o pré-candidato Amom Mandel (Cidadania) haverá surpresas nos apoios, uma vez que para ele a situação federal e a busca por êxito em 2026 é o que irá pesar nas decisões.

“Wilson quer, antes de tudo, o Senado. É a partir disso que orientará suas ações. Apoiar alguém no segundo turno vai acontecer apenas se isso for benéfico ao seu projeto”, disse o professor.

Ele faz parte de um projeto

Na opinião do professor, pesquisador e analista político Afrânio Soares, Roberto Cidade não é somente o candidato do governador, mas ele faz parte de um projeto do governador que envolve não somente Manaus, mas outros municípios do interior do estado, como por exemplo, a pré-candidatura de Brena Dianná (União Brasil), em Parintins.

“É óbvio que o governador quer muito ganhar em Manaus para garantir também um apoio a sua futura eleição para o Senado. Hoje o plano A do governador é viabilizar o deputado Roberto Cidade e não o prefeito David Almeida. É um projeto dele (Wilson) colocar o Cidade ou até o Amom contra o David no segundo turno”, explicou.

A possibilidade de uma reconciliação entre o governador e o prefeito é vista pelo analista como algo que dependeria de um restabelecimento do elo de confiança entre as duas lideranças políticas.

 

(Foto: Arquivo Pessoal)

 

“O Roberto já tem esse elo que antes já existiu entre o governador e o prefeito. Nesse momento não existe mais e esse é o motivo pelo qual ambos não estão caminhando juntos nesta eleição”, disse.

Afrânio lembrou que não é uma questão de briga do Cidade contra os demais, mas que o presidente da Aleam simboliza o Wilson Lima, e por isso, todo o arco de aliança que o governador tiver, ele investirá para benefício de Roberto, como já está fazendo.

“O Cidade tem o maior arco de aliança até então nessa eleição, mais do que o prefeito, mais do que o Marcelo Ramos, que representa o governo federal. Ele representa de fato o governador e essa é a questão, ele (governador) não vai medir esforços para que o seu projeto encabeçado pelo Roberto Cidade se viabilize. Se vai dar certo ou não, só o tempo vai dizer, pontuou Soares.

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