Manaus, 25 de abril de 2024
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Cenário

Raiff Matos critica debate da diversidade em escolas municipais; ativista discorda de parlamentar

Raiff Matos já havia encaminhado documento à Semed, no qual solicitava a retirada do tema da diversidade dos conteúdos das escolas

Raiff Matos critica debate da diversidade em escolas municipais; ativista discorda de parlamentar

MANAUS, AM – A bancada evangélica da Câmara Municipal de Manaus (CMM) se posicionou contrária à discussão de temas relacionados à orientação de sexualidade para crianças e adolescentes nas escolas da rede municipal de ensino. Em fevereiro, o vereador Raiff Matos (DC) apresentou documento na Secretaria Municipal de Educação (Semed) para retirada de debates sobre a diversidade sexual e gênero  nas escolas da capital.

Na sessão desta terça-feira (25), o parlamentar voltou a falar sobre o assunto, desta vez, mostrando que livros didáticos distribuídos publicamente pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD), trazem conteúdo sobre gênero e diversidade sexual.

“Eu estou angustiado e triste ao trazer este tema, com o qual estou indignado nesse momento, não tenho muita coisa a fazer, a não ser usar essa tribuna para falar, mas irei fazer um abaixo-assinado.  Há uma doutrinação que uma certa militância tem feito dentro das escolas de Manaus”, disse o parlamentar, mostrando um vídeo  de um livro do ensino médio que fala sobre a questão LGBT.

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Raiff disse que é de responsabilidade dos pais ensinarem seus filhos sobre sexualidade e cabe aos professores o dever de ensinar Português, Matemática, História, Química e Física, apontando que essa discussão prejudica as famílias. “É um tema que eu penso que não deve ser debatido na sala de aula, mas com os pais, em casa. Não cabe ao professor ficar ensinando sobre esses temas e eu creio que isso prejudica a família e o caráter do jovem. Quando ele tiver 18 anos, tudo bem, aí escolhe o que vai querer ser”, ressaltou ele.

Os vereadores Professor Samuel (PL); Marcel Alexandre (Podemos); Yomara Lins (PRTB) e Thaysa Lippy (PP) reforçaram a fala de Raiff. O vereador Samuel disse que o tema está sendo colocado de uma forma forçada nos livros didáticos. “É uma questão descarada você colocar algo em livros didáticos, onde são obrigados a serem manipulados pelos professores e os alunos vão manipular e aquilo leva para dentro de sua casa”, disse o parlamentar.

O vereador Marcel, por sua vez, disse que é necessário tomar cuidado com o conteúdo ensinado nas escolas. “Estão doutrinando os filhos contra os pais, uma coisa é a educação de casa e outra é o que ensinam na escola, com quem passam mais temos com alguém ensinando e doutrinando, então, nós padeceremos!”, comentou o parlamentar, dizendo que uma nova ordem está sendo criada para destituir o poder da família.

A ativista do Movimento de Mulheres e dos Direitos Humanos (Dandara) e educadora, Francy Júnior, falou que o grupo já fez carta de repúdio sobre o posicionamento do vereador e que, de fato, seria muito bom se as famílias realmente falassem desses temas “tabus”. “Nós fizemos uma carta coletiva de repúdio ao vereador (Raiff Matos) e seria ótimo se as famílias já começassem esse trabalho com as crianças, porém, nós sabemos a realidade das famílias, que não têm essa cultura de estar orientando e conversando com as crianças e adolescentes sobre esses temas – os quais ainda são colocados como “tabu”.

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Francy ressaltou, ainda, que as famílias não foram preparadas para essa discussão e que isso não é culpa das famílias, mas defende o diálogo nas escolas com parâmetros e metodologias.

“Antigamente, os pais não falavam sobre isso, a orientação, sexo, a transformação do corpo de menina e de menino e isso não é culpa da família, mas de uma sociedade patriarcal e machista, que sempre utilizou do medo para mascarar violências dentro de suas casas. Seria maravilhoso se todas as crianças tivessem uma família assim, que pudessem conversar sobre tudo, porém, não existe. Por isso, eu sou a favor de que nas escolas estejam professoras preparadas para dialogar de uma forma lúdica, sem medo, de não colocar como pecado e que as crianças começassem a pensar e cuidar do seu “corpinho” e sua mente, de tudo aquilo que a gente pode chamar de “espaço sagrado”, no corpo, comentou Francy.