Manaus, 9 de maio de 2024
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Manaus, 9 de maio de 2024

Cidades

Reajuste de 52% na conta de luz preocupa comerciantes e famílias em Manaus

O novo ajuste na conta de energia preocupa donos de estabelecimentos e famílias que tiveram a renda afetada por conta da pandemia da covid-19

Reajuste de 52% na conta de luz preocupa comerciantes e famílias em Manaus

Foto: Reprodução

MANAUS (AM) – Com o Brasil vivendo uma crise hidrelétrica, o brasileiro tem mais um problema para se preocupar. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou, na última terça-feira (29), que a conta de luz da população deve subir ainda mais. O aumento na conta de energia é somado a mais um problema no Brasil, que ainda enfrenta o desemprego, além do cenário da pandemia da covid-19.

De acordo com a Aneel, o brasileiro vai tirar do bolso 52% do valor da bandeira vermelha no patamar 2. O aumento deve ocorrer a partir do mês de julho, quando a taxa de R$ 6,243 por 100 kWh (quilowatt-hora) consumidos passa para R$ 9,49 por 100 kWh.

O acréscimo é uma dificuldade para micro e pequenas empresas, famílias de classe média e em vulnerabilidade social. Em pequenos estabelecimentos, por exemplo, que funcionam em horário comercial, existem duas maneiras para pagar a conta de energia: aumento nos preços dos produtos ou métodos para economizar energia. Já na situações das famílias, é necessário fazer o racionamento ou buscar alternativas de fazer renda extra para conseguir completar o dinheiro para o pagamento.

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Dono de um mercadinho com a família em Manaus, o estudante João Almeida afirmou que a conta de luz já estava alta e, com o novo reajuste feito a partir do mês de julho, o gasto com energia deve aumentar em mais de 40% no comércio. O pequeno estabelecimento funciona 12 horas por dia, seis dias na semana, e os proprietários desembolsam cerca de R$ 1 mil todos os meses em energia.

No entanto, o estudante explicou que o novo valor vai pesar no bolso e, infelizmente, precisam tomar medidas de adequação no preço dos produtos. “Infelizmente será necessário aumentar o preço de alguns produtos, principalmente aqueles que dependem do armazenamento em freezers e geladeiras”, disse.

Foto: Reprodução

O uso de refrigeradores, que já era uma preocupação, se tornou ainda mais cuidadoso. Não podendo ser desligado, os proprietários do local já contabilizam o valor no fim do mês que deverá ser pago. Porém, com o reajuste de R$ 9,49 por 100 kWh consumidos, o estudante contou que os proprietários e funcionários vão se reunir para direcionar métodos para conseguir controlar a situação.

João contou que a família tenta economizar o máximo possível nos aparelhos que podem ser desligados. O reajuste na conta de energia pode ser um desafio para o estabelecimento, mas ele afirmou que não vão perder o foco. “A missão é vender mais para conseguir arcar com as despesas fixas relacionadas à energia”, comentou.

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“Ainda estamos em pandemia e a situação financeira do amazonense continua precária, o consumidor também vai ter que comprar menos, porque sua luz também vai aumentar. Então, é uma cadeia toda que fica prejudicada”, disse.

Dificuldades da covid-19

O profissional de educação física, Eduardo Travessa, mora com a família. Em casa, as quatro pessoas que moram na residência evitam ligar as luzes, principalmente ao dia e, à noite, quando saem do cômodo, desligam as luzes para evitar aumentos na conta de energia.

No entanto, com o reajuste no mês de julho, Eduardo contou que vai ser difícil manter o valor baixo, mas que será necessário. “Vai ser um uso limitado do qual não estamos acostumados”, comentou. Com apenas uma pessoa trabalhando de maneira formal, os outros residentes tentam uma renda extra para conseguir completar o dinheiro para o pagamento.

“A pandemia da covid-19 pegou todos de surpresa. É complicado continuar mantendo a renda quando há um vírus que já matou mais de 500 mil pessoas e você precisa sair para trabalhar. O medo de contrair a doença fez a minha mãe sair do emprego. Eu e meu irmão somos do grupo de risco, começamos a pandemia trabalhando em home office, mas logo fomos despedidos por conta do quadro da empresa. Atualmente, somente meu pai continua com uma renda fixa e dá conta de tudo, enquanto nós tentamos ganhar dinheiro do nosso modo”, relatou.

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Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Ele comentou que não imagina quanto a família passará a pagar pelo consumo de energia, mas que já devem fazer planos para tentar economizar na medida do possível. “Acredito que se mantermos os costumes que já adotamos diariamente, a luz irá aumentar apenas R$ 130”, disse.

No cenário da pandemia, com especialistas ainda apontando uma terceira onda da covid-19 no Brasil, Eduardo afirmou que o aumento na conta de energia é prejudicial para as famílias, principalmente as que estão em situação de vulnerabilidade social, que terão que escolher entre comer ou pagar a conta.

Crise nas hidrelétricas

Na última segunda-feira (28), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um apelo aos brasileiros em pronunciamento em rede nacional. O ministro pediu para que a população poupe energia e economize água, por conta do baixo nível nos reservatórios das hidrelétricas.

“O uso consciente e responsável de água e energia reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada”, declarou o ministro.

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Em meio a boatos de que a crise hídrica pode ocasionar um apagão-geral em todo o Brasil, o ministro tentou acalmar os brasileiros sobre a situação nas hidrelétricas, que registram o pior nível nos reservatórios em 91 anos. “Estamos certos de que, juntos, superaremos esse período desafiador e transitório”, afirmou.

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Apesar da crise, Albuquerque afirmou que o governo federal já está traçando medidas para reverter o problema. Porém, é necessário que os brasileiros sigam as orientações para economizar o consumo de água e energia.

O reajuste

A Aneel informou o reajuste da tarifa da bandeira vermelha nível 2, de R$ 9,49 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) entre julho e dezembro deste ano, um reajuste de 52%.

Apesar de ser um preço alto, a decisão contrariou a recomendação da área técnica, que indicou o valor de R$ 11,50 por 100 kWh. Com a decisão, a diretoria optou por parcelar o reajuste, repassando cerca de R$ 3 bilhões para as tarifas de 2022.

O sistema de bandeiras reflete a situação do sistema elétrico – ainda muito dependente das hidrelétricas, que hoje, se ressentem da pior seca dos últimos anos, segundo o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.

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“Se nada for feito, teremos um déficit de até R$ 5 bilhões na conta bandeiras entre julho e dezembro”, afirmou o relator do processo, o diretor Sandoval Feitosa Neto.

Com a tarifa no patamar aprovado, a Aneel decidiu adiar o repasse desses custos para as contas de luz no próximo ano. No entanto, a diretoria da agência ainda discutirá essa possibilidade em uma reunião prevista para as 20h desta terça-feira.

Foto: Agência Brasil

Parte dessa decisão se deve à pandemia, que, segundo Pepitone, fez os brasileiros perderem o emprego e a renda. As distribuidoras perderam receita durante a crise e uma operação de socorro foi lançada pelo governo com a participação do mercado financeiro.

“As pessoas se preparam para uma retomada da economia. A indústria prevê uma retomada. É neste momento que temos de tomar uma medida para inibir o uso da energia”, questionou o Cruz. “Colocamos agora [o reajuste] ou diluímos no ano que vem?”

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