Manaus, 4 de maio de 2024
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Cidades

Relembrar para não repetir: analistas do AM comentam os 57 anos do Golpe Militar

O chamado Golpe Civil-Militar aconteceu entre 31 de março a 9 de abril de 1964, marca o período em que o país sofreu uma política golpista

Relembrar para não repetir: analistas do AM comentam os 57 anos do Golpe Militar

Foto: Divulgação

MANAUS – Há 57 anos, no dia 31 de março, o chamado Golpe Civil-Militar foi instaurado no Brasil e marcou o período em que o país sofreu uma reviravolta política, onde conservadores civis e militares não aceitaram a vitória de João Goulard (Jango) nas eleições de 1961 e instituíram uma ditadura militar em 1964. O portal Amazonas 1 conversou com um historiador e um sociólogo para relembrar os ‘anos de chumbo’ e falar sobre essa data que marcou de diferentes formas gerações no Brasil.

O historiador, Otoni Mesquista, relatou que apesar de, na época, ser uma criança, sentiu bastante opressão pelo golpe. Mesquita contou que essa opressão sobre a sociedade brasileira se tornou mais firme após a criação do AI-5 (Ato Institucional nº 5) em 1968, que foi um decreto emitido pela ditadura militar, durante o governo de Artur Lira, quando os brasileiros acabaram perdendo seus direitos políticos.

“Foi quando ficou mais intenso a reação de intelectuais e estudantes, sobretudo, fazendo reações a esse sistema, uma resistência, onde implicou em, até sequestros, e atos que não muito harmônicos, mas eram maneiras que esses grupos, que se organizavam, tentavam pressionar e liberar pessoas contra todo o autoritarismo que havia”, comentou o historiador.

Durante esse período, muitos precisaram sair do Brasil, buscando outros países, principalmente os artistas que visavam usar a arte como forma de lutar contra a ditadura e isso era considerado crime, mas em 1979, com a aprovação da Lei da Anistia, que diz que crimes jurídico cometidos dentro de um determinado período de tempo são esquecidos, muitos exilados retornaram ao país.

“E a partir daí tivemos algumas liberações, mas até aquele momento tudo tinha que passar pela policia federal”, conta o historiador. Otoni também ressaltou que mesmo com as liberações, os militares permaneciam dentro das escolas, nos órgãos públicos e nas universidades.

“Essa ditadura militar é sempre uma ameaça a democracia porque a democracia se contrapõe ao autoritarismo e precisamos ter resistência e avançar para que todos tenham seus direitos garantidos”, frisou.

Após 57 anos e toda a história trágica que esse golpe trouxe ao Brasil, muitos militares e até mesmo pessoas mais conservadoras, afirmam que não foi um golpe e sim uma forma de “pacificar” o país. Na noite da última terça-feira (31), o Ministro de Estado da Defesa, Walter Souza Braga Netto, publicou em nota, afirmando, em outras palavras, que o Golpe de 1964 deve ser celebrado como um marco histórico.

Em Manaus, o empresário e major da reserva do Exército, Romero Reis, que foi candidato a prefeito nas Eleições 2020, movimentou a internet ao replicar texto do General Braga Neto em seu Instagram. Depois publicou a seguinte frase: “A história brasileira tem alguns divisores de águas. Destaco: nossa independência, 31Mar64 e a eleição presidencial em 2018. Nossa Bandeira sempre será Verde e Amarela. Homens livres e de bons costumes promovem desenvolvimento e economia de mercado”, escreveu Romero.

Lembrando que em 2019, o presidente Jair Bolsonaro, fez um pedido para a a data fosse celebrada novamente dentro dos quartéis. No ano passado, no inicio da pandemia, o ex-Ministro da Defesa, General Fernando Avezedo, redigiu uma nota comemorativa fazendo referencia ao golpe.

Em conversa com o professor e sociólogo Francinézio Amaral, ele ressaltou que não se deve comemorar esse dia, pois, em um país como o Brasil que, formalmente, é democrático, celebrar esse dia é um sinal evidente que a democracia está em perigo.

“Ditadura não se comemora, se lembra, para que jamais se permita que ocorra novamente. Segundo que, além insano e bizarro, comemorar um golpe militar-empresarial reflete um equívoco histórico que se deu pelo fato de que os ditadores deixaram o poder sob um acordo político que os preservou das punições devidas e os permitiu seguirem livres, influenciando o cenário político”, explicou o sociólogo.

O professor destacou que os partidos de direita, sejam esses em maior ou menor grau, são um desdobramento direto do MDB e da Arena, que eram os partidos que dominavam o cenário político na era da ditadura.

Para que muitos fiquem cientes, a data do Golpe foi trocada. Segundo documentos históricos, o ocorrido aconteceu no dia 1º de abril de 1964, mas a data foi alterada devido esse dia ser considerado, no Brasil, o “dia da mentira”. Então a data do golpe foi antecipada para o dia 31 de março.

Amaral alertou para um outro equívoco comum que é chamar os militares que governaram o país durante a ditadura de presidentes e não de ditadores, que é o que foram de fato.

“Outro dado crucial para entender porque é absurdo comemorar uma ditadura é entender que o ‘perigo do comunismo’ nunca existiu de fato, pois as propostas do governo de João Goulart eram pautadas no trabalhismo, que visava promover reforma agrária e justiça social e foi isso que causou pânico entre as classes privilegiadas representadas pelos empresários, latifundiários, membros do judiciário e militares. O que eles tinham, e ainda têm, é ojeriza contra a justiça social”, disse.

Para finalizar, o sociólogo frisa que o golpe que instaurou uma ditadura de 21 anos no país só foi possível devido a união de uma parcela dos militares entreguistas com a elite empresarial e líderes religiosos que na época recebiam apoio financeiro do governo dos Estados Unidos, o qual visava implantar na América Latina domínios econômicos e políticos.

#DitaduraNuncaMais

Nas redes sociais famosos e vários usuários se mobilizaram para levantar uma tag “Foi Golpe”, a hashtag está entre os assuntos mais comentados do Twitter. A tag é para lembrar, mais uma vez, que este dia não pode e nem deve ser comemorado, pois muitas vidas foram perdidas durante o processo.

https://twitter.com/flaviagasi/status/1377229487595794433?s=20