Manaus, 3 de maio de 2024
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Rússia fecha espaço aéreo ao redor da Crimeia depois de protesto americano

A Rússia fechou o espaço aéreo em torno da costa da Crimeia por quatro dias para conduzir mais uma rodada de exercícios militares

Rússia fecha espaço aéreo ao redor da Crimeia depois de protesto americano

Foto reprodução Internet

SÃO PAULO, SP – A Rússia fechou o espaço aéreo em torno da costa da Crimeia por quatro dias para conduzir mais uma rodada de exercícios militares. A medida ocorre um dia depois de os Estados Unidos protestarem pelo fechamento de trechos do mar Negro em torno da península reabsorvida por Vladimir Putin em 2014, após o governo simpático ao Kremlin ser derrubado em Kiev.

A restrição de navegação, emitida na sexta, vale por seis meses a partir do sábado (24) para navios militares e governamentais estrangeiros. Como afeta o mar de Azov, um pedaço do mar Negro que banha Crimeia, Rússia e Ucrânia, há o temor de que impeça na prática exportações de Kiev.

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Segundo a agência russa Interfax, ao menos 20 navios e aviões de ataque Su-25 da Frota do Mar Negro fizeram manobras já nesta terça (20). Com isso, a já elevada temperatura da crise em torno da Ucrânia sobe mais alguns graus. Não serão poucos os planejadores militares ocidentais que verão a sequência de ações russas como um prenúncio de uma ação contra o país vizinho.

Nesta terça, o embaixador americano em Moscou, John Sullivan, anunciou que voltará a Washington para consultas com seu governo, conforme havia sugerido o chanceler russo, Serguei Lavrov.

Assim, os dois países estarão sem embaixadores em solo em meio à grave crise na Ucrânia –o russo Anatoli Antonov foi chamado a Moscou em março. A tensão é temperada pelo agravamento da condição de saúde na cadeia do líder opositor Alexei Navalni, que está em greve de fome e é apoiado pelos EUA.

A nova etapa da crise começou há três semanas, quando foram detectados movimentos de tropas e blindados russos em direção às fronteiras com a Ucrânia, na Crimeia e junto ao Donbass, a região do leste do vizinho que é parcialmente ocupada por separatistas pró-Rússia.

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Eles formaram duas repúblicas autônomas na área e lutam uma guerra civil, ora congelada, que já matou quase 14 mil pessoas.

Segundo o Pentágono, é a maior concentração militar na área desde a crise de sete anos atrás. A União Europeia divulgou, na segunda (19), que já haveria 100 mil homens na área, número que o Kremlin não nega.

O Kremlin se diz preocupado com a movimentação de forças ucranianas junto às fronteiras rebeldes. Desde o começo do ano, o enfraquecido presidente Volodimir Zelenski cedeu a pressões de setores da elite política do país e assumiu uma atitude mais agressiva em relação aos separatistas. Isso colocou a Rússia em seu próprio alerta, gerando todo o alarme no Ocidente, com declarações sucessivas de apoio dos EUA e dos membros europeus da Otan, a aliança militar transatlântica criada em 1949 para enfrentar Moscou.

Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, voltou a dizer que seu país não é o responsável pelas tensões. Ele culpou a Europa de “psicose antirrussa em massa”, citando a acusação de que Moscou foi responsável por uma explosão em um depósito de munição tcheco em 2014, feita por Praga. No Reino Unido, o chanceler Dominic Raab afirmou que é preciso “deter a Rússia” de qualquer ação contra a Ucrânia. Na semana passada, os EUA determinaram novas sanções contra os russos, ainda que por outros motivos.

A pressão de Putin tem um objetivo insinuado, que é o de fazer valer termos dos acordos que pararam de forma frágil a guerra no leste ucraniano. Eles reconhecem a soberania de Kiev sobre as área rebeldes, mas as mantêm autônomas. O que o russo quer é que a Ucrânia não integre as estruturas ocidentais, particularmente a Otan, a quem já pediu um acesso rápido inviável justamente por viver disputas territoriais.

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Na concepção geopolítica russa, é preciso manter anteparos estratégicos contra forças adversárias. Belarus, ao norte, e o sul do Cáucaso são outros dois pontos em que Putin asseverou sua vontade no ano passado. Respectivamente, apoiou a ditadura em crise em Minsk e inseriu forças de paz para mediar o conflito entre Armênia e Azerbaijão.

A rigor, contudo, ninguém tem interesse numa guerra que pode sair de controle e envolver países armados com bombas atômicas, caso de Rússia e, do lado da Otan, EUA, Reino Unido e França –embora Paris mantenha suas armas fora do sistema de emprego comum da aliança.

A proibição de voos também ecoa uma notificação a empresas aéreas, emitida na segunda pelos EUA: a de que aviões cujas rotas passem perto da região em conflito exerçam “extrema cautela” e considerem alterar o trajeto.

Isso porque há muitos sistemas antiaéreos, dos dois lados, na região. Em 2014, durante o conflito no Donbass, um Boeing 777 malaio foi derrubado por um míssil de um lançador russo Buk, matando 298 pessoas. Uma investigação internacional culpou a Rússia de ter emprestado a arma para rebeldes, que cometeram o erro ao atirar. O Kremlin negou, e aponta para forças ucranianas como as responsáveis.

(*) Com informações da Folhapress