Manaus, 9 de maio de 2024
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Cidades

Sem ambulâncias e com risco de explosão, hospital de Barreirinha tem cenário de caos

Portal Amazonas 1 chega à cidade e encontra falta de planejamento da prefeitura, que não se organizou para enfrentar a maior cheia da história

Sem ambulâncias e com risco de explosão, hospital de Barreirinha tem cenário de caos

Fotos: Márcio Silva

BARREIRINHA, AM – Nos últimos dias, o hospital Coriolano Cidade Lindoso, localizado no município de Barreirinha, no Amazonas, encontra-se debaixo d’água por conta da cheia dos rios Paraná do Ramos e Andirá, que banham a região. Porém, não é só esse o problema que a população enfrenta. Além da enchente, o hospital, que possui cerca de 15 leitos, também sofre sem ambulâncias o suficiente para atender os pacientes, conforme informado pela própria diretora da unidade de saúde, Daniela Marinho, ao Portal Amazonas1, nesta terça-feira. Nossa equipe de reportagem está na cidade para uma série de matérias exclusivas que vão mostrar a triste realidade da cidade.

Enquanto apenas uma ambulância circula pela cidade resgatando os doentes, a outra está estacionada em frente à unidade hospitalar, inutilizável. O defeito da ambulância é no motor, danificado pela água que invadiu as ruas do município. O receio é que o mesmo ocorra com o outro único veículo que resta ao hospital. Aí, o povo estará desamparado.

Ambulância quebrada

“Seu” Geneas Lopes, de 41 anos, que trabalha como pedreiro e está com covid-19, afirma que a situação em Barreirinha não está fácil, principalmente no hospital Coriolano. A saúde pública padece. “Está uma situação complicada a questão da cheia. Para a gente chegar aqui no prédio, a gente tem que passar pela ponte e na hora que eu vim para cá, eu tive que caminhar nessa ponte; a dificuldade é muito grande, a questão da estrutura”, disse.

Foto: Falta de planejamento afeta pacientes em Barreirinha

“A gente não tá sendo tão afetado em relação ao atendimento, o que está acontecendo muito é a questão da estrutura em que o hospital está localizado, com a cheia chegando até aqui. Porque a ambulância fica lá na esquina, a gente tem que atravessar a ponte para chegar aqui”, desabafou.

O barreirinhense disse, ainda, que o poder público municipal deveria ter tomado atitudes prévias para evitar o caos no hospital, já que esse problema da cheia não é de hoje. Agora, resta sofrer com o caos. “A gente tem que ver como é a melhor forma de fazer, né. Eu queria que não acontecesse isso. Deveria sim ter feito um planejamento mais detalhado né, de como chegar aqui. Mas isso só com o tempo, né, porque não é a primeira vez que acontece isso. Desde 2009 acontece isso, deu tempo de se planejar e fazer uma estrutura adequada”, criticou o pedreiro.

Água no gerador

Aparentemente sem planejamento estratégico prévio para a cheia de 2021, o prefeito que comanda Barreirinha, Glênio Seixas (MDB) e a diretora do Hospital Regional, Daniela Marinho, terão que, além das passarelas de madeira, providenciar uma contenção de concreto para que a água não atinja o gerador de energia da unidade de saúde.

De acordo com um dos funcionários, para piorar a situação em que se encontra o hospital, há risco até de explosão. “A água está subindo tanto, que já está chegando na rede elétrica do hospital. Há risco até de explodir”, disse ao Portal Amazonas1. Ele disse, ainda, que hoje mesmo o gerador chegou a ser desligado para iniciar uma obra de contenção da água, o que deixou o hospital sem energia por alguns minutos. Mas, o trabalho foi interrompido devido a chegada de um paciente grave e o gerador teve que ser religado.

Água no gerador pode causar explosão

O serviço de contenção da água para evitar que encoste no gerador deve continuar nos próximos dias.

Transferência de pacientes

O Portal Amazonas1 conversou com a diretora do hospital. Segundo a gestora, a previsão é de que os pacientes da unidade de saúde sejam transferidos na tarde desta quarta-feira (19) para a Escola Municipal Hilda Dutra, que contará com cerca de 25 leitos para atender a população.

Sem aulas presenciais, a unidade de ensino está desde a semana passada recebendo serviços de adequação para receber os enfermos. Entre outras coisas, o local está obtendo instalação de chuveiro e pintura. A unidade também atenderá pacientes com covid-19.

“Hoje nós estamos com plano de mudanças dos pacientes internos e os atendimentos de urgência e emergência para a escola Hilma Dutra, que está passando por umas adequações, que precisamos instalar chuveiros, fazer uma pintura. Então a previsão de transferência dos pacientes está para amanhã a tarde, eles estão terminando esses reparos”, disse Daniela.

Embora ainda esteja realizando atendimentos, a diretora afirmou que o hospital não tem mais condições de receber pacientes. O planejamento, segundo ela, é focar os atendimentos para a escola e casos mais graves e cirurgias deverão ser encaminhados ao hospital.

Daniela, diretora do hospital, afirma que a cidade vive surto de diarréia e vômito por causa das águas sujas

A unidade de ensino fica localizada na mesma rua que a unidade de saúde. Inicialmente, segundo Daniela Marinho, as transferências de pacientes seriam realizadas a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Barreirinha, porém, o local já se encontra com ruas alagadas.

“Temos planos para construção de mais rampas para as pessoas terem acesso e acho que lá para sábado vão estar construindo. Se bem que depois que a gente voltar para a escola, o fluxo aqui vai diminuir. Só vai ter mesmo as puérperas no hospital e as cirurgias, que vai ser atendido na escola e vai ser encaminhado para o hospital só para fazer o parto”, explicou.

Surtos causados pela enchente

Fora os casos de covid, que já somam 2.331 no município, ruas e hospital alagados, a população também enfrenta surtos causados em decorrência da enchente. Segundo a gestora, só na última segunda-feira (17), seis crianças deram entrada com sintomas diarréia e vômito.

“Agora nós estamos tendo muito surto de diarréia e vômito. Quando sobem as águas, sempre aparece, principalmente em crianças né. Inclusive, ontem, nós tivemos umas seis entradas de crianças com vômito e diarréia. Então a gente já está se programando para isso também”, disse.

Calamidade pública

Com todo esse cenário de caos, diretores das UBSs se reuniram na Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), na tarde de ontem, para definir o relatório que decretará o estado de calamidade pública em Barreirinha.

“Nós vamos nos reunir na Semsa com o secretário de Saúde e os diretores das UBSs para fazer um relatório para apresentar que o município vai ter que declarar estado de calamidade publica, porque não tem mais condições”, disse Daniela Marinho, ao Portal Amazonas1, nessa terça.