Manaus, 17 de maio de 2024
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Manaus, 17 de maio de 2024

Cidades

Sem fiscalização, Manaus é destruída por pichações

Sem fiscalização, Manaus é destruída por pichações

| Foto: Márcio Silva/Portal AM1

MANAUS (AM) – Encontrar muros e prédios públicos pichados em Manaus é uma tarefa fácil, basta seguir para o Centro da cidade ou até mesmo os bairros mais distantes. O ato é considerado crime segundo, o Artigo 163 do Código Penal brasileiro, mas, nas ruas da capital, a punição por essas atividades é nula.

De acordo com a lei, “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia” é passível a pena de um a seis meses, além de pagamento de multa. A situação piora quando esse crime é cometido contra espaços públicos ou patrimônios históricos tombados.

No Centro de Manaus, próximo a prédios históricos, é possível encontrar diversos muros completamente destruídos. Sejam eles edifícios comerciais, antigos ou abandonados, seus muros foram utilizados para ‘avisos’, xingamentos com vieses políticos ou para pinturas não autorizadas.

Foto: Márcio Silva | Portal AM1

“É insultante ver isso aqui, uma parte tão bonita da cidade sendo vista desse jeito por tudo mundo. Chega a ser meio triste pensar que vários turistas passam e veem isso”, lamentou a personal trainer Andresa Souza, que esperava seu ônibus na avenida Getúlio Vargas, enquanto as cenas eram registradas.

Artistas x vândalos

Na própria avenida, algumas paradas de ônibus foram revitalizadas e as pichações foram substituídas por grafites. No início deste ano, artistas de Parintins em uma associação com o Casarão de Ideias, foram contemplados pela Lei Aldir Blanc para dar início ao projeto -todas com temas amazônicos.

Foto: Divulgação

No entanto, pouco menos de 6 meses depois, algumas delas já foram destruídas pela pichação. O Portal Amazonas 1 encontrou o espaço pintado com linhas vermelhas e sem significado.

Foto: Marcio Silva | Portal AM1

Infelizmente, o grafite e a pichação ainda são constantemente confundidos por se tratarem de pinturas em muros. O que vemos nas ruas é que ambos vivem em um embate entre artistas e vândalos.

“O grafite tem uma história, tem uma crítica, tem um significado”, explica o artista plástico Alfredo Araújo. Ele trabalha com essa forma de arte desde 1984. “Fazemos as pinturas em tela, pedimos autorização dos proprietários e então passamos para os muros”, contou. “Já a pichação, não é nada disso, tem o objetivo de depredar, machucar e só vandalizar. Até o material que usam é diferente, acabam deteriorando os prédios”.

Foto: Arquivo Pessoal

Araújo é um dos artistas locais que mais usa de suas obras para enaltecer a cultura amazônica e a arte. Além de lecionar pintura nas escolas, ele tem obras espalhadas em muros por toda Manaus, em um esforço de dar visibilidade à comunidade artística do grafite.

A falta de amparo do poder público

Dentro dessa comunidade, casos de pichação em cima de murais de grafite já prontos, entristece, mas está longe de ser uma novidade. Nos últimos anos, uma das iniciativas do governo estadual e principalmente da Prefeitura de Manaus foi dar mais espaços a artistas locais para ilustrar pontos da cidade, como os viadutos, por exemplo.

Viaduto na Avenida Djalma Batista | Foto: Márcio Silva | Portal AM1

Apesar de alguns espaços terem, de fato, sido cedidos, muitos artistas sentem-se desemparados e sem o incentivo necessário. A ausência de fiscalização para combater pichações e até mesmo punir culpados acaba sendo desestimulante.

“Infelizmente, não temos o incentivo necessário”, desabafa o artista Rosemberg Prado, “Às vezes, o próprio artista, enquanto está pintando, é marginalizado, é tratado como alguém desocupado, mesmo quando estamos fazendo o nosso trabalho e deixando a cidade mais bonita, enquanto aqueles que picham… Eu nunca vi uma fiscalização nas ruas para isso”, concluiu.

Foto: Arquivo pessoal

Como exemplo, Prado cita uma de suas obras no bairro São José, um retrato do líder indígena Raoni, cacique de etnia Caiapó. De acordo com ele, a pintura representa a manipulação de grandes países contra a população indígena. Na ocasião, Rosemberg usou as bandeiras da Alemanha e da França para representar nações que fingem ajudar povos indígenas, apenas para ter uma facilitação maior para captar recursos – um significado profundo, que o piche não tem.

“Esta aqui, eu só consegui fazer, porque uma mulher de São Paulo viu as minhas artes através das redes sociais e resolveu patrocinar todo o trabalho. Eu pedi autorização do proprietário do estabelecimento, ele permitiu e eu pude fazer esse muro em 2019.”, relembrou.

Fiscalizações

Em uma reportagem veiculada em junho, o Portal Amazonas 1 teve dificuldades de encontrar guardas municipais no Centro de Manaus. Em teoria, o papel deles é manter a ordem nesses espaços e fiscalizar, também, contra qualquer dano até que configure crime, como o vandalismo. Durante a captura das imagens para essa matéria, também não houve sucesso.

Sobre a limpeza de casos de pichação, em gestões anteriores à gestão de David Almeida, realizam a remoção de monumentos e praças de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Limpeza Pública. Ao entrarmos em contato sobre esse assunto nesta semana, não obtivemos resposta até a publicação desta reportagem.