A alta cúpula da Polícia Federal (PF), no Amazonas, e membros dos dois Ministérios Públicos do Estado (MP-AM) e Federal (MPF) estão afastados das operações policiais e de inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM).
Entre eles, há resistência aos integrantes do comando da pasta, escolhidos pelo governador Wilson Lima. Com essa falta de sintonia, a SSP-AM não consegue atuar efetivamente na repressão aos fornecedores de drogas que alimentam as “bocas de fumo” da capital e interior do Estado.
O secretário da SSP, coronel Louismar Bonates, foi citado em duas operações policiais do Amazonas de grande repercussão nacional em que atuaram, juntos, a PF, o MPF e o MP-AM. Uma delas é a operação “Centurião”, deflagrada em 2005.
Segundo o inquérito, a Centurião investigou a existência de um grupo de extermínio dentro da Polícia Militar (PM) para evitar a formalização de denúncias contra líderes do tráfico internacional de drogas, no Amazonas. Na época, Bonates não foi indiciado.
A segunda operação em que o secretário de Segurança teve o nome envolvido foi a “La Muralla”, de 2015, que atuou especificamente para desmontar um esquema de proteção de membros do poderes Executivo e Judiciário à facção Família do Norte (FDN).
‘Acordo de paz’
O jornal Folha de São Paulo noticiou, em 2017, que gravações da La Muralla mostravam que Bonates atuou como o responsável por negociar um “acordo de paz” nas cadeias em 2015 com líderes da facção. O MPF encaminhou a informação ao MP-AM, e a denúncia está em fase de investigação.
Outro caso em que o comandante da SSP-AM se viu envolvido em polêmica foi, em 2016, com a descoberta pelo Exército da existência de uma suíte equipada para o acusado de tráfico internacional, José Roberto Barbosa, o “Zé Roberto da Compensa”, no presídio.
A suíte foi construída dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no km 8 da BR-174, quando Bonates era secretário de Administração Penitenciária (Seap), em 2016. Ele pediu exoneração semanas depois da descoberta, e a suíte foi demolida.
Apesar de Bonates não ter sido condenado em operações policiais, os agentes da PF e membros dos dois Ministérios Públicos dão evidências de desconforto em trabalhar ao lado do coronel e de sua equipe nas ações de Segurança do governo.
Crimes militares
Para agravar a relação institucional entre membros de órgãos fiscalizadores e a SSP-AM de Wilson Lima, o comandante-geral da PM, coronel Ayrton Ferreira do Norte, responde a crimes militares, segundo informações do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM).
Durante a nomeação de Norte, o governador justificou a decisão pela escolha do nome do militar, dizendo que os processos que ele tem na Justiça ainda não estão “transitado em julgado.”
Operações inócuas
Nos corredores da PF, agentes e delegados avaliam que as operações realizadas pela SSP-AM não causam grandes prejuízos às facções. De acordo com releases enviados pela Secretaria de Segurança, de janeiro a março, a secretaria deflagrou seis operações policiais, e prendeu dezenas de pessoas.
A estratégia das operações de, essencialmente, combater “bocas de fumo”, segundo os órgãos fiscalizadores, não enfraquece financeiramente e nem a logística o crime organizado na capital e interior, uma vez que prende o pequeno “revendedor” da droga misturada e não o ‘fornecedor” do entorpecente puro, nas fronteiras.
Fronteiras abertas
Em governos anteriores, a partir da década de 1990, uma barreira de proteção à passagem de entorpecentes no Amazonas, a Base Anzol, atuou como importante mecanismo de obstrução de drogas e armas na tríplice fronteira do Amazonas (Brasil, Colômbia e Peru). O local foi desativado em janeiro do ano passado.
Fundada, inicialmente, na região do Alto Solimões, entre os municípios de Benjamim Constant e São Paulo de Olivença, a base flutuante consistia em reprimir e prevenir a atuação do tráfico transnacional de entorpecentes e de armas na Amazônia Legal.
A base era formada pela integração da Polícia Federal, Exército, Polícia Militar e Polícia Civil. No Plano de Governo de Wilson Lima, ele não cita a Base Anzol, mas promete combater o tráfico internacional de drogas. Até o momento, não há ações concretas sobre o assunto.
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