MANAUS, AM – As últimas semanas foram marcadas por diversas ocorrências de deslizamentos de terra e alagamentos causados pelas fortes chuvas em Manaus. Duas delas acabaram em mortes e acentuaram um problema antigo: a falta de um sistema de drenagem adequado na capital.
Conforme um estudo de 2019, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em parceria com a Defesa Civil, Manaus possui pelo menos 130 crateras formadas em barrancos, que ameaçam residências em diferentes áreas da cidade.
Segundo o geólogo e pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, Marco Antônio Oliveira, as crateras são provocadas justamente pela concentração das águas das chuvas, que escoam sobre o solo das áreas periféricas.
“Assim começa o processo erosivo, na forma de sulcos e ravinas e a medida em que se aprofunda e atinge o nível das águas subterrâneas, torna-se acelerado e com grande capacidade erosiva, levando ao desbarrancamento e desabamento de ruas e moradias”, explicou.
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O arquiteto e urbanista Jean Faria destaca que a falta de um “planejamento de manutenção preventiva” corrobora com o problema. “Essa manutenção para bueiros em leitos de rio, essas manutenções preventivas e prováveis encostas. Ver a drenagem dessas ruas que estão jogando e descarregando águas pluviais, onde estão caindo. Tudo precisa ser revisto”, afirmou.
Crescimento desordenado
O engenheiro Romero Reis classifica como “desastrosa” a forma que Manaus cresceu ao longo de décadas devido a ocupação de áreas inapropriadas para moradia e destacou a falta de planejamento urbano que perdura até hoje. A atual gestão investiu em pintar calçadas e repete os mesmos erros do passado, deixando as obras de infraestrutura em terceiro plano.
“Expansão incentivada por políticos populistas, que incitavam e permitiam invasões das terras, ocupação de áreas de preservação permanente, áreas essas que alagam no período do inverno, trazendo um câncer recorrente, ano após ano, sangrando o orçamento da prefeitura, tornando Manaus uma cidade horizontal, com longas distâncias”, disse.
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Tal cenário, explica o engenheiro, torna ainda mais difícil a execução de serviços públicos como drenagem e saneamento básico, principalmente na periferia, que concentra boa parte dos mais de 2 milhões de habitantes de Manaus.
Soluções
Embora a falta de drenagem das águas seja um dos principais agravantes na formação de áreas de risco, os especialistas pontuam que a solução para o problema perpassa por diversas ações do poder público e também da população.
“A gente tem que ter um programa de manutenção preventiva, de correções preventivas, e tem que ter um programa de educação pra [sic] que algumas questões, como o lixo e invasão de terras, não sejam mais praticadas na cidade”, disse Faria.
Ele também sugere um trabalho conjunto das concessionárias de serviços públicos e da prefeitura para que haja mais qualidade para a população.
Assim como o urbanista, Romero Reis defende diversas ações. “Cabe à prefeitura solucionar tal problema com a execução de um sistema de drenagem adequado e à pulação se conscientizar de que igarapés não podem receber lixo, muito menos nossas ruas, onde bueiros e bocas de lobo ficam entupidas e agravam a inexistência de sistema de drenagem”, disse.
De forma técnica, o geólogo Oliveira destaca que, da parte da prefeitura, devem ser consideradas, nas áreas de expansão, as características naturais dos terrenos. Ele afirma que a capital já dispõe de ferramentas para isso como a Carta Geotécnica, documento cartográfico com informações sobre as características do meio físico e problemas existentes ou esperados.
Nas áreas já ocupadas, a solução principal é o sistema de drenagem. “Conduzir as águas de chuva de modo que cheguem às encostas com baixa energia, usando estruturas dissipadoras como escadarias hidráulicas, preferencialmente de gabião”, concluiu.
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