Manaus, 27 de abril de 2024
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Cidades

‘Ser tetraplégica, não me define’, diz advogada que ultrapassa barreiras do preconceito

Atualmente, está como presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Amazonas (CAAAM)

‘Ser tetraplégica, não me define’, diz advogada que ultrapassa barreiras do preconceito

A advogada Nancy Segadilha sofreu um acidente de carro e ficou tetraplégica (Foto: Divulgação/Assessoria)

MANAUS – Mesmo com grandes desafios, a advogada manauara Nancy Castro Segadilha, de 39 anos, com deficiência, já superou e ainda supera dificuldades. Nancy é vice-presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Amazonas (CAAAM), porém, neste mês, rege a organização em homenagem ao mês da mulher.

A advogada, pós-graduada em Perícia Criminal e Ciência Forense é ativista da causa da Pessoa com Deficiência e já foi secretária Executiva da Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Amazonas (Seped).

Desafios diários

Segadilha vivia uma vida normal, quando sofreu um acidente de carro em 2005, o que a deixou tetraplégica na condição de pessoa com deficiência (PcD). Após anos do acidente, a advogada relatou que, desde então, passa por muitos desafios diariamente.

Mesmo tendo movimentos dos membros superiores, o nível da lesão da advogada a considerou com tetraplegia, porém, segundo ela, já recuperou muitos movimentos após o acidente.

Dra. Nancy Segadilha (Foto: Divulgação /Assessoria)

“São inúmeros os desafios que nós, mulheres, pessoas com deficiência, enfrentamos todos os dias. Primeiro, a questão da falta de acessibilidade, quando falo acessibilidade, falo num todo”, disse.

Desde a [acessibilidade] arquitetônica, falta de rampa, de vagas, de acessibilidade digital, que são os conteúdos na internet que não têm os mecanismos de tecnologia assistiva e acessibilidade atitudinal, que é a barreira do preconceito, o capacitismo, porque a pessoa com deficiência ainda é vista com o rótulo de ‘coitadinha’ e nós temos que provar que somos capazes. Os desafios são diários”, afirmou.

“E a cada momento que uma pessoa com deficiência está na parada de ônibus, e ela tem o seu direito de ir e vir cerceado (limitado), é uma questão de preconceito, de capacitismo, porque o transporte público tem a sinalização universal de que é acessível, mas não é”.

“Muitas vezes, a rampa elevatória não está funcionando. Nós moramos em uma cidade que, por exemplo, não tem calçadas, então a acessibilidade se tornou utopia de forma geral”, disse.

O maior obstáculo

A advogada relatou sobre um episódio, no qual considera o seu maior desafio, que foi quando passou por um grande constrangimento em um voo de conexão da linha aérea brasileira Latam Linhas Aéreas, no dia 18 de agosto do ano passado. Nancy contou que a Caaam comprou a passagem da cadeira premium, porém foi colocada na quarta fileira, não tendo o seu direito assegurado.

“O maior preconceito que eu sofri nesses anos após o acidente, que eu me tornei uma pessoa com deficiência, foi com a Latam, pelo fato de ser mulher, de ser pessoa com deficiência. Eu passei por uma situação super constrangedora, violação de direitos humanos, do princípio da dignidade da pessoa humana, desde o tratamento no check-in até a questão da poltrona”, disse Nancy.

“A nossa luta continua. A dor virou luta. E vamos seguir em frente para que todas as prioridades sejam respeitadas e a lei seja cumprida”, afirmou.

Antes do acidente

Nancy disse que antes de sofrer o acidente de carro e ficar tetraplégica, ela vivia uma vida normal, porém, sentiu na pele o grande preconceito que existe na sociedade.

“Estava finalizando a faculdade de direito, fazia estágio na assessoria jurídica do Detran, tinha um sonho de magistratura. Eu namorava, tinha uma vida normal. Depois de me tornar uma pessoa com deficiência, eu senti muito preconceito. Parece que eu virei uma criança. Algumas pessoas falam de forma infantilizada. Mulheres não me veem como uma mulher, mas já namorei, já fiquei noiva”, disse.

Porém, a advogada não se deixa levar e luta para que o preconceito acabe dentro da sociedade. “Eu não deixo a minha limitação como uma definição. Ser tetraplégica não me define. É apenas um meio de locomoção, a cadeira de rodas”, afirmou.

“Tenho minhas falhas, mas tenho meus sonhos que ainda continuam. Hoje sou formada em direito e eu me sinto realizada profissionalmente como advogada, e o principal: dar voz a uma causa, que é a causa da minha vida. E por onde eu passo, eu levo a bandeira da inclusão. E isso, pra mim, é muito importante. Que cada pessoa que eu consiga conscientizar, torne o mundo melhor.”

Campanha

Para empoderar as mulheres com deficiência, a advogada criou a campanha “#InclusaoDeverdeTodos“, que tornou-se assunto nacional, levando a advogada a programas de televisão no dia 09 de setembro de 2019 para mostrar a grandeza que cada mulher carrega.

A campanha ganhou visibilidade quando saltou de paraquedas no dia 13 de julho de 2019, tornando-se a primeira tetraplégica a saltar, possibilitando, assim, a divulgação do mês do Setembro Verde, no qual é comemorado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.

“Foi algo bem legal para mostrar que a pessoa com deficiência é capaz de tudo e que o céu, literalmente, é o limite.”

Momentos da advogada na Caaam:

(Vídeos: Divulgação/Assessoria)

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