Manaus, 1 de maio de 2024
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Cidades

Um desaparecimento e duas mortes: relembre crimes não solucionados em Manaus

Entre investigações que duram anos e a grande repercussão na mídia, muitas perguntas sobre esses casos ainda não foram respondidas

Um desaparecimento e duas mortes: relembre crimes não solucionados em Manaus

(Foto: Divulgação)

MANAUS – Mistério e perguntas sem respostas são as marcas de alguns crimes ocorridos em Manaus que seguem sem solução. Sem novas informações sobre os casos, muitas vezes, as investigações param e os inquéritos policiais são arquivados, sem que a Justiça possa dar andamento aos processos.

Em alguns casos, anos se passaram e as famílias continuam se perguntando: O que aconteceu?, Quem matou?, Qual foi a motivação? e Onde estão agora? Todos esses questionamentos revelam o desejo pelo fim da impunidade.

Entre os casos que mais chocaram a sociedade amazonense está o desaparecimento de uma menina de apenas 7 anos há 14 anos, um homicídio sem motivações  de um personal trainer e o assassinato brutal de uma mulher. Crimes que não saíram do imaginário popular e que deixaram muitas perguntas mesmo tendo toda a repercussão da mídia.

Caso Shara Ruana

Era manhã do domingo, de 28 de outubro de 2007, quando Shara Ruana Reis, de apenas 7 anos, saiu para comprar pão e nunca mais voltou. A menina, segundo família, estava acostumada com o trajeto até a padaria. Ela vestia uma bermuda laranja, uma blusa azul e usava chinelos de dedo quando sumiu no bairro Betânia, nas proximidades do Morro da Liberdade, zona Sul de Manaus.

Mesmo após 14 anos do desaparecimento, um dos irmãos de Shara, Raydiemerson Reis, 26, relembra com detalhes o dia que a menina sumiu. Ele relata que estava dormindo, outras duas irmãs tinham ido à igreja e Shara estava em casa com os pais.

“Meu pai pediu para minha irmã comprar pão. Já que padaria era próxima de casa e morávamos em um bairro em que todos praticamente se conhecem, ele não achou que poderia acontecer o que aconteceu. Minha irmã saiu de casa e não retornou. Depois de alguns minutos de demora, o meu pai questionou sobre a demora dela. Minha mãe foi atrás para verificar se ela ainda estava na padaria e informaram que ela nem chegou a ir até lá”, contou.

A partir de então a família iniciou uma busca que dura até os dias de hoje. Na época do desaparecimento de Shara, uma tia da criança contou à imprensa que viu a menina caminhando na direção oposta à padaria. Outros familiares afirmaram acreditar que a criança havia sido raptada. O pai da jovem, Pedro Lourenço Reis, em reportagens veiculadas na época, chegou a apontar um casal de vizinhos como suspeito, mas a equipe de investigação descartou a possibilidade.

Shara Ruana à direita de blusa laranja (Foto: Reprodução/ Facebook)

A então titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Linda Gláucia Moraes, assumiu o caso e coordenou diversas buscas pela menina, principalmente em áreas rurais da cidade. Tanto a família, quanto a polícia receberam muitas ligações com supostas informações sobre o paradeiro de Shara, mas a maioria era apenas trote e muitas outras não se confirmaram.

Segundo a delegada Joyce Coelho, atual titular da Depca, as investigações sobre o caso não foram encerradas. Ela afirma que assim que surgirem novas  informações, elas serão checadas. No entanto, ela explica que nenhuma pista conseguiu apontar o paradeiro de Shara.

“Todas as linhas de investigação foram averiguadas na época do fato e, infelizmente, não foi possível chegar ao paradeiro da menina”, disse.

Para a família, até os dias atuais, as investigações não apuraram todos os detalhes como deveriam.

“A polícia de alguma forma foi falha no início, mas depois ajudaram. Mas acredito que poderia ter sido bem mais produtiva nas pistas. Atualmente, nós não temos mais informações. O caso não está sendo mais investigado, até mesmo pelo tempo que tem”, disse Raydiemerson.

Sem nenhuma evidência sobre o que realmente aconteceu com Shara, a família segue confiante em um desfecho feliz para o caso. os familiares mantém uma página no Facebook onde divulga fotos e reportagens sobre a menina na expectativa de conseguir novas informações.

“Acredito que minha irmã está viva sim. Eu tenho muita fé e esperança, pois em alguns casos relacionados a desaparecimentos, as respostas sempre vieram à tona. Só que não ainda ocorreu no caso da minha irmã”, relatou o irmão – que deseja encontrar Shara com vida.

Caso Flávio Soares

Mais recente entre os outros casos citados, a morte do personal trainer Flávio Nascimento Soares, 54, também deixou diversas dúvidas e o sentimento de impunidade para a família.

“Foi um choque pra mim. Meu pai sempre foi um cara tranquilo e trabalhador. Quando me ligaram para falar sobre o ocorrido, meu mundo desmoronou”, contou a filha de Flávio, Drielly Soares, 32.

Flávio, que também era bailarino e coreógrafo, foi assassinado em janeiro de 2020 com um tiro na nuca, em um posto de gasolina, no bairro Aleixo, zona Centro-sul de Manaus. Testemunhas contaram que Flávio foi perseguido e teve o carro cercado por criminosos. Nenhum objeto pessoal, nem mesmo o carro do personal trainer, foi levado. Ele não possuía passagem pela polícia e não estava sendo ameaçado de morte.

 

(Foto: Reprodução/ Facebook)

O coreógrafo e dançarino era muito querido por familiares e amigos. Ele fez uma longa carreira no cenário cultural amazonense, tendo sido membro do Corpo de Dança do Amazonas e do Balé Folclórico do Amazonas. Para a família, o sentimento de dor se confunde com a saudade e o desejo de justiça.

“O sentimento é de dor, meu pai era uma pessoa muito querida por todos. A resolução do caso traria um pouco de conforto para mim e para minha família. A polícia investigou, levantou hipóteses, mas nada foi esclarecido. As perguntas ficaram sem respostas”, disse.

Saiba mais: Personal trainer é morto com tiro na nuca em posto de combustível

Assim como a filha de Flávio, Fabíola Marreira, 32, acredita que a morte de seu primo foi injusta e pede por respostas. “A única certeza que temos é de que ele era um homem decente e que não merecia morrer da forma que morreu. O sentimento é difícil ainda dizer, pois é uma mistura de raiva, de dor, sofrimento, mas gostaríamos muito que a justiça seja feita”, disse Fabíola.

Ao Portal Amazonas1, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) informou apenas que o delegado Antônio Cláudio Teixeira, adjunto da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), finalizou o Inquérito Policial (IPL) em torno do caso e o encaminhou à Justiça, no dia 14 de fevereiro do mesmo ano.

Já o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) explicou que o processo tramita na Central de Inquéritos e encontra-se com vistas ao Ministério Público Estadual. O processo consta como crime a esclarecer.

Caso Gracilene Teles

O mais intrigante dos três casos é também o que possui menos pistas sobre sua motivação. Trata-se da morte da balconista Gracilene da Silva Teles, de 46 anos. Ela foi brutalmente assassinada em agosto de 2016. A mulher foi cortada ao meio e teve o membro superior do corpo jogado em um lixão, localizado no Distrito Industrial, zona Leste de Manaus. Um catador de lixo encontrou o corpo dela.

(Foto: Divulgação/ Arquivo)

Uma semana depois, a polícia encontrou a ossada dos membros inferiores em uma rua do mesmo bairro. Posteriormente, o Instituto Médico Legal (IML) constatou que além de ter sido esquartejada, Gracilene foi morta por agressão física.

Na época, a DEHS ouviu diversos familiares da vítima, mas a polícia não conseguiu identificar o autor do crime. Segundo o TJ-AM, o inquérito policial sobre a morte da balconista foi arquivado em março de 2017, a pedido do Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE/ AM), que não encontrou mais diligências a serem realizadas, não havendo assim, provas suficientes para indicar um autor para o crime. A reportagem não conseguiu localizar os familiares da vítima.