Manaus, 18 de abril de 2024
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Cenário

Variante descoberta em Manaus pode ser dominante no país, alertam cientistas

O pesquisador afirma que se não houver um lockdown mais rígido e a ampliação no número de vacinados, Manaus sofrerá uma terceira onda da covid-19 e a vacina poderá perder eficácia

Variante descoberta em Manaus pode ser dominante no país, alertam cientistas

Foto: Márcio James / Amazônia Real

A nova variante do coronavírus, descoberta em Manaus, e que ficou conhecida como P.1, logo no início de 2021, poderá se tornar dominante em todo o Brasil. A cidade viveu, e ainda vive, os estragos causados por essa mutação do vírus.

Manaus também sofreu com a falta de oxigênio e de leitos, principalmente de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), devido ao aumento de casos e das internações em hospitais da capital, sendo necessário, inclusive, a realização de transferências de pacientes para outras unidades federativas, à época.

Atualmente, a P.1 já foi identificada em aproximadamente dez estados brasileiros, das regiões Sul, Sudeste e Nordeste , além de ser responsável por mais da metade das mortes, em dois meses no Amazonas.

“Dos oito estados avaliados neste recorte, apenas dois não tiveram prevalência da mutação associada às variantes de preocupação superior a 50 %: caso de Minas Gerais, com 30,3% das amostras testadas como positivo para a mutação e, Alagoas, com 42,6%. Nos demais estados, mais de 50% das amostras foram identificadas com a mutação associada às ‘variantes de preocupação’”, informou a Fiocruz, em comunicado técnico divulgado nessa quinta-feira (4) .

Entre janeiro e fevereiro deste ano, morreram mais pessoas que durante a pandemia inteira em 2020. Dados da da Fundação de Vigilância e Saúde (FVS) apontam que 5.653 pessoas foram a óbito nesse período, enquanto que, no ano passado, os casos de morte foram de 5.285.

Até essa quarta-feira (3), o número de mortes passou dos 11,1 mil.

O mestre em Biologia e doutorando do Programa de Biologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Luca Ferrante, já havia alertado anteriormente sobre a 2ª onda da covid-19 no Amazonas.  Em uma entrevista concedida ao Portal Amazonas 1,  Lucas previu  uma 3ª onda – ainda mais catastrófica, nos próximos quatro meses.

“Nós já tínhamos avisado sobre a segunda onda de covid-19, desde agosto do ano passado, através de uma publicação científica na revista Nature Medicine, não fomos ouvidos e o resultado foi catastrófico. Agora, nós prevemos um resultado ainda pior do que a segunda onda, se esse vírus continuar circulando, pode sofrer novas mutações se tornando resistente às vacinas de mercado”, afirma o biólogo Lucas Ferrante.

Sobre a eficácia das vacinas, Lucas diz que se não houver um lockdown massivo, haverá, sim, uma variante mais resistente em Manaus.

“Já há estudos preliminares, mostrando que a Coronavac tem driblado a imunização pela nova variante encontrada em Manaus. A maior circulação na cidade irá  propiciar, definitivamente, o surgimento de uma nova variante resistente às vacinas. Não existem protocolos suficientes para frear essa transmissão viral, nem o uso máscaras. Nós precisamos de um lockdown massivo e uma campanha de vacinação de mais de 70% da população nos próximos três meses”, disse o biólogo.

Lucas afirmou, ainda, que caso não haja um controle mais rígido, possivelmente, será necessária uma aplicação da 3ª dose da vacina Coronavac.

O Portal Amazonas 1 entrou em contato com a FVS para verificar quais as ações que estão sendo tomadas diante de uma possível 3ª onda da covid-19 em Manaus, todavia, não obteve retorno dentro do prazo solicitado na demanda.

Leia mais: Cientistas alertam para 3ª onda da covid-19 no AM: ‘prevemos um resultado ainda pior’

Pesquisas

Estudos feitos pela Universidade Imperial College London e da Universidade de Leicester apontaram que o contato com vacinados pode desencadear um vírus ainda mais potente, comprometendo a eficácia das vacinas aplicadas no Brasil e na cidade de Manaus, no caso, a Coronavac, da Sinovac, que estão sob responsabilidade do Instituto Butantan, e a da Oxford, do laboratório AstraZeneca, sob o comando da Fiocruz.

Entre os apontamentos feitos pelos pesquisadores, e que podem levar à não eficácia, estão: a vacinação em ritmo lento, variante com a mutação E484k (que dribla anticorpos) e altas taxas de infecção.

Números

De acordo com o site FVS, o Amazonas já vacinou 348.701 mil pessoas, sendo 144.355 na capital Manaus e 204.346 em mais 61 municípios do Amazonas, de um total de 674.860 doses entregues e 62.444 para serem entregues. Os dados foram atualizados na madrugada desta sexta-feira (5).

Confira nota técnica emitida pelos pesquisadores do INPA:

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