Manaus, 2 de maio de 2024
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Cenário

Vitória do PT no país pode não refletir na disputa de 2024 em Manaus

Segundo especialistas, não existe transferência de votos do presidente da República para os pleitos municipais, independente de quem for o mandatário.

Vitória do PT no país pode não refletir na disputa de 2024 em Manaus

(Foto: PT/Facebook/Luiz Borges/PR/Câmara dos Deputados/CMM)

Manaus (AM) – O Partido dos Trabalhadores (PT) saiu vitorioso nas últimas eleições realizadas em outubro do ano passado e, com o êxito, muitos candidatos ao cargo majoritário, ligados a legenda ou simpatizantes da esquerda, alimentam a esperança de repetir o sucesso no pleito de 2024, o que não é diferente do cenário na capital amazonense.

A disputa municipal do próximo ano já conta com pelo menos quatro pré-candidatos do partido, nomes divulgados por meio de nota, em junho deste ano, pelo presidente do diretório municipal da sigla, Valdemir Santana.

Os nomes são: Anne Moura, José Ricardo, Luiz Borges e o vereador Sassá da Construção Civil.

Outro nome ligado à esquerda, que já afirmou que será candidato nas eleições de 2024, é o ex-deputado estadual Eron Bezerra (PCdoB).

Nas últimas quatro eleições, candidatos do PT e de outros partidos de esquerda que concorriam ao cargo de prefeito não obtiveram sucesso.

Para especialistas ouvidos pelo Portal AM1, a maioria dos eleitores entende que as questões federais não são as mesmas que as municipais, ou seja, as mais próximas da sua realidade e, por isso, não há uma “transferência” de votos.

Histórico

Em 2008, a disputa contava com quatro nomes da ala esquerdista: Francisco Praciano (PT); Luiz Navarro, do antigo PCB; Serafim Corrêa (PSB) e João Bessa (PSOL). O vencedor foi o ex-governador Amazonino Mendes, que concorreu pelo PTB, na época.

No pleito de 2012, que teve como vitorioso Arthur Neto (PSDB), concorriam à cadeira da Prefeitura de Manaus a ex-senadora do PCdoB Vanessa Grazziotin; Herbet Amazonas (PSTU); Luiz Navarro (PCB) e Serafim Corrêa (PSB).

Já em 2016, os candidatos da esquerda eram: José Ricardo (PT) Marcos Antonio de Queiroz (PSOL); Serafim Corrêa (PSB) e o ex-deputado Luiz Castro (Rede), legenda que na época simpatizava com os ideias da esquerda. A disputa foi vencida novamente pelo ex-tucano Arthur Neto.

O último pleito municipal, realizado em 2020, que elegeu David Almeida (Avante) para o cargo de prefeito, pela primeira vez, contou como candidatos o petista José Ricardo; Marcelo Amil (PCdoB) e Gilberto Vasconcelos (PSTU).

Nas últimas eleições gerais, realizadas em 2022, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, venceu no Amazonas, mas recebeu menos votos que o principal adversário, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, em Manaus.

O atual presidente venceu em 58 cidades, o que representou mais de 49,85% dos votos dos amazonenses. Já o ex-presidente teve 42,80% dos votos no estado, mas em Manaus ganhou do atual mandatário com 622.846 votos (53,55%) contra 430.562 (37,02%).

Transferência de votos

A reportagem do AM1 conversou com o professor e analista político, Carlos Barros, sobre a possibilidade do resultado das últimas eleições no Brasil refletirem na disputa local, bem como se a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode influenciar de forma positiva ou negativa na disputa de 2024.

O especialista explicou que, historicamente, não existe transferência de votos do presidente da República para os pleitos municipais, independente de quem for o mandatário.

Para o analista político, a vitória petista não significa ganho de espaço da legenda nas disputas das prefeituras do Amazonas e nem na capital.

“O eleitor entende que as questões federais são umas, e os interesses municipais, com maior proximidade, são outras”, destacou.

Carlos exemplificou o posicionamento citando que, no auge da popularidade do atual presidente, em seu segundo mandato, nas municipais em 2008, o PT perdeu a capital de São Paulo para Gilberto Kassab, por exemplo, seu adversário.

Já no ano de 2020, o professor lembrou que, em Manaus, uma cidade bolsonarista, o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que era o Coronel Menezes (PL), também não saiu vitorioso.

Lideranças ligadas ao conservadorismo

A reportagem do AM1 também ouviu a opinião do sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Seráfico, sobre o assunto.

Segundo o professor, o que se pode observar das movimentações dos principais agentes político-partidários do Amazonas, até o momento, é que não há interesse em tornar o presidente Lula em cabo eleitoral de candidatos à Prefeitura de Manaus.

“Isso significa dizer que todas as articulações, mesmo as que eventualmente incluam PT e PCdoB, se concentram em torno de lideranças comprometidas com o conservadorismo”, afirmou.

Na visão do sociólogo, o PT e todos os partidos identificados com algum progressismo vêm, claramente, perdendo espaço político em Manaus, de modo muito agudo.

“A questão é: a que se deve isso? Uma hipótese é a de que a adesão a candidaturas de centro e centro-direita, bem ou mal sucedidas, fragilizou os nexos mais orgânicos do partido com setores que antes constituíam sua base político-eleitoral. Essa situação, além de empurrar o partido para o centro do espectro político, esvazia-o de pretensões sociais de transformação mais avançadas, como eram na origem. Essa escolha amplia o espaço de ação e o vigor de forças políticas conservadoras e reacionárias”, concluiu.

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