Manaus, 22 de junho de 2024
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Manaus, 22 de junho de 2024

Cidades

AM registra mais de mil casos de agressões contra mulheres e 15 feminicídios em 2024

Neste Dia dos Namorados, o Portal AM1 traz dados de violência contra mulher, que, segundo especialistas, pode começar logo durante o namoro e evoluir durante a relação do casal.

AM registra mais de mil casos de agressões contra mulheres e 15 feminicídios em 2024

Os casos vem crescendo em usam escalada alarmante - (Foto: Divulgação: freepik)

Manaus (AM) – Neste 12 de junho, Dia dos Namorados, dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) trazem um alerta sobre crimes contra mulheres no estado. Somente de janeiro até maio deste ano, foram registrados 1.454 casos de lesão corporal e 14 feminicídios. No entanto, o número subiu para 15, contando com o caso registrado em São Gabriel da Cachoeira no último domingo (9).

Desse total, conforme o painel de controle de indicadores criminais da SSP-AM, oito mulheres foram mortas em Manaus e duas em Parintins. Anori, Carauari, Codajás, Maués e São Gabriel da Cachoeira registraram um caso cada. Em 2023, foram 23 casos de feminicídio. A maioria dos crimes foi praticada com arma branca. Já o número de lesões corporais foi de 4.387.

Em São Gabriel da Cachoeira, uma mulher identificada como Cláudia Melo, de 16 anos, foi brutalmente assassinada, na madrugada de domingo (9), dentro de uma casa noturna pelo companheiro, um colombiano, que foi preso logo após o crime.

As investigações apontam que o crime teria sido motivado por ciúmes. O suspeito mantinha um relacionamento amoroso com Cláudia desde que ela tinha 15 anos e a matou ao vê-la com outro homem na boate. Segundo a polícia, o homem entrou na casa de festas e disparou diversos tiros contra a vítima, que não teve chance de defesa e morreu no local.

A jovem foi morta com vários tiros sem chance de defesa – (Foto: Divulgação)

Feminicídio tentado

Também na madrugada de domingo, uma mulher foi atingida com 17 facadas pelo ex-marido; felizmente, ela sobreviveu e está internada em um hospital de Manaus. O crime aconteceu em Beruri. O suspeito, identificado como Abmael Nogueira de Souza, de 19 anos, está sendo procurado.

Conforme a delegada Rosane Ferreira, da 80ª DIP de Beruri, o crime ocorreu na casa da vítima. O homem estaria embriagado no momento e desferiu aproximadamente 17 golpes de faca pelo corpo da vítima, que foi encontrada ferida na residência.

“No mês de abril deste ano, o autor já havia sido preso em flagrante por tentar agredir a vítima com uma faca, mas ele foi liberado na audiência de custódia com aplicação de medida protetiva pela Justiça”, disse a delegada.

Segundo a delegada, a vítima foi transferida para uma unidade hospitalar em Manaus. O laudo do exame de corpo de delito indica que foram múltiplos golpes de faca que atingiram os ombros, tórax, abdômen, membros e o rosto da vítima”, explicou.

Dados de violência registrados neste ano – (Foto: reprodução/SSP-AM)

Violência doméstica resultou em duas mortes no Centro

Outro caso que ganhou grande repercussão no domingo (9) foi o que resultou em duas mortes no Centro de Manaus: um militar do Exército e um policial militar. O que relaciona esse fato a crimes contra mulheres é que tudo começou por conta de uma denúncia de violência doméstica.

O militar do Exército teria agredido a companheira durante uma discussão na casa onde moravam. Ela, que é aluna soldado da Polícia Militar, conseguiu fugir do imóvel e pediu apoio de policiais, que foram até o local para conter a situação.

No entanto, o militar do Exército teria atirado contra os policiais, que revidaram. Durante a troca de tiros, o militar foi baleado e morreu. Outros dois policiais também foram atingidos por disparos e um deles morreu. O outro foi socorrido e levado para o Hospital e Pronto-Socorro (HPS) 28 de Agosto.

Segundo a polícia, toda a ação foi presenciada pelos dois filhos do casal. As crianças foram acolhidas por uma policial que atendia a ocorrência e levadas pelas autoridades para receberem atendimento psicossocial.

A polícia informou que a vítima já havia registrado um Boletim de Ocorrência por violência doméstica contra o marido em fevereiro deste ano.

Jayne Moraes foi morta na frente dos filhos – (Foto: Divulgação)

Morta na frente dos filhos

Em maio deste ano, a jovem Jayne Moraes de Amorim, de 21 anos, foi assassinada a facadas pelo ex-companheiro Romário Junior Moreira, de 30 anos, no bairro São José Operário, na Zona Leste, na frente dos filhos de 2, 4 e 8 anos.

Conforme o delegado Fábio Silva, adjunto da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Jayne e Romário estavam separados; porém, moravam na mesma residência. A mulher teria saído para uma festa e retornado tarde para casa, o que teria deixado o suspeito enfurecido. Eles tiveram uma discussão e, durante a briga, Romário esfaqueou a vítima no coração e depois tentou se matar, mas sobreviveu e foi preso.

Onze dias antes, no dia 16 de maio, Maria Eduarda da Silva Camarão, de 17 anos, foi estrangulada até a morte pelo namorado, Marcos Pinheiro dos Reis, de 18 anos, que foi preso em flagrante.

De acordo com a Polícia Militar, o crime ocorreu dentro da casa da vítima, localizada na rua Maria Vitória, comunidade Canaã, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste de Manaus. Testemunhas informaram à equipe policial que o casal havia iniciado uma discussão. Segundo os PMs, ao chegarem ao local, o suspeito estava debruçado sobre o corpo da vítima.

Débora foi morta grávida de oito meses – (Foto: Divulgão)

Caso Débora

Em julho de 2023, um caso que ganhou grande repercussão foi o assassinato da jovem Débora da Silva Alves, de 18 anos, que estava grávida de oito meses, e foi encontrada morta em uma área de mata localizada no Mauazinho, Zona Leste. Segundo a polícia, o autor do crime foi o vigilante Gil Romero Machado Batista, de 41 anos, com quem a vítima tinha um relacionamento amoroso. A motivação seria porque ele não queria assumir o filho, pois era casado. Um outro homem também foi preso por participar do assassinato.

Os dois vão a júri popular por duplo homicídio qualificado, aborto provocado do bebê de Débora, além de ocultação de cadáver. A mulher foi queimada e teve os pés cortados. Além disso, ela estava com um pano no pescoço, o que, segundo a polícia, indica que ela foi asfixiada. A vítima desapareceu quando saiu de casa para encontrar o suspeito, que lhe entregaria dinheiro para comprar o berço da criança. No entanto, Débora não retornou mais para casa e o corpo dela foi encontrado dias depois.

Números podem ser maiores

De acordo com a delegada Patrícia Leão, titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM), apesar dos números parecerem altos, eles podem ser ainda maiores se não fosse a subnotificação, casos que não são denunciados.

“Os números de subnotificação são enormes, porque a vítima não consegue identificar que ela está dentro de um relacionamento abusivo, ela não consegue identificar que está passando por um ciclo de violência. Então, por conta disso, a gente vem trabalhando massivamente, levando informação, levando conhecimento para ver se a gente consegue tirar essa vítima desse ciclo de violência e que ela tenha coragem de denunciar”, disse a delegada.

Maria Eduarda, de 17 anos, foi morta estrangulada pelo namorado – (Foto: Divulgação)

Fases do ciclo de violência

A delegada Patrícia Leão explica que o ciclo de violência contra a mulher é composto por três fases distintas: a fase da lua de mel, a fase da tensão e a fase da agressão.

“Durante a fase da lua de mel, o relacionamento aparenta estar bem e harmonioso. No entanto, gradualmente, o casal entra na fase da tensão, onde começam a surgir xingamentos e pequenas ameaças. A mulher, muitas vezes, acredita que essas agressões verbais são normais e acaba tolerando-as. Esse comportamento leva à fase da agressão, onde ocorrem os atos de violência física. Após essa fase, o agressor costuma se arrepender e pedir desculpas, levando o relacionamento de volta à fase da lua de mel. Esse ciclo se repete e, com o tempo, os intervalos entre as agressões e a fase da lua de mel diminuem, podendo resultar em feminicídio se a vítima não buscar ajuda”, explica a delegada.

Patrícia acrescenta que muitas mulheres têm dificuldade em sair desse ciclo e, mesmo quando procuram a delegacia para denunciar a violência, muitas vezes, não pedem medidas protetivas. “Isso ocorre porque elas não querem terminar o relacionamento ou o casamento, mas apenas cessar a violência, porém as agressões não param e algumas mulheres nos procuram depois de vários episódios de violência”, pontua.

A delegada destaca que muitas vítimas de feminicídio nunca procuraram a delegacia para pedir ajuda, o que torna a situação ainda mais alarmante.

Mulheres precisam ficar atentas aos sinais

A psicóloga Elisangela Marques pontua que é crucial compreender a seriedade dos casos de violência doméstica e ficar atenta aos sinais de um relacionamento abusivo, que pode escalar para violência física.

 

Dados de violência registrados em 2023 – (Foto: reprodução/SSP-AM)

“A violência doméstica não começa necessariamente com agressões físicas, muitas vezes, ela se manifesta inicialmente de forma emocional, psicológica e até financeira”, disse a especialista.

Ela detalha alguns pontos para a vítima identificar que está sendo vítima de violência doméstica. “Se o parceiro controla onde você vai, com quem você fala e o que você faz, tenta afastar a vítima de amigos e familiares, humilha, insulta, xinga ou critica constantemente, demonstra ciúmes extremos, faz ameaças de violência contra você, seus filhos, animais de estimação ou até contra ele mesmo. Tudo isso caracteriza que você está sendo vítima de violência doméstica”, esclarece.

A psicóloga também pontua como identificar que está vivendo um relacionamento abusivo, que pode acabar em violência doméstica ou até em feminicídio. “Geralmente começa por uma manipulação emocional, que faz você se sentir culpada pelas ações dele. Minimiza ou nega o abuso, fazendo você duvidar da sua própria percepção. Cria dependência financeira, emocional ou psicológica. Depois de uma agressão, ele pede desculpas e promete mudar. Isso acontece muito; a maioria das mulheres acredita nessa mudança, que geralmente não acontece.”

Para sair desse ciclo, a psicóloga afirma que o primeiro passo é reconhecer que está em um relacionamento abusivo. “Fale com amigos, familiares ou profissionais que podem oferecer suporte e segurança. E o mais importante é denunciar, solicitar medida protetiva, além de procurar ajuda psicológica, pois uma mulher que passa por todo esse ciclo está completamente abalada emocionalmente, e o acompanhamento psicológico vai ajudar muito a entender que não pode voltar para a situação de antes”, reforça.

Luiz Marcelo Ormond foi morto envenenado pela namorada – (Foto: Divulgação)

Casos de homens que são vítimas

Apesar de as mulheres serem a maioria das vítimas em casos de relacionamentos abusivos e de assassinatos, em algumas situações, homens também acabam se tornando vítimas.

Como é o caso do administrador de imóveis Luiz Marcelo Ormond, que morreu após comer um brigadeirão envenenado. O crime foi praticado pela namorada dele, a psicóloga Júlia Pimenta, mas teve a ajuda da influenciadora, Suyany Breschak, a “Cigana Esmeralda”, uma mulher que se apresenta como líder espiritual. As duas estão presas.

Segundo a polícia, a namorada não só matou como permaneceu com o corpo por três dias no apartamento da vítima, na Zona Norte do Rio. Nesse período, ela manteve a rotina, inclusive, indo à academia fazer exercícios. A polícia afirma que foi um crime por questões financeiras. Júlia e Suyany queriam ficar com os bens da vítima, que era dono de imóveis no Rio.

Em Manaus, a Polícia Civil prendeu Ingrid Sales da Silva, de 34 anos, por envolvimento na morte do marido, Mizael da Silva Lima, 49, que foi sequestrado e queimado vivo em um veículo no dia 27 de março deste ano. O crime ocorreu no ramal do Brasileirinho, bairro Jorge Teixeira, zona Leste.

De acordo com a delegada Deborah Barreiros, adjunta da DEHS, a vítima, que era motorista de aplicativo, permaneceu cerca de 30 dias hospitalizada, porém não resistiu aos ferimentos e faleceu em 25 de abril. Outros três homens estão sendo procurados por envolvimento nesse crime, incluindo Leonardo Sales da Silva, 35 anos, que é irmão de Ingrid.

“A vítima chegou a ser socorrida e foi encaminhada a uma unidade hospitalar. No local, ele relatou que, no dia do crime, estava em sua residência quando sua então companheira abriu a porta para Leonardo e outros dois homens entrarem. Esses indivíduos o amarraram e o levaram para dentro do veículo, onde atearam fogo, deixando-o agonizando”, detalhou a delegada.

A motivação ainda é incerta, segundo a delegada, mas as suspeitas recaem sobre Ingrid pelo fato de ela não ter comunicado o caso à polícia e ter demonstrado falta de interesse na resolução do crime. Ela responderá por sequestro e homicídio qualificado e ficará à disposição da Justiça.

 

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