MANAUS, AM – Sem ônibus de qualidade na cidade de Manaus, os usuários precisam adaptar a rotina para depender do transporte coletivo, seja em relação ao horário, à segurança e à estrutura do veículo. Mas essa luta diária da população é um jogo de interesses entre a Prefeitura de Manaus e os empresários, que lucram valores milionários a cada mês, enquanto os ônibus estão caindo aos pedaços.
Desde o início da gestão do prefeito David Almeida (Avante), o chefe municipal apenas fez a entrega de uma frota nova de veículos, que tinham sido comprados na administração do prefeito Arthur Neto (PSDB).
Na ocasião, o prefeito de Manaus destacou que a gestão estava trabalhando para renovar cerca de 80% dos ônibus, mas até agora, nenhum outro veículo chegou e os que circulam pela cidade estão bastantes danificados.
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Apesar disso, o dinheiro repassado às empresas de transporte coletivo está em dias. Conforme mostrou o Portal Amazonas 1, o subsídio pago pela Prefeitura de Manaus é o segundo maior do Brasil. A tarifa do ônibus custa R$ 3,80, mas o valor real está na marca de R$ 5,30. Os R$ 1,50 restantes por pessoa são custeados pela prefeitura.
Durante o primeiro ano, o prefeito David Almeida repassou às empresas responsáveis pelo transporte público o valor de R$ 280.327.500,83 (duzentos e oitenta milhões, trezentos e vinte e sete mil, quinhentos reais e oitenta e três centavos), conforme os dados disponibilizados no Portal da Transparência. Em relação aos contratos de concessão firmados entre a prefeitura e as empresas, a plataforma não exibe os documentos.
Subsídios milionários
Segundo a plataforma, o pagamento é referente a 40% do subsídio, que deve custear o serviço público. O valor que deveria ser investido em melhorias no transporte, uma vez que está sendo pago com o dinheiro público, não tem sido direcionado para tal objetivo.
Ao todo, 10 empresas operam o transporte público em Manaus, em sistema de concessão. Em dezembro, por exemplo, quando o prefeito David Almeida quis iluminar os ônibus como parte da decoração natalina, o valor total pago em subsídio pela prefeitura foi de mais de R$ 54.129.342,73 (cinquenta e quatro milhões, cento e vinte e nove mil, trezentos e quarenta e dois reais e setenta e três centavos).
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Vale destacar que neste mês, foram pagas duas parcelas de subsídio para empresas, referentes a depreciação e remuneração de janeiro a junho de 2021, além de complementar as parcelas de setembro e outubro. Uma das contempladas, nesse caso, foi a empresa Via Verde Transportes Coletivos LTDA, que recebeu um bônus a mais de R$ 2.555.052,59 (dois milhões, quinhentos e cinquenta e cinco mil e cinquenta e dois reais e cinquenta e nove centavos).
Somente o valor referente ao mês de dezembro de 2021, a empresa Via Verde Transportes Coletivos LTDA teve o repasse de 60% no valor de R$ 1.220.036,52 (um milhão, duzentos e vinte mil e trinta e seis reais e cinquenta e dois centavos). Com isso, somente em um mês, a empresa faturou da Prefeitura de Manaus quase R$ 4 milhões.
Essa é apenas uma das 10 empresas que lucram com o dinheiro público e, mesmo com um repasse milionário, os usuários ainda precisam enfrentar um problema antigo, que parece não ter logística suficiente para ser solucionado, que é a precariedade dos coletivos. Porém, o Governo do Amazonas e a prefeitura anunciaram uma parceria que vai investir mais de meio milhão de reais em mobilidade urbana, o que pode livrar David Almeida de algumas responsabilidades.
Reclamações
É através das redes sociais que os usuários do transporte coletivo têm a possibilidade de reclamar sobre a estrutura dos ônibus. Em páginas relacionadas para denúncia ou até mesmo para “meme”, a população não deixa de denunciar o mau serviço oferecido pelas empresas e pago pela Prefeitura de Manaus.
Conforme observou o Portal Amazonas 1, o campeão de reclamações dos usuários foi a linha 458. O ônibus pertence à empresa Vega Manaus Transp. de Passageiros LTDA, que recebeu em dezembro o valor total de R$ 1.875.688,56 (um milhão, oitocentos e setenta e cinco mil, seiscentos e oitenta e oito reais e cinquenta e seis centavos) de subsídio.
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Agora, a linha de ônibus pertence à empresa Viação São Pedro LTDA, que somente em dezembro recebeu 60% de subsídio no valor de R$ 875.569,71 (oitocentos e setenta e cinco mil, quinhentos e sessenta e nove reais e setenta e um centavos). Entre subsídio complementar e de remuneração, a empresa de ônibus recebeu R$ 3.518.458,03 (três milhões, quinhentos e dezoito mil, quatrocentos e cinquenta e oito reais e três centavos).
A troca de empresas não agradou os passageiros da linha, que destacaram que os serviços prestados pela São Pedro não são dos melhores em Manaus. Um internauta escreveu que os ônibus dessa empresa eram “sucateados” e não aprovou a mudança.
Outro fator que foi apontado pelos internautas foi a falta do prefeito de Manaus em decisões relacionadas ao transporte. Conforme o desabafo feito pelos usuários, além da demora no transporte, o passageiro precisa pagar um valor alto para um serviço de péssima qualidade.
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“Só pau velho. Ônibus que sai de linha em outras capitais vem para Manaus como novo”, escreveu um usuário nas redes sociais. Além da reclamação sobre a estrutura, outro ponto que foi bastante criticado nas plataformas foi o preço da tarifa de ônibus.
Entre preço e estrutura, outro problema enfrentado pela população é a limpeza dos transportes. “Os ônibus estão caindo aos pedaços pelas ruas e imundos de lama por fora e por dentro de poeira, areia e tudo o que não presta”, comentou um internauta.
Além de todo esse problema, os usuários ainda precisam se expor aos riscos de contaminação ao vírus da covid-19. Todos os dias, os veículos ficam lotados, não há distanciamento social e muitas vezes algumas pessoas se negam a usar máscara. Um modo de tentar evitar a propagação dentro do transporte foi a sanitização dos ônibus e terminais pelo Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU).
Sem retorno mais uma vez
O Portal Amazonas 1 questionou o IMMU sobre a transparência nos contratos de concessão firmados entre a Prefeitura de Manaus e as empresas, que não estão disponíveis no Portal da Transparência. Até a publicação desta matéria, o órgão não deu retorno.
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