Manaus, 18 de maio de 2024
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Cenário

Com histórico de derrotas, qual será o futuro de Braga na política amazonense?

Braga disputou três das últimas quatro eleições para governo, e não conseguiu vencer uma.

Com histórico de derrotas, qual será o futuro de Braga na política amazonense?

(Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

Manaus (AM) – Duas das três vagas do estado do Amazonas no Senado estarão em disputa nas eleições de 2026, e, mesmo ainda faltando três anos para o pleito, a corrida pela permanência em Brasília deve começar ainda este ano, quando, nos bastidores, os políticos começam a se movimentar em busca de apoio e condições para se manterem ‘vivos’ junto ao eleitorado amazonense.

Essa disputa, que parece estar longe, passa justamente pelas eleições municipais de outubro do próximo ano, momento em que os eleitores irão escolher o prefeito de Manaus e dos outros 61 municípios do Amazonas. Por esse motivo, o pleito de 2024 será decisivo para o futuro dos senadores Eduardo Braga (MDB) e Plínio Valério (PSDB).

Neste cenário, o emedebista – que já ocupou, por três vezes, cargos majoritários na história da política amazonense e disputou, sem sucesso, a última eleição para o cargo de governador – deve lutar bravamente investindo nas eleições municipais, buscando ‘pavimentar’ um terreno favorável e, assim, conquistar prefeitos aliados no interior.

Braga disputou três das últimas quatro eleições para governo, e não conseguiu vencer uma. Perdeu em 2014, para José Melo; em 2017, para Amazonino Mendes; e 2022 para Wilson Lima (reeleito).

Nas eleições de 2018, foi reeleito senador, para o mandato até 2026.

O atual governador Wilson Lima (União Brasil) é uma das principais chaves nesse processo, uma vez que, atualmente, tem em sua órbita o apoio de pelo menos doze partidos e também é um dos principais interessados no resultado das eleições de 2024. O nome dele já é falado nos bastidores da política como um provável candidato ao cargo de senador.

Isso significa dizer, que o futuro político de Eduardo passa pelas articulações, sucesso e resultado das próximas eleições.

As articulações de 2024 serão todas feitas pensando nas eleições de 2026, e este é um dos cenários mais prováveis, segundo especialistas ouvidos pelo Portal AM1.  

Braga pode se candidatar a prefeito da capital, assim como pode apoiar outro nome, que provavelmente, até o momento será o da recente filiada ao seu partido e ex-candidata ao Governo, Carol Braz. O cacique político pode, ainda, articular o nome de Carol para compor uma chapa como vice.

Um forte aliado que estará com Eduardo na corrida eleitoral de 2026 será o senador reeleito no ano passado, Omar Aziz (Aziz). O político tem chances de concorrer ao cargo de governador do estado, na mesma chapa que apoiará Braga ao Senado, o que é outra possibilidade a se concretizar nas eleições gerais.

Artilharia para 2024

Para Ademir Ramos, cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Braga investirá em 2024, tanto na capital, quanto no interior, para criar condições à sua permanência no Poder.

“O Eduardo estará no jogo com certeza. No ano que vem, ele poderá vir para prefeito ou apoiar a Carol, e tudo isso já pensando nas eleições de 2026”, explicou.

Ramos falou, ainda, sobre a permanência de Plínio no Congresso, afirmando que ele está morto politicamente e que se formos às ruas perguntar das pessoas sobre o senador, elas não saberão dizer quem ele é.

Diante do cenário, o professor lembrou que uma terceira pessoa deverá aparecer para assumir o lugar de Valério. “Eduardo vem para Senado e ele deve vir com o Omar, sendo que Omar será candidato ao Governo. Essa dupla será uma dupla e tanto, o Wilson que se cuide. Será uma disputa ‘terrível’, frisou Ademir.

O cientista político enfatizou, também, que o processo para chegar ao pleito de 2026 passa por 2024, e, nesse sentido, envolve também a atual parceria de Lima e o prefeito David Almeida (Avante).

“Wilson é candidato ao Senado e, ao mesmo tempo, quer fazer o seu sucessor – e o seu sucessor natural é o vice-governador [Tadeu de Souza], mas temos que ver como ele (governador) irá se comportar, com quem vai marchar, se com o atual prefeito mesmo, ou com o Amom (Mandel), ou outro candidato. Como estará essa relação até o próximo ano? Tudo isso vai definir as eleições municipais e as gerais”, disse.

Ademir também lembrou que o cenário político local irá se desenhar, de fato, em março de 2024, quando acontece a abertura da chamada ‘janela partidária’, período de trinta dias em que os pré-candidatos podem trocar de partido sem perder o mandato por infidelidade partidária.

“O governador e o prefeito têm uma ação conjunta. O governador tem honrado o compromisso dele em relação a investimentos, e o David, por sua vez, está se comportando como ‘o bom bezerro é aquele que não berra’ – ele não fala nada e está trabalhando. Vamos ver como isso se sustenta”, opinou o professor.

Jogo político em construção

O Portal AM1 conversou também com Marcelo Seráfico, doutor em Ciências Sociais pela Ufam. Ele disse que os cenários plausíveis das próximas eleições dependem do resultado do jogo político, que ainda está em construção neste momento. Ele elencou alguns pontos que precisam ser considerados para se entender as tendências do cenário político amazonense.

Uma das considerações do sociólogo envolve a atual situação deste cenário, que, para ele, parece estar “bastante aberto”, ou seja, “nada definido”.

Seráfico considera que, observando o passado, dois fatores podem ser determinantes nas eleições majoritárias: o primeiro é pertencer ao grupo que controla a máquina pública e o segundo é ter grande popularidade ou ser identificado como alguém que representa nomes com grande apoio popular eleitoral.

“O futuro e o presente político, só podem ser entendidos a partir da observação do presente, isto é, dos conflitos, articulações e rearticulações entre os ‘grupos de poder’, entre os setores que dão norte ao debate nacional – e como isso se expressa localmente”, destacou o sociólogo.

Marcelo frisou, ainda, que será preciso conquistar os votos de eleitores identificados com as duas orientações predominantes nacionalmente – a do grupo chamado por ele de “profundamente reacionário” e outra que são de pessoas que aspiram por “mudanças progressistas”.

Sobre o futuro do senador Eduardo Braga, que não tem conquistado êxito em suas últimas disputas pelo poder na política local, o sociólogo lembrou que, no estado, a história mostra que é difícil se falar do fim de uma carreira política, principalmente de pessoas com longa trajetória.

“Houve quem imaginasse isso para Amazonino Mendes, por exemplo. O que se provou um equívoco, em dado momento, pela dificuldade de se forjarem novas lideranças”, pontuou.

Disputa pela Prefeitura

Na visão de Seráfico, os nomes que até o momento “agitam” o tabuleiro da política local são: David Almeida e Coronel Menezes. “Mas ainda falta muito tempo para saber em que medida as revelações sobre os quatro anos de extrema-direita no poder afetará as pretensões políticas de quem a ela se vinculou”, finalizou.

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