Manaus, 18 de maio de 2024
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Política

Da escravidão a palco político: como o 7 de setembro tornou-se molde da sociedade atual

Ao Portal AM1, o cientista político Helso Ribeiro fala sobre a história por trás do dia 7 de setembro e como a modernidade foi construída.

Da escravidão a palco político: como o 7 de setembro tornou-se molde da sociedade atual

(Foto: Portal AM1 / Celso Maia; José Cruz / Agência Brasil; Reprodução / Internet)

Manaus (AM) – “Independência ou Morte!” foi o grito que representou a autonomia do Brasil de Portugal após três séculos da Europa no comando do país sul-americano, com impostos exacerbados e leis autoritárias. A história por trás dessa “independência” do dia 7 de setembro moldou a modernidade e como os brasileiros identificaram sua identidade nacionalista. E para explorar mais essa questão, o Portal AM1 entrevistou o cientista político Helso Ribeiro.

O dia 7 de setembro de 1822 é celebrada anualmente em todo o país como um símbolo da luta pela liberdade e autonomia nacional. Os fatores que desencadearam a independência do Brasil foram motivadas por uma questão que move toda e qualquer nação: a economia.

Fator econômico

“Já tinha acontecido a independência dos Estados Unidos, a revolução francesa, a revolução industrial e já tinha alguns movimentos sociais insatisfeitos. Além disso, tinha uma questão economia forte. Muitos insatisfeitos com as cobranças exorbitantes de impostos da Corte Real de Portugal, e alguns se juntaram para ver se mudava alguma coisa”, disse Helso.

A Revolução Industrial iniciou na segunda metade do século XVIII, sendo um período de mudança econômica e tecnológica, pautou na introdução de máquinas movidas a vapor, o crescimento das fábricas e outras questões que movimentavam forte o capitalismo, e o Brasil no século XIX precisava de relações econômicas forte, já que não tinha devido ao sistema, ainda, escravagista.

Ao ser questionado sobre as dificuldades que o país sofreria após sua independência, principalmente nas relações exteriores, Helso Ribeiro ressalta que a escravidão era um grande problema, tendo em vista que, o Brasil foi um dos últimos países a aboli-la.

“O Brasil continuava sua economia com base da escravidão dos negros. Sem aquele grande guarda-chuva de Portugal que abria porta para o mundo a fora, o país, agora independente, enfrentou algumas dificuldades. Nós tinhamos matéria-prima, madeira, pedras preciosas e isso fazia com que a gente conseguisse se virar”, ressaltou o especialista.

A independência foi interesse de quem?

Dom João era o responsável pelo Brasil, mas morava em Portugal, e deixou seu filho, o então príncipe Dom Pedro I, para ser seus olhos no país tropical. No entanto, Dom Pedro I foi quem se “rebelou” contra o próprio pai e proclamou a independência do país, e assim, o Brasil virou um império tendo Pedro I como seu imperador.

O cientista político classifica que a independência “serviu de começo para que o poder permanecesse na mão de quem já estava, para manter as benesses familiares, da realeza”, e ainda classifica o ato como o ditador popular “apenas para inglês ver”, já que o rei era português e foi seu filho quem gritou independência, e se tornou imperador, ou seja, “ficou tudo em casa com a mesma família”.

Posteriormente, tinha uma classe emergente, uma classe burguesa começando a produzir, ou seja, não vai ter aquele sangue-suga de impostos sendo levados para Corte Real, o que deixou tudo limitado dentro do Brasil.

Identidade brasileira

A independência do Brasil não foi automaticamente reconhecida por outras nações. Foi um processo gradual, com Portugal relutando em aceitar a separação. No entanto, o apoio de potências estrangeiras, como a Grã-Bretanha, ajudou a consolidar a independência do Brasil.

Com isso, durante todo o século XIX, houve a formação de uma identidade brasileira, muito pautado em pensadores que trabalham a ideia da “Casa Grande e Senzala”, referência literária que separou significativamente as pessoas em classe e raça.

Apesar das problemáticas seculares que o Brasil enfrentou, e enfrenta com as desigualdades sociais, Helso Ribeiro consegue explicar como a população brasileira achou sua identidade, ao referir que “quando você fica muito no lugar, você pega simpatia pelo local, e assim, começou a nascer dentro do espírito de cada um, uma noção de nacionalismo”.

O 7 de setembro atualmente

Hoje, o 7 de setembro é celebrado com desfiles cívicos, eventos culturais e patriotismo em todo o Brasil. As cores verde e amarela da bandeira nacional se tornam ainda mais visíveis nas ruas, e é um dia de reflexão sobre a importância da independência e da soberania do país.

Helso Ribeiro classifica a data como uma marca de “soberania, um Brasil grande, vigoroso, rico em recursos naturais, podendo hoje sentar na mesa de negociações com boas partes dos países e negociar com equilíbrio”.

Apesar de não concordar com a imagem romantizada da independência do país, o especialista reconhece o importante papel que “os portugueses tiveram, um trabalho hercúleo para tornar o Brasil do tamanho que ele é hoje”.

Além de reconhecer o papel da data comemorativa, o cientista político ressaltou como nos últimos anos o dia 7 de setembro tem se tornado palanque político para algumas figuras brasileiras, já que “a política tenta sempre se apropriar de datas que servem para ela de alguma forma”.

“Alguns tentam colocar um patriotismo exacerbado, alguns tentam minimzar isso. É bom lembrar que o Brasil faz parte de várias organizações integrativas e eu penso que a construção de uma nova sociedade é irmanada com outras, e nada de superioridade de nacionalista, que isso vira quase um nazifascismo. Então é interessante que o Brasil também saiba que o desenvolvimento dele é caucado nas melhores relações que ele tem com seus irmãos”.

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