Manaus, 26 de abril de 2024
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Cidades

Covid-19: na marca dos 12.136 mortos, vale mudar a prioridade das vacinas no AM?

No Amazonas, onde mais de 12 mil pessoas morreram com a doença, mudanças já começaram a ocorrer com a antecipação da vacinação dos agentes da segurança pública

Covid-19: na marca dos 12.136 mortos, vale mudar a prioridade das vacinas no AM?

(Foto: Divulgação/ Secom)

MANAUS, AM – Após o governo de São Paulo anunciar a antecipação da vacinação de agentes da segurança pública e profissionais da Educação, vários estados começaram a mudar o plano de vacinação.

No Amazonas, onde 12.107 pessoas morreram com a doença, essas mudanças já começaram a ocorrer, todavia, segundo os especialistas não são garantia de segurança, sobretudo para a área da Educação.

“Aqui no Amazonas, eu não sei até que ponto a antecipação da vacinação, com a priorização dos professores, levaria a uma segurança maior ao corpo docente”, disse o médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT-HVD) e professor de medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Maurício Borborema.

Segundo ele, a pequena quantidade de vacinas disponíveis no mercado e a falta de diretrizes gerais do Ministério da Educação (ME) são alguns pontos que atrapalham a eficácia da vacinação antecipada desse grupo, principalmente, se ela for seguida do retorno das aulas presenciais.

Leia também: Médicos do AM ainda divergem sobre ‘kit covid’ após um ano de pandemia

O governador do Amazonas, Wilson Lima, recebeu, na madrugada de quarta-feira (03/03), no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, mais 62.800 doses de vacinas contra a Covid-19 do tipo CoronaVac, do Instituto Butantan. Foto : Diego Peres / Secom

“O ME é omisso durante essa epidemia, cada estado faz como quer, cada município, e é muito importante levar em consideração que isso vai ter um impacto na vida crianças dos adolescente. […] Quando começarem as aulas vai aumentar sobremaneira a transmissão, isso é fato. Porque as pessoas usam o transporte público, porque se  aumenta a movimentação, aumenta a aglomeração, isso tem consequências terríveis”, completou.

Para o epidemiologista e pesquisador Jesem Orellana, do Instituto Leônidas e Maria Deani (ILMD/ Fiocruz/ Amazônia), a vacinação dos agentes de segurança e profissionais da educação é essencial, porém, ele também defende que tudo dependerá da quantidade de vacinas disponíveis e de como o plano será aplicado.

“A questão é saber se as doses estão disponíveis para todos e em quanto tempo essa etapa será concluída. Por exemplo, seria pouco inteligente vacinar um professor da rede estadual, dias ou semanas depois do retorno às aulas presenciais e assumindo que ele foi exposto ao novo coronavírus, após o retorno à sala de aula”, disse.

Mudanças no Plano de Vacinação

No último dia 28 de março, o Amazonas começou a vacinar os profissionais da área da segurança pública. As doses destinadas para a imunização dos agentes são de uma reserva técnica do Plano Nacional de Imunização (PNI).

Além disso, o governador Wilson Lima, em carta assinada com os oito governadores que fazem parte do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, solicitou ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a revisão do Plano Nacional de Imunização (PNI) e inclusão dos profissionais da Educação como grupo prioritário no PNI.

Foto: Diego Peres/Secom.

Plano nacional

A situação é dificultada pela falta de uma política federal clara, dizem os especialistas. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal pediu esclarecimentos ao Ministério da Saúde, a respeito dos critérios para definir grupos de prioridade das vacinas, diante de diversas denúncias de que, na ausência de diretrizes concretas a Estados e municípios, estava ocorrendo a vacinação de pessoas que não eram de grupo de risco nem estavam sob perigo elevado de contrair o novo coronavírus.

Em nota técnica de resposta, o Ministério listou as categorias prioritárias e afirmou que, “considerando que alguns grupos prioritários possuem grande volume populacional, faz-se necessário prever prioridades dentro desses estratos populacionais (‘prioridade dentro da prioridade’)”.

O Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a covid-19, feito pelo governo federal, elencou os seguintes grupos, nesta ordem, como prioritários à vacina:

– pessoas com 60 anos ou mais e pessoas com deficiência institucionalizadas;

– povos indígenas vivendo em terras indígenas;

– trabalhadores de saúde;

– pessoas de 75 anos ou mais;

– povos e comunidades tradicionais ribeirinhas e quilombolas;

– pessoas de 60 a 74 anos;

– pessoas com comorbidades;

– pessoas com deficiência permanente grave;

– pessoas em situação de rua;

– população privada de liberdade e funcionários do sistema carcerário;

– trabalhadores da educação do ensino básico (creche, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e EJA);

– trabalhadores do ensino superior;

– forças de segurança e salvamento;

– Forças Armadas;

– trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros, metroviário e ferroviário, aéreo e aquaviário;

– caminhoneiros;

– trabalhadores portuários e industriais.

Estados e municípios, entretanto, têm tido flexibilidade para ajustar a vacinação conforme a disponibilidade de doses e as necessidades locais.

No início de março, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, chegou a comemorar como uma “vitória da educação brasileira” o pedido ao Ministério da Saúde pela inclusão de professores entre os grupos prioritários, mas, até agora, a medida não teve efeitos práticos – como mostra a lista acima do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, não constam mudanças no status de educadores na ordem dos grupos prioritários.

Na Câmara, ao menos dois projetos de lei em tramitação pedem a inclusão de professores entre os prioritários.

Em linhas gerais, a lista do Ministério da Saúde segue as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que orienta que “quando os suprimentos de vacina estão severamente reduzidos, (…) justifica-se um foco na redução direta da morbidade e mortalidade e na manutenção dos serviços mais essenciais, ao mesmo tempo em que considerando-se reciprocidade a grupos colocados sob riscos desproporcionais (como trabalhadores da saúde).”

À medida que mais doses chegarem, “a estratégia se expande para reduzir a transmissão para conter as perturbações às atividades socioeconômicas.”

Mas a OMS faz a ressalva de que devem ser priorizados, também, locais “com alta transmissão ou onde se antecipa que haverá alta transmissão”.

O problema é que esse é o caso da maior parte do Brasil neste momento. É o sinal de que “já passou a chance de ter feito qualquer bloqueio de transmissão” comunitária, diz Pinto Andrade, “mostrando a completa ausência de análise epidemiológica” por parte do governo federal.

*Com informações da BBC Brasil