Manaus, 28 de abril de 2024
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Cidades

Cultos e celebrações podem aumentar contaminações por covid-19? Entenda

De acordo com especialista, as atenções para a imunização no estado estão voltadas para os idosos, por isso a preocupação com pessoas mais jovens deve ser redobrada em igrejas

Cultos e celebrações podem aumentar contaminações por covid-19? Entenda

Foto: Márcio Silva

MANAUS, AM – Fase laranja de contaminação no Amazonas abre um alerta para infectologistas a respeito de cultos e celebrações em igrejas da capital. Em Manaus, a realização de cultos evangélicos retornou em janeiro. Já as celebrações de missas retornaram em março, todas com medidas de saúde e com público reduzido em até 30%. Os fiéis e representantes religiosos defendem as reuniões como fator importante para a fé, já os cientistas alertam sobre o risco de uma terceira onda no Estado.

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No dia 05 de janeiro, 12 líderes evangélicos e representantes de igrejas na capital tiveram um encontro com o prefeito David Almeida, na sede da prefeitura, onde debateram sobre normas para o retorno dos cultos em Manaus, levando em consideração medidas rigorosas de higiene nas igrejas. O Amazonas1 conversou com o presidente da Ordem dos ministros e Líderes Evangélicos do Amazonas (Omeam), sobre como está sendo realizada as celebrações em Manaus.

Segundo Valter Bezerra, a igreja tem sido uma aliada das pessoas nessa pandemia, tendo a função de acolher a população, principalmente de maneira psicológica, com um acompanhamento de líderes e pastores. O representante garante que todas as determinações estão sendo atendidas, desde aplicação de álcool em gel nas igrejas, até medidores de temperatura.

“A igreja tem sido uma aliada das pessoas nessa pandemia. Sabemos que todos perdemos alguém para o coronavírus e estamos acolhendo aqueles que estão passando por esses momentos. Muitos estão deprimidos e a nossa função é acolher e abençoar nossos irmãos. Estamos fazendo isso com todas as determinações estabelecidas, como o uso do álcool em gel, o uso obrigatório de máscara, uso de copos individuais e também temos medidores de temperatura na entrada”, explica.

Valter diz que a atuação da igreja na pandemia é trabalhar para o bem-estar das pessoas. Ele ressalta que a população precisa estar bem fisicamente e espiritualmente para enfrentar o cenário de crise na capital.

“Temos essa imensa responsabilidade. Não estamos indo contra decretos, é ao contrário. Estamos trabalhando para o bem-estar físico das pessoas. O trabalho foca no físico, no mental e no lado espiritual. Queremos ver todos bem e trabalhando. Temos muita esperança agora com as vacinas, além disso estamos com redução de até 40% de pessoas nos cultos”, declara.

Missas em igrejas

Pela igreja católica, a arquidiocese de Manaus emitiu no dia 12 de março orientações sobre o retorno das missas em igrejas da capital. O arcebispo Leonardo Steiner explica, por meio de nota oficial, que além das medidas de saúde já conhecidas, como uso de máscaras e álcool em gel, o público estaria reduzido a 30%.

“Nas igrejas e capelas com espaços pequenos recomenda-se que se realizem as celebrações fora do templo ou se busquem alternativas em outros espaços comunitários mais amplos e com condições de arejamento (associações de moradores, quadras esportivas, escolas, etc)”, declara.

Foto: Márcio Silva

Nessa última segunda-feira (05), o arcebispo voltou a reafirma as recomendações em entrevista à rádio Riomar.

“O que vemos hoje é que demos o passo certo. No momento mais difícil da pandemia, resolvemos suspender celebrações presenciais. Agora, retomamos na Páscoa a celebração presencial com todas as medidas necessárias e redução de público. Nós sempre ressaltamos que a pandemia não passou e todo cuidado é pouc0. O vírus existe sim e famílias só tem acreditado nisso quando perdem um familiar e isso é muito dolorido”, declara Dom Leonardo.

Em outro momento, Steiner comenta sobre a decisão do STF no último fim de semana, onde o ministro Kassio Nunes liberou a celebração de cultos e missas em todo Brasil. A decisão foi derrubada pelo ministro Gilmar Mendes já na segunda-feira (05), que estabeleceu novamente o veto.

“Sabe, não podemos tratar decretos governamentais como vetos religiosos. A situação do Amazonas é uma, mas não significa que a de Belo Horizonte é a mesma. Cada estado vive a pandemia de uma forma e nós fiéis continuamos exercendo nossa fé, mas de maneiras diferentes”, finaliza.

Índice de circulação viral

A infectologista Ana Galdina é sucinta na explicação de duas coisas sobre o assunto. Primeiro: o cuidado primordial com contaminações deve ser com as pessoas mais jovens, pois estão mais propícias a transmitirem a doença. Em segundo lugar, é necessário entender que a vacina não impede a contaminação por covid-19 e sim inibe o caso agressivo da doença.

“Nós analisamos aqui no estado o índice de circulação viral na comunidade. Esse índice no Amazonas está em 0,92, o que indica que de 100 pessoas contaminadas, outras 92 podem ser contaminadas por elas. Isso significa que a circulação viral ainda é alta, então a partir do momento que temos essa circulação viral e colocamos essa comunidade em situações em que o vírus está circulando, temos a real possibilidade de aumentar o número de casos”, inicia a especialista.

De acordo com a especialista, as atenções para a imunização no Estado, estão voltadas para os idosos, por isso a preocupação com pessoas mais jovens deve ser redobrada. Ana também comenta que a maneira como o vírus se manifesta no Amazonas é similar com a da Europa, que sofre com o retorno agressivo do vírus.

“O que eu tenho que levar em consideração? O que deve ser levado em consideração é que hoje, em Manaus, as pessoas mais susceptíveis são os jovens.  Devemos lembrar também que as vacinas não garantem o não adoecimento, mas ajudam a evitar os casos agressivos da covid-19. Diante de tudo isso, pessoas em cultos, igrejas, trazem a real possibilidade de aumentar o número de casos. Eu sempre digo que devemos observar o Amazonas da mesma maneira que a Europa. A gente consegue ver uma similaridade porque a Europa também sofre com novas ondas, por isso posso dizer que devemos ter preocupação”, finaliza.

Foto: Márcio Silva

A FVS

Segundo o último boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), na última segunda-feira (5), foram diagnosticados 704 novos casos de covid-19, totalizando 352.976 casos da doença no Estado. De acordo o boletim, foram confirmados 35 óbitos por Covid-19 e o Amazonas se encontra na fase laranja, que corresponde à classificação de risco moderado para transmissão de Covid-19.