Manaus, 11 de maio de 2024
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Economia

Desempregados na covid-19: músicos amazonenses relatam drama vivido na pandemia

Entre as classes que mais sofreram com a crise econômica, está a dos músicos, uma vez que bares, restaurantes e casas de shows ficaram fechados desde o início da pandemia

Desempregados na covid-19: músicos amazonenses relatam drama vivido na pandemia

Foto: Edhu Oliveira/AdrianoViola/Allan Nascimento/Victor Veras

MANAUS – A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus, que já dura um ano no Brasil, aumentou ainda mais a taxa dos desempregados no país, chegando a 13,5% no ano passado, superando 2019, com 11,9%. A média já é a maior da última década.

De acordo com a pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no último dia 10, a taxa de desemprego no Amazonas ficou em 15,8%.

Entre as classes que mais sofreram com a crise econômica, está a dos músicos, uma vez que bares, restaurantes e casas de shows ficaram fechadas desde o início da pandemia e muitos deles tiveram que se “virar nos 30” para manter ao menos o alimento dentro de suas casas.

O cantor Eduardo de Oliveira Soares, mais conhecido artisticamente como Edhu Oliveira, está no ramo profissionalmente desde 2007, e foi uma das pessoas que ficaram desempregadas nesse período e teve que vender seus equipamentos, entre eles: caixas de sons, microfones sem fio, iluminação, fumaça, laser e outros) para sobreviver à covid-19 e à fome.

Edhu está vendendo café da manhã para ajudar no sustento de sua família. “Eu tive um café da manhã antes e tive que entregar o ponto. Hoje, voltei novamente ao café da manhã e estou trabalhando com delivery, mas não é a mesma coisa, pois está fraco.

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O músico disse que na primeira fase da pandemia conseguiu receber o auxílio emergencial, mas nessa segunda faze, como ele disse “apertou o sapato”. Ele contou que as refeições diárias estão sendo à base de salsicha, linguiça e ovo.

“Nessa segunda ‘leva’, eu não tive ajuda, não teve o auxílio, mas graças a Deus alguns amigos conseguiram ranchos (risos) e foi o que nos ajudou a sobreviver. Chegamos a um ponto de nos desesperarmos, minha mulher até hoje está perdendo cabelo, devido às preocupações, com o que vamos comer amanhã, contas para pagar e, inclusive faz tempo que a gente não come uma carne. Esses dias comprei um pacote de salsicha, linguiça e ovo, é isso que estamos comendo todo dia, mas já está acabando”, disse o cantor.

“Eu voltando a cantar tudo melhora. Graças a Deus a música é muito boa para mim, ganho bem quando estou cantando nos estabelecimentos”, finalizou Edhu Oliveira.

Edhu Oliveira_músico

Outro músico experiente, que já está na estrada há 20 anos, é Adriano Torres, que disse que acredita em Deus e que não se desesperou pela situação.

Adriano é do Paraná e veio para Manaus há mais de 14 anos, com uma banda de country. O cantor conta que, mesmo sem receber auxílios, recebeu  ajuda de amigos e empresários.

“Não recebi auxílio nenhum, mas estou tendo ajuda de amigos e empresários que sempre estão com a gente por aí. Graças a Deus, eu não fui infectado por essa doença”, contou .

Adriano Viola_músico

Ele disse, ainda, que não se desespera com a situação da pandemia e que espera, em breve, o retorno aos palcos e shows. “Desesperado jamais! Quem não tem pelo menos um pouquinho de fé em Deus é que cai no desespero, acho que isso é mais psicológico.

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Allan Nascimento, mais conhecido como o gari cantor, saiu do funcionalismo público para tentar o cargo de vereador no ano, mas não foi eleito. Ele acreditava que a música supriria suas necessidades, sustentá-lo, coisa que não aconteceu devido à 2ª onda da covid-19, e teve que vender parte dos seus equipamentos.

“Eu continuo desempregado, infelizmente. Eu era funcionário público e fui concorrer às eleições ano passado e pedi minha conta. E como eu tinha a música, e mesmo que eu perdesse, eu iria viver bem por conta da música, mas não aconteceu”, disse ele.

Allan, que é músico profissional desde 2006, disse que para sobreviver desde agosto, teve que vender 90% dos equipamentos, pois não conseguiu aprovação nos auxílios emergenciais federal, estadual e municipal.

Allan Nascimento_músico_gari_ cantor

“Eu me cadastrei em todos os auxílios, mas infelizmente em nenhum deles eu  fui aprovado. Não sei por que, pois não tenho mais renda, nem do funcionalismo público e nem da música. Tive que vender quase todos os meus equipamentos”, relata Allan.

Jornalista de formação, mas também músico que tocava nos bares da noite, Victor Veras disse que está sendo bem difícil essa pandemia, nas duas áreas.

“Tem sido um pouco difícil, na verdade muito difícil. Como músico, que tocava nos bares da noite, mas deixei para buscar outras fontes de renda, tenho tocado só na igreja e em eventos cristãos, mas profissionalmente, eu não toco mais. Para gente que é músico e depende de aglomerações não tem jeito. E como jornalista, até em alguns lugares que já tive oportunidade de trabalhar, muitos até demitiram”, relata Victor.

Na área de eventos, Victor também fazia “freelas” como apresentador, locutor e cerimonialista, mas como está tudo parado, ele não consegue oportunidade.

Victor Veras_músico

“Passei por muitas coisas ruins, porque meu pai pegou covid-19 em janeiro e, muito doente, então não tive outra opção a não ser cuidar dele, mas tivemos muita ajuda de muitas pessoas das denominações católicas e evangélicas, com recursos, cilindros de oxigênio, cestas básicas. Meu cunhado também ficou doente no mesmo período, foi algo tenebroso.

Victor conta que tem se virado com serviços de transporte, mas que não supre suas necessidades diárias. “Tenho sido motorista algumas vezes, mas só consigo de R$ 20 A R$ 30, por dia, mas eu creio que pode ter melhoras, embora vamos ficar muito tempo precavidos e seguros, ou melhor, inseguros também, com muitas coisas e pessoas que são imprudentes, mas creio que vai melhorar e eu oro a Deus para que isso aconteça!”, finaliza.