Manaus, 23 de abril de 2024
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Manaus, 23 de abril de 2024

Política

Do sindicato à prisão, Lula tenta voltar ao poder no país polarizado

Depois de denúncias de corrupção e ser preso, o ex-presidente Lula retorna ao cenário político para tentar derrotar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições em outubro

Do sindicato à prisão, Lula tenta voltar ao poder no país polarizado

Foto: Reprodução/YouTube

Manaus – Após uma série de denúncias, passar pela prisão e ver o partido ser derrotado depois de permanecer no poder por mais de 10 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retorna ao cenário eleitoral com o intuito de derrotar o principal rival nessas eleições: o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). O Portal AM1 começa nesta terça-feira uma série sobre os presidenciáveis que estarão na disputa, começando pelo petista, duas vezes presidente do Brasil e líder das pesquisas: Luiz Inácio Lula da Silva.

A polarização acerca da “batalha” entre Lula e Bolsonaro tem ganhado um destaque cada vez maior enquanto as eleições se aproximam, e deixado de lado pré-candidatos que tentam se sobressair de ambos. Apesar da guerra declarada, Lula tem aparecido na frente nas pesquisas de intenções de votos com chance de vencer a disputa ainda no primeiro turno.

Foto: Divulgação

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Porém, mesmo após denúncias de corrupção e um governo alvo de operações da Polícia Federal, os brasileiros ainda acham que é possível colocar o poder do Brasil nas mãos do petista.

Foto: Ricardo Stuckert / PT

Carreira sindical

O primeiro passo para o ex-presidente Lula se tornar uma figura política importante foi liderando o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, durante o período da Ditadura Militar. Em abril de 1980, Lula foi preso por ser um dos líderes de uma greve de trabalhadores, passando 31 dias na cadeia e ficando em greve de fome por seis dias na carceragem do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), enquadrado na Lei de Segurança Nacional.

Nascido em Caetés, Lula, os seis irmãos e a mãe, Dona Lindu, o garoto de sete anos que se tornaria presidente do Brasil anos mais tarde se mudou para Santos em busca de uma melhor condição de vida. São Paulo se tornou a moradia da família de Lula anos depois, onde dividiu uma casa com outras famílias.

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Quando ganhou notoriedade como líder sindical, Lula afirmava que detestava política e quem gostava de política. No entanto, oito anos depois, o discurso do nordestino mudou pela primeira vez após fazer campanha pelo então professor universitário Fernando Henrique Cardoso que concorria ao Senado Federal.

Foto: Arquivo / PT

O petista foi ganhando ainda mais espaço na imprensa ao ser procurado por jornalistas para opinar sobre assuntos políticos. No fim dos anos 70, Lula participou de reuniões com políticos e ativistas de esquerda interessados em criar um novo partido político, que se tornaria o Partido dos Trabalhadores em fevereiro de 1982.

No mesmo ano, o homem que não gostava de política se candidatou pela primeira vez e concorreu ao Governo de São Paulo, amargando na quarta colocação com 10,77% dos votos.

Vida política

Em 1986, no que seria a maior votação da história naquele momento, Lula conseguiu a primeira vitória na carreira política, como deputado federal constituinte. Após isso, o petista começou a jornada para tentar conquistar a cadeira presidencial. Em 1989, ele conseguiu chegar ao segundo turno contra Fernando Collor de Mello, eleito por 35 milhões de votos, contra 31 milhões de votos do petista.

Após a crise no governo Collor, além de ser o primeiro presidente a sofrer impeachment na história, Lula voltou a concorrer às eleições de 1994, mas novamente foi derrotado. Naquele ano, Fernando Henrique Cardoso venceu a disputa logo no primeiro turno, com mais de 54% dos votos válidos, deixando o petista novamente na segunda posição.

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Nas eleições de 1998, com a aprovação de uma proposta de emenda constitucional que autorizou a possibilidade de reeleição a ocupantes de cargos dos Executivos municipal, estadual e federal, FHC foi o primeiro presidente a ser reeleito democraticamente no primeiro turno, com mais de 53% dos votos. Batendo na trave pela terceira vez, Lula ficou na segunda posição com 31% dos votos, e Ciro Gomes em terceiro com 10,97%.

Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

Com reforço e uma estratégia eleitoral, Lula construiu uma imagem de um político moderado para disputar as eleições de 2002. ‘Lulinha Paz e Amor’ disparou ainda no primeiro turno, com 46% dos votos, contra José Serra, que obteve 23% dos votos.

Já no segundo turno, o petista obteve apoio dos rivais na disputa, Anthony Garotinho e Ciro Gomes, e Lula venceu a eleição com a maior votação percentual de um candidato à presidência na história, com 61,27% dos votos.

Escândalos como presidente

Durante o primeiro mandato, Lula não teve apoio de boa parte dos partidos de centro. Um dos primeiros escândalos que vieram à tona no governo Lula foi apontado em 2005, pelo então deputado Roberto Jefferson, em que afirmou que o governo federal pagava mesadas de R$ 30 mil para que os deputados da base aliada votassem conforme os interesses do governo, que ficou conhecido depois como o ‘Mensalão’.

O caso seria julgada pelo Supremo Tribunal Federal a partir de 2012, e reuniu mais de 50 mil páginas. No entanto, o então presidente Lula não foi réu no e declarou que não sabia de nada. Mesmo com o escândalo do Mensalão nas costas, Lula decidiu concorrer à reeleição em 2006.

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Na disputa, Lula foi acusado de ser “chefe de quadrilha” pelo rival Geraldo Alckmin, a quem viria a concorrer como vice-presidente ao lado do mesmo nas eleições de 2022. Na época, Lula se recusava a participar de debates políticos, o que abriu uma brecha para a oposição chamá-lo de “fujão” e “covarde”.

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Foto: Reprodução

Mesmo com denúncias sendo feitas contra o PT, Lula conseguiu o segundo mandato, mas precisou levar as eleições para o segundo turno, quando venceu com 60,83% dos votos válidos. O segundo colocado foi Alckmin, que obteve 41,64% dos votos.

Sem ter a chance de ter um novo mandato como presidente, Lula batalhou para passar o trono para alguém do PT, e escolheu Dilma Rousseff para assumir a presidência, em 2010, firmando aliança com o PMDB e escolhendo Michel Temer para o desafio.

Prisão

Depois que saiu do governo, Lula foi alvo de diversas investigações por corrupção. O Mensalão foi a ponta do iceberg, e alguns dirigentes do PT confessaram o esquema para o STF. A tentativa de eleger Dilma não foi fácil, uma vez que a imprensa foi divulgando indícios de enriquecimento ilícito dentro do governo federal, durante o governo Lula.

Em 2014, o juiz federal Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou as primeiras fases da Operação Lava Jato, que prendeu dirigentes da Petrobras, políticos, operadores de lavagem de dinheiro e empresários.

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Foto: reprodução

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Naquele mesmo ano, alas do PT pediram que Lula concorresse à presidência no de Dilma Rousseff, que buscaria a reeleição. No entanto, Lula apoiou a candidatura de Dilma, que enfrentou a campanha mais disputada desde a redemocratização, sendo reeleita com 51,64% dos votos válidos no segundo turno, contra 48,36% para Aécio Neves, que chegou a liderar no início da apuração.

Foto: Agência Brasil

Após as descobertas de corrupção dentro do governo, Moro condenou Lula a nove anos de prisão em julho de 2017. Em janeiro do ano seguinte, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região referendou a decisão e aumentou a pena para 12 anos de prisão.

Em 2018, o STF julgou o processo de um habeas corpus preventivo de Lula, que foi negado, e Lula foi preso em abril do mesmo ano. Com a nova decisão, o PT colocou o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad para substituir o petista nas eleições daquele ano, o qual foi derrotado pelo presidente Bolsonaro.

Depois de todos os escândalos, Lula retorna aos holofotes como o pré-candidato favorito, como apontam as pesquisas. O petista aparece na liderança nos principais levantamentos realizados, enquanto Bolsonaro fica estancado na segunda posição.

Para o bem do Brasil e do Amazonas

Com o Amazonas inserido na agenda oficial, o ex-presidente Lula vem ao Estado no próximo dia 29, conforme anunciou o deputado federal Zé Ricardo (PT). O parlamentar conversou com o Portal AM1 sobre os motivos que fazem com que Lula seja uma boa oposição para os eleitores e, de acordo com ele, a candidatura do petista significa uma esperança aos brasileiros.

“Ele demonstrou nos governos dele que ele sabe administrar, que ele prioriza a população que mais precisa. Foi o Lula que enfrentou a pobreza, a fome. Lula e Dilma conseguiram tirar o Brasil do mapa da fome, e o presidente atual pelo contrário”, disse.

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De acordo com ele, um novo mandato de Lula traria benefícios ao Amazonas, como foi nos governos passados, assim como o Brasil, para que o país volte a ter crescimento econômico, desenvolvimento social, inclusão social e mais oportunidades para os pobres. “O Amazonas vai ser muito beneficiado, como foi nos mandatos anteriores do Lula. Como diz o Lula: ‘vamos fazer mais e melhor’. Então, o Amazonas vai ganhar, o povo do Amazonas vai ganhar”, comentou.

Foto: Reprodução / Instagram

De acordo com o deputado, a visita de Lula ao Amazonas será para conversar com o povo amazonense, uma vez que fez investimentos no Estado. “O Lula só trouxe progressos, boas notícias e condições de vida melhor para a população do Amazonas. Bolsonaro, por sua vez, vem aqui para passear de moto e acompanhar eventos religiosos. Nenhuma das vezes ele trouxe, realmente, investimentos”, alfinetou.

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Mesmo com um apoio grande de amazonenses, Zé Ricardo pontuou que Bolsonaro não é bem-vindo no Amazonas. “Se essa pessoa ainda apoia o Bolsonaro, não sei qual é a razão. O que falta para essa pessoa perceber, cair na real e ver que nesse momento, o caminho melhor é o Lula”, declarou.

Ainda de acordo com Zé Ricardo, os apoiadores de Bolsonaro estão “desesperados”, pois, “com certeza” Lula vai vencer as eleições deste ano. “Ele que tem tanto carinho com o Amazonas, com Manaus e com certeza vai ganhar as eleições, essa é uma preocupação dos apoiadores do Bolsonaro, eles estão desesperados. […]. O povo já está vendo isso e quer o Lula, por isso que nas pesquisas o Lula está na frente”, afirmou.

Só saberemos se isso é verdade em outubro.